Vários profissionais da
comunicação social na Guiné-Bissau têm sofrido ameaças contra a integridade
física. Sindicato vai apresentar queixa junto das autoridades do setor.
Nos últimos tempos, as agressões
verbais e físicas têm sido frequentes contra os jornalistas na Guiné-Bissau.
Alguns casos envolveram inclusive figuras políticas. Em entrevistas e
conferências de imprensa de políticos e dirigentes, os jornalistas têm sido
atacados por militantes e simpatizantes dos partidos e até por altos
responsáveis do país.
A rádio privada Capital FM,
sedeada em Bissau, viu, num curto espaço de tempo, os seus profissionais serem
chamados à Justiça ou agredidos.
Serifo Tawel Camará, da Capital
FM, conta à DW África que foi vítima de agressão por homens armados, "não
identificados" e com uniformes da polícia. "Apareceram e atacaram-me
logo à porta da rádio, não sei qual era a intenção dessas pessoas",
recorda.
A intimidação contra os
jornalistas da Rádio Capital não é de agora, segundo Camará. "Na semana
passada foi notificado Sabino Santos, no Ministério Público, e no dia seguinte
foram notificados dois profissionais da Rádio Capital, Adão Ramalho e Ansumane
Só."
Outro caso registado na semana
passada é o de Iaia Samá, jornalista da Rádio Cidade FM, que, através de um
post no Facebook, informou que "por razões de ameaças à integridade
física, deixará, por enquanto, de apresentar o programa 'Bom Dia Cidade'", um
espaço de interação com os ouvintes sobre os assuntos do país.
Sindicato vai contactar
autoridades
A presidente do Sindicato
Nacional dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (SINJOTECS), Indira
Correia Baldé, não tem dúvidas de que "a liberdade de imprensa e de
exercício da profissão está ameaçada".
O SINJOTECS promete encetar
contactos com o Ministério do Interior e a Polícia Judiciária "para
reportar os factos e ver como é possível reverter estas ameaças que os
profissionais da comunicação social estão a enfrentar no momento".
O decano da comunicação social
guineense, Lamine Djata, diz que "é uma tentativa vã" pretender calar
os jornalistas.
"A liberdade de imprensa
pertence aos jornalistas. Não vejo a forma de as pessoas imiscuírem na sua
aplicação prática sem serem jornalistas", afirma. Djata acredita que essa
é certamente uma "guerra perdida, porque nunca a classe jornalística
perdeu uma guerra deste tipo".
Para o jornalista e professor
universitário João Umpa Mendes, com toda a pressão sobre os profissionais da
comunicação social, há um ponto positivo a realçar: "Há uma coisa que eu
vejo como resultado de alguma evolução. Quando os jornalistas são chamados às
instâncias judiciais, isso mostra que é essa a postura que deve ser
observada", defende.
Umpa Mendes não quer acreditar
que haja, salvo algumas exceções, colegas que escrevem premeditadamente artigos
ou peças "para prejudicar essa ou aquela figura". Por fim, defende
que os órgãos de comunicação social devem continuar a desempenhar o seu papel,
"independentemente das pressões, e fazer também com que as pessoas que
tentam fazer essas pressões compreendam que os jornalistas estão só a fazer o
seu trabalho".
Condições precárias
Para além das ameaças, o
exercício jornalístico na Guiné-Bissau é caraterizado por falta de condições de
trabalho. Há dificuldades dos órgãos de comunicação social até para cumprir com
o básico, para que os jornalistas sejam mais livres no seu desempenho
profissional.
A liberdade também é condicionada
por censura nos órgãos públicos para atender a orientações políticas. Em
setembro de 2017, os funcionários da televisão pública guineense subscreveram
uma petição para exigir o fim da censura na única estação televisiva do país.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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