quarta-feira, 1 de abril de 2020

Angola | “UMA MÃO LAVA A OUTRA”...


Martinho Júnior, Luanda 

…Esta era a filosofia dos que enveredando pela “economia do mercado” do tempo “das vacas gordas”, estimularam sem ética nem moral as políticas interesseiras e “emparceiradas” de portas escancaradas e abusavam desse “slogan” para justificar a cadência exponencial da galopante corrupção: “uma mão lava a outra”, lembram-se?!...

Agora Angola está a ser obrigada de facto a lavar as mãos de outra maneira e obrigatoriamente em tempo de “vacas magras”, “esquálidas” sobreviventes da última seca no sul: a mão da emergência Covid-19, lava a mão da emergência do petróleo enquanto “excremento do diabo” e o resultado é a procura intempestiva dum desinfectado estado, ainda que de emergência, o estado de emergência “que estamos com ele”!...

O combate ao vírus biológico caiu como uma luva num país em bancarrota, vulnerabilizado pelo neoliberalismo exacerbado de três décadas que levou à corrupção, neocolonizado sob as cinzas dum passado de vitórias… e com os recursos do petróleo a atingir a “fase de lua nova”!…

O melhor portanto seria parar, como se parou, mantendo estritamente o movimento anémico dos serviços mínimos que obrigam à economia das “vacas esquálidas” e é precisamente isso que em emergência se passou drasticamente a sentir e a fazer sentir, a começar no apertado novo “corpo” do próprio estado parido da emergência!...

De lavagem de mãos, em lavagem de mãos, mergulhemos ainda nossa memória na lavagem de mãos de Pôncio Pilatos, conforme às prédicas e escrituras!...

01- Pela primeira vez em Angola se declarou o estado de emergência e logo numa corrida acelerada, dum sôfrego atleta de 100 ou 200 metros, quase que com a rapidez siderada da expansão do vírus pandémico que passou a assolar toda a humanidade desrespeitando todos os limites convencionados e todas as convencionadas fronteiras!...

A Ministra da Saúde procurou cortar desde logo, (às primeiras leituras relativas à ameaça), o mal pela raiz, pedindo para se fechar as fronteiras a fim de isolar o país e colocar de quarentena a tentativa devassa do trânsito humano, mas o que vem detrás enquanto herança e inércia, impediu-a de filtrar os voos que chegavam de fora durante alguns dias, particularmente os voos oriundos de Portugal e isso foi determinante para a importação da pandemia, ainda que com escassos portadores da doença à deriva pelo país fora!...

De assimilação em assimilação em regime de guerra e terapia neoliberal desde 31 de Maio de 1991 (Acordo de Bicesse) e depois da injecção de vírus próprios dum surto de mais de três décadas oriundo dum Portugal do “arco de governação”, só nos faltava mesmo a importação de inocentes portadores de Covid-19 fora de controlo!...

É pois sintomático que o histórico dos portadores até agora se resuma fundamentalmente à inscrição nesse consumado “modelo” que “passou a fronteira” com a distinção entre “filhos de algo” e “classe económica”, (“nove em cada dez estrelas usam Lux”), para depois à pressa se corrigir, já tarde e em má hora, quando o país está sem preparação para tal, anémico, palúdico, sem máscara, nem luvas e nem sequer vitamina “C” quanto mais vacina!...

02-"Em meados de Fevereiro de 2020, já fez mês e meio, alertei numa síntese-analítica “com todos”, sobre os “18 anos de excremento do diabo”, aproveitando a visita a Angola dum “homem de mão” da equipa protecionista da barbárie, Mike Pompeo!...

De facto foi uma flagrante antecipação do que se iria desabar sobre Angola, em termos de preço de barril de petróleo (naquela altura já cheirava a “excremento do diabo” que tresandava e mesmo não acreditando em bruxas constatava-se inequivocamente que as havia)!...

Assim o Covid-19, de vírus em vírus e num país em bancarrota, passou a cobertor de “excremento do diabo”, (“uma mão lava a outra”) como se a água corrente e o sabão do estado de emergência viesse “matar dois coelhos duma só cajadada”, passe a boa higiene e a boa prática!...

De facto é a oportunidade para “matar outros coelhos mais”, pois finalmente é o próprio estado de emergência que dá a oportunidade ao próprio Presidente João Manuel Lourenço de sair do atoleiro da herança que sobre ele recaiu e consumou!

Ainda que sobre essa herança esteja disposto a “melhorar o que está bem e a corrigir o que está mal”, o Presidente João Lourenço pode começar-se finalmente a assumir como ele mesmo, militar, historiador e comissário político que rodou Angola de lés a lés e sabe quanto há a fazer para vencer o vírus crónico do subdesenvolvimento!

Angola precisa urgentemente dum esterilizado Presidente face ao vírus neoliberal, mas se a tanto não chegar o engenho e a arte, parece que finalmente temos Presidente e não um atolado herdeiro com uma mais que curta margem de manobra para se assumir e andar!...

03- A sociedade angolana tem todavia muitos outros vírus por combater e extirpar e não basta só nem um esterilizado Presidente, nem a boa vontade de alguns para o tentar fazer, aproveitando a “lavagem de mãos” própria deste momento de e em estado de emergência!

O vírus neoliberal dividiu, dividiu e dividiu e, de divisão em divisão passou aos abissais desequilíbrios humanos, às gritantes assimetrias, às injustiças sociais, a guerras psicológicas intestinas que deram espaço à deliberada confusão e a outras inteligências externas, por fim a inércias que se manifestam já em estado de enraizada e putrefacta subcultura, putrefacta subcultura que desinfectante algum parece poder rapidamente erradicar!

O MPLA tem sido nesse sentido uma notável incubadora de vírus neoliberal e, pasme-se, há alguns que interpretam a tão necessária quão urgente cultura de inteligência patriótica, nessa vocação, nesse proveito e nesse sentido putrefacto, sistematicamente “sacudindo as águas contaminadas do capote”!

O Ministro da Justiça parece estar condenado à deriva numa tentativa de reconciliação que não está a ser feita à prova dos velhos vírus e o MPLA não assume sequer nem os vírus oportunistas internos, nem os acumulados prejuízos indirectos que foi provocando, enterrando injustamente vivos muitos dos camaradas que fizeram frente ao golpe do 27 de Maio de 1977, foram dele sobreviventes, para depois serem em brando lume, tão conforme a “brandos costumes”, atirados à quarentena em fogo-lento de reinventadas estórias, ainda que essas estórias nada tivessem a ver com a verdade histórica que deveria ter sido responsavelmente cultivada!

Jamais será possível levar avante uma cultura de inteligência patriótica se os velhos vírus que aproveitaram a instalação das correntes neoliberais perdurarem e, se esses velhos vírus não forem extirpados, como será possível extirpar os novos?...

Entendem a lição do convite feito a um neoliberal como Durão Barroso para vir lembrar que o muro de Berlim afinal começou a ruir em Angola?

“Uma mão lava a outra” é viável só para novos vírus, mantendo os velhos vírus afoitos nas suas velhas estórias e fora de quarentena?...

Esquecem-se que uma figura como Pôncio Pilatos “ensinou” também uma velha fórmula de lavar as mãos?

A quem isso vai continuar a beneficiar e a deliberadamente prejudicar, ou marginalizar?

Até onde vai ser possível alguma vez começar a instalação duma cultura de inteligência patriótica, quando o peso de interessadas e interesseiras inteligências externas como as do “the americans first” tem sido historicamente mais que evidente?

Porquê?

Martinho Júnior -- Lunda, 30 de Março de 2020.

Imagem de Pôncio Pilatus e da cena da lavagem das mãos – https://www.filhosdeezequiel.com/poncio-pilatos/

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