Martinho Júnior, Luanda
OS ASPECTOS FÍSICOS (OROGRÁFICOS
E HIDROGRÁFICOS) DE ANGOLA
Relativamente aos aspectos
físico-ambientais, há questões básicas a avaliar, que se prendem com as
características orográficas e hidrográficas do espaço nacional.
Sob o ponto de vista orográfico,
animando um corte transversal do território seguindo a linha dos paralelos
verifica-se:
- A oeste e ao longo de toda a
costa atlântica, uma planície costeira com uma largura entre 20 a 200 km; a
planície é mais larga entre Luanda e o Dondo, na fase terminal do curso do rio
Quanza; torna-se mais estreita na Canjala (monte Ulombe);
- Imediatamente a leste da
planície do litoral ocorre uma cadeia montanhosa em paralelo à costa, que vai
desde a serra da Canda e de Mucaba, a norte, até à serra da Chela, a sul; essa
cadeia alarga-se entre Monte Belo (Província de Benguela) e o Huambo, tendo
como maior montanha junto do litoral e próximo da Canjala, a 50km em linha
recta da praia, o monte Ulombe, com uma altitude acima dos 2.000m; é nessa
região que existe a maior montanha de Angola, na área de Luimbale, o monte Moco
(2.620m); a maior largura da cadeia montanhosa ocupa precisamente uma parte
substancial a leste, no triângulo de maior ocupação populacional;
- Para leste dessa cadeia
montanhosa e até à fronteira leste, um planalto que a oeste tem uma altitude média
de 1.400m, que desce suavemente até aos 1.100m junto às fronteiras do leste;
nesse planalto há cortes que chegam aos 900m de altitude, provocados pela
erosão das correntes dos rios; no saliente do Cazombo há uma pequena cadeia
montanhosa que rompe com o planalto, elevando-se a cerca de 1.400m de altitude;
- O triângulo ocidental, onde
existe a maior densidade populacional e uma rede político-adminitrativa de
malha mais apertada, tem por vezes um habitat disperso nas áreas montanhosas:
isso deve-se ao facto de haver possibilidades de produção agrícola e pecuária
sem ser necessário o regadio, uma vez que há precipitações elevadas de chuva.
As condições orográficas,
influindo nas condições ambientais, no regime de chuvas e na qualidade dos
solos, estão na base da atracção da população para as áreas rurais ao longo dos
séculos.
Foi também nesse triângulo que
ocorreram alguns dos maiores focos de resistência à penetração colonial a
partir do litoral, entre eles os Dembos, a menos de 100km em linha recta a
leste de Luanda; de salientar que a resistência dos Dembos perdurou até finais
de 1919!
Sob o ponto de vista hidrográfico
e tendo em conta os aspectos geográficos e orográficos, verifica-se:
- Que é na vasta região central
do país (planalto do Bié) onde se verificam as nascentes dos principais rios,
tanto os de curso independente que fluem para oeste, quanto os tributários de
longo curso que fluem para todos os pontos cardeais e colaterais;
- Que desse modo se podem
formular as cinco vertentes hidrográficas já antes referenciadas, que quase
coincidem com os quatro triângulos que ocorrem no espaço do quadrado nacional
(com a excepção de Cabinda);
- Que desse modo ainda se devem
planificar as geo-estratégias ambientais, um dos fundamentos para a
planificação geo estratégica integrada nos termos da economia real com base nos
recursos.
Para a planificação ambiental é
necessário uma revisão dos critérios de formação de Parques Nacionais, Reservas
e Coutadas.
A planificação ambiental, tendo
em conta a vitalidade que é a água e os fenómenos que a ela se prendem, deve no
território continental obedecer ao seguinte critério:
- Parques, Reservas e Coutadas a
criar na Região Central das Grandes Nascentes, protegendo os eco-sistemas e a
biodiversidade que ocorrem em cada uma das nascentes dos rios principais (não
há área de protecção e controlo algum nas nascentes dos rios principais); entre
os rios principais cujas nascentes devem ser protegidas estão o Cuanza, o
Cunene, o Cubango, o Cuando, o Lungué-Bungo, o Cassai e o Cuango; área fulcral
A;
- Parques Nacionais, Reservas e
Coutadas a distribuir ao longo do curso intermédio dos rios; existem algumas
medidas de longa data nesta área, entre elas a Reserva Integral do Luando e o
Parque Nacional de Cangandala, como exemplos; área periférica B;
- Parques Nacionais, Reservas e
Coutadas a distribuir nos pontos terminais dos rios e território; existem
iniciativas correntes em fase de implementação, como a Iniciativa Maiombe e os
Parques Nacionais do Luengue-Mavinga e Luiana, ou ainda o Parque Nacional da
Quiçama, entre outros exemplos; área de periferia C.
A questão que se coloca neste
momento com toda a lógica, dez anos depois do início de ausência de tiros em
todo o espaço nacional, é: como se está a assumir o controlo ambiental
transfronteiriço, que envolve cursos de água essenciais para a vida (caso do
sudeste angolano), quando não se controlam os ambientes nas grandes nascentes,
raízes da água e fontes da vida?
Outra questão importante a não
perder é que a planificação ambiental estimulará as medidas de protecção
tirando partido dos recursos vitais no território continental (a água
interior).
A planificação nesses termos será
essencial para que o Ministério do Ambiente possa estimular as Universidades e
os Institutos Superiores de Investigação, atraindo-os através de Protocolos e
Acordos para a investigação multi disciplinar científica, para prover o
conhecimento e a inteligência dos recursos em todo o espaço nacional seguindo
os percursos hidrográficos desde as grandes nascentes (A), passando pelos
percursos intermédios (B) e chegando por fim à grande periferia (C).
Esse esforço deverá englobar
conhecimentos que existem desde o passado em Portugal, mas também atrair as
escolas superiores latino-americanas, entre elas as de Cuba e Venezuela,
levando em consideração os seus avanços em relação às questões de investigação
ambiental, sobre a biodiversidade e sobre os estudos dos rios e de águas
interiores.
Voltando ao triângulo oeste que
comporta todos os principais rios independentes (que desembocam no Atlântico),
o maior deles de curso inteiramente nacional, o Cuanza, rios que sofrem os
efeitos do acidentado do terreno, entre as suas nascentes e a planície
costeira, salientem-se as enormes potenciais hidroeléctricos e de irrigação.
Em muitos deles há corredeiras e
gargantas rochosas, que possibilitam a construção de barragens hidroeléctricas;
destaque-se a corredeira do Salto do Cavalo no Cuanza, um rio onde há a
possibilidade de, no seu curso médio, se construírem sete barragens (daí a
existência do Gabinete do Médio Kwanza); apenas duas estão construídas: a de
Capanda (a mais recente) e a de Cambambe.
Além do Cuanza, outros rios
oferecem essas possibilidades havendo barragens hidroeléctricas no Dande
(Mabubas), Catumbela (Biópio) e Cunene (Gove e Matala).
Praticamente essa engenharia está
no espaço do triângulo oeste do litoral, ou na sua periferia próxima, pelo que
a implantação de pólos de desenvolvimento nesse espaço ficou muito mais
atractiva, constituindo um incentivo à construção da identidade nacional (essa
engenharia está muito longe das fronteiras).
A definição dos triângulos não
pretende fundamentar conceitos estruturalistas, pelo contrário: eles devem ser
estudados não só em função dos recursos existentes em cada um deles, mas no seu
inter-relacionamento, de forma a melhor definir os programas e cronogramas de
acção a curto, médio, longo e muito longo prazos, sem esquecer o que constituem
áreas de ocupação e o que constituem áreas de intervenção.
Nesse aspecto é evidente que o
triângulo ocidental beneficia do facto da sua base coincidir com a linha da
costa atlântica, ou seja, que os recursos existentes se estendam para oeste,
mar adentro, no sentido das 12 milhas das águas territoriais, das 24 milhas da
zona contígua e das 200 milhas da zona económica exclusiva.
A compreensão das potencialidades
deste triângulo passa pelo inventário científico dos seus recursos no mar como
no continente e em ambos os casos a água é dos elementos fundamentais o
elemento vital.
Esse é o triângulo que
possibilita:
- Os mais amplos fundamentos para
a inter-acção entre os ambientes geo-estratégicos e o homem, de forma a que não
seja apenas garantida a maior ocupação e a maior densidade de implantação
humana, mas as bases da educação para que seja garantida também a inteligência
da sustentabilidade, que começando por ser uma prova científica, de nada valerá
se ela não for transmitida a toda a sociedade, geração pós geração;
- Uma visão alargada das
possibilidades de integração, tanto no que diz respeito ao todo do espaço
nacional, como ao espaço SADC, ao espaço da região central do Continente, bem
como ainda aos espaços do Golfo da Guiné e do Atlântico Sul;
- A já referida maior
potencialidade de unidade e identidade nacional.
De facto, sendo a água a vida, em
Angola ela é tão relevante ainda sob os pontos de vista físico-geográficos, que
possibilita a planificação geo-estratégica integrada nos termos de luta contra
o subdesenvolvimento e na edificação duma economia real com programação de
desenvolvimento sustentável!
Martinho Júnior -- Luanda
A consultar:
- Vale do Cuango – http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/o-vale-do-cuango.html
- Recursos hídricos de Angola
devem ser explorados em benefício da comunidade – http://angolasempre.blog.com/2006/03/22/recursos-hidricos-de-angola-devem-ser-explorados-em-beneficio-da-comunidade/
- Defendido planeamento dos
recursos hídricos – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/sociedade/2011/9/41/Defendido-planeamento-dos-recursos-hidricos,a53998f1-5a49-43d3-8118-3f7212ba50d7.html
- Gestão eficiente dos recursos
hídricos passa por levantamento cartográfico – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/sociedade/2010/8/38/Gestao-eficiente-dos-recursos-hidricos-passa-por-levantamento-cartografico,87e1d26c-aa4b-458c-9568-694a4f46021d.html
- The Congo river basin – http://www.fao.org/docrep/W4347E/w4347e0n.htm
- Congo basin – http://worldwildlife.org/places/congo-basin
- Congo basin region – http://www.rainforestfoundationuk.org/Congo%20Basin%20Region
- World heritage in the Congo
basin – http://whc.unesco.org/uploads/activities/documents/activity-43-10.pdf
- Bacia do Zambeze – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Zambeze
- Biodiversidade na bacia do
Zambeze – http://www.unimep.br/grupoh2o/30/ernesto_lenathy_muheca_301008.pdf
- The Zambezi basin – http://www.fao.org/docrep/W4347E/w4347e0o.htm
- Biodiversity of the Zambezi
basin – http://www.biodiversityfoundation.org/documents/BFA%20No.9_Zambezi%20Basin%20Biodiversity.pdf
- Rio Cuando – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Cuando
- The Okawango basin – http://www.fao.org/docrep/W4347E/w4347e0p.htm
- Okavango basin – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Okavango_Basin
- The Cuvelai-Etosha basin
management approach – http://www.wpi.edu/Pubs/E-project/Available/E-project-051407-140847/unrestricted/basi_final_3may_usletter.pdf
- Cuvelai river basin – Wikipedia
– http://www.icp-confluence-sadc.org/riverbasin/93
- Rio Cunene – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Cunene
- A organização da bacia do
Kunene – http://www.kunenerak.org/pt/governo/stakeholders/river+basin+organisations.aspx
- Kunene basin map – http://www.kunenerak.org/UserFiles/Interactive/en/BasinMap/basinmap.html
- Rio Cuanza, o elo entre o sul e
o norte, entre o passado e o futuro (I) – http://psitasideo.blogspot.com/2008/12/rio-cuanza-o-elo-entre-o-sul-e-o-norte_9138.html
- Rio Cuanza, o elo entre o sul e
o norte, entre o passado e o futuro (II) – http://psitasideo.blogspot.com/2008/12/rio-cuanza-o-elo-entre-o-sul-e-o-norte_6665.html
- SONANGOL confirma petróleo na
bacia do Cuanza – http://www.macauhub.com.mo/pt/2011/12/23/sonangol-confirma-petroleo-na-bacia-do-kwanza-em-angola/
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