segunda-feira, 6 de julho de 2020

Portugal | Propaganda em vez de medidas de proteção eficazes contra contágios


E OS IDOSOS? OS VELHOS? QUE SE LIXEM!

Sobre o covid-19 em Portugal há matéria neste Curto. Lisboa é a triste vedeta dos novos casos. Se novos se velhos que morreram… Por aqui apostamos nos velhos. É sempre a andar… para o outro mundo. Mas Portugal está bem, os ministros e outros hipócritas agradecem às populações o civismo. Qual civismo? O da maioria? Sim, mas e das bestas incivilizadas, irresponsáveis (novas ou velhas) não há uma palavra de censura. E os transportes públicos?

E a ministra da saúde que jurou a pés juntos que os novos casos não são provenientes dos aglomerados nos transportes públicos… Jurou a pés juntos e a pés juntos é mais fácil cair. Esperemos. Claro que não haverá como fazer tal afirmação sem bases sólidas e essas não existem. Nem para afirmar que houve casos de contágio nos ditos aglomerados em movimento, nem para afirmar que, de todo, não houve contágios naquelas amalgamas de passageiros. Mais unidades transportadoras, comboios e autocarros, é que não se vêem… O costume. Do covid-19 por agora já basta. Os velhos morrem e até dá jeito nas poupanças das magras e insuficientes, miseráveis pensões e reformas. Que alívio! – Hão-de exclamar os mais que tudo, eleitos depois de fazerem promessas que nem lhes passa pela cabeça cumprirem. Pois.

O turismo em Portugal vai avançando devagar, devagarinho e parado. Covid-19 é o entrave e o governo do PM e despenteado mental do Reino Unido não considera Portugal destino seguro para os “bifes” fazerem turismo. Mas o que se sabe é que por lá é que a coisa não é nada segura e além disso presencia-se uma grande bagunça, principalmente nas grandes cidades. Vão morrer mais velhos por lá. Pois. Provavelmente até o Boris está a esfregar as mãos e a fazer estimativas dos que se “apagam”. Nunca se sabe como funciona aquela mente despenteada.

Avante no resto do mundo. Há outras referências no Curto de manifesto interesse. Obituário e desporto, por exemplo. O Realizador Alfredo Tropa já se foi, com 81 anos. RIP, amigo. Isso mesmo a quem merece. Vá ver o Curto. De outras paragens globais também. Deixamos para vós a descoberta. Ide nas calmas ao Expresso Curto, hoje por autoria de João Barros, do burgo Balsemão.

Boa semana e cuide-se. Se é velho ou velha frustre as intenções do covid-19, proteja-se, já que os altos responsáveis lusos fazem mais propaganda do que tomar medidas para o efeito. O costume. Pois. Ora, e a economia? Pois.

MM | PG



Bom dia, este é o seu Expresso Curto

De surto em surto até à vacina final e a fadiga do desconfinamento

João Pedro Barros | Expresso

Bom dia,

O Instituto Politécnico da Guarda decidiu suspender os exames presenciais devido à confirmação de infeção em pelo menos oito estudantes – no total há 12 jovens infetados, que se terão contagiado numa festa de aniversário. O Centro Escolar de Paços de Ferreira e uma fábrica na mesma cidade foram encerrados para "interromper as cadeias de transmissão". O número de óbitos relacionados com o surto em Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora, subiu para 12. Há 38 casos positivos nas Caldas da Rainha, num lar e num infantário, sendo cinco deles relativos a crianças. Cerca de 70 brasileiros que residem na aldeia de Santo Estêvão, em Benavente, estão confinados, após cinco casos positivos.

Não quero com a enumeração destes casos alarmar o leitor, mas apenas sublinhar aquele que cada vez mais parece ser o novo normal da covid-19: surtos que vão surgindo aqui e ali, com origens muitas vezes difíceis de detetar, e aos quais as autoridades nem sempre conseguem responder com rapidez. E, para além destes casos relativamente delimitados, há um problema muito maior: a situação em Lisboa e Vale do Tejo.

Este domingo, em Portugal, registaram-se mais 328 casos de infeção e nove vítimas mortais, revelou a Direção-Geral da Saúde, que entretanto suspendeu a divulgação do número de infetados por concelho, após o Expresso ter feito manchete, no sábado, com a informação de que não estão a ser contabilizados todos os casos, havendo laboratórios, universidades e médicos que não registam os positivos.

Na região da capital assinalaram-se 254 novos casos, ou seja, 77% do total do país. Hoje – dia em que os números são habitualmente mais baixos, devido ao menor número de testes realizados no fim de semana – logo se verá, mas parece claro que ainda não se atingiu um caminho descendente que nos permita, por exemplo, ter o tal corredor aéreo com o Reino Unido, que traga os turistas e descanse os emigrantes portugueses que lá residem.

Aliás, a Madeira ainda não desistiu de argumentar que os britânicos que pisarem o arquipélago devem ficar dispensados da tal quarentena obrigatória no regresso à pátria: o presidente da Câmara do Funchal escreveu uma carta a Boris Johnson e Marcelo diz que as dúvidas serão “dissipadas” em breve. O Presidente da República passou o fim de semana na Madeira e fala mesmo da região como um “exemplo”.

A propósito, o Reino Unido não foi definitivamente o melhor exemplo de desconfinamento este fim de semana, em que bares e pubs puderam finalmente reabrir. Apesar da desvalorização por parte das autoridades e do próprio ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, fotos como a que publicamos neste artigo mostram que, para um grande número de pessoas, as regras de distanciamento social e de uso de máscaras foram às malvas, talvez antes do primeiro pint.

Podemos falar em fadiga do desconfinamento, mas é difícil encontrar razões que justifiquem comportamentos generalizados de desprezo pelas recomendações. Que atire a primeira pedra quem respeitou TODAS as regras ao longo de quatro meses – e não devemos precipitar-nos a estigmatizar quem contrai o vírus –, mas um surto com origem em situações deste tipo pode pôr em risco toda uma comunidade e a economia de um país. Até porque ainda sabemos pouco sobre este SARS-CoV-2: tão pouco que especialistas de 32 países pedem à OMS para repensar as diretivas de proteção, porque acreditam que, afinal, o vírus também se transmite pelo ar.

Pede-se responsabilidade e sublinhe-se que não é só em Portugal que há novos surtos e medidas de reconfinamento. Na Inglaterra, em Leicester, procuram-se as causas de uma segunda vaga; na Catalunha, a região de Segrià (com mais de 200 mil pessoas) pode ficar confinada mais de duas semanas; na Galiza, e em vésperas de eleições regionais, uma região da província de Lugo, com cerca de 70 mil pessoas, está isolada; em Melbourne, na Austrália, há milhares de pessoas em confinamento; Marrocos registou ontem um novo recorde diário de infeções; a Grécia fechou as fronteiras aos cidadãos sérvios, após um aumento de casos no país dos Balcãs.

Este parece ser o novo normal: o vírus não vai desaparecer tão cedo e é provável que, até que esteja amplamente disponível uma vacina (ou um antivírico), os surtos de covid-19 vão desparecer da região ou país x para reaparecerem acolá, na localidade y. Que essa viagem não ocorra pelo menos por mera negligência.

OUTRAS NOTÍCIAS

O exorcista – Pedro Nuno Santos em entrevista ao "Jornal de Negócios": “Negociação com a Comissão Europeia será dura. Não tem é de ser filme de terror”. O ministro das Infraestruturas elogia ainda o patriotismo do acionista privado que se mantém, Humberto Pedrosa, e promete a continuação das rotas para os EUA e a cooperação com a transportadora Azul, de Neeleman.

Horta Osório deixa Lloyds – O banqueiro só sai em junho de 2021 e o seu futuro deve passar pelo regresso a Portugal.

Luto – O mundo das artes e espetáculos está claramente mais pobre. Aos 91 anos, morreu Ennio Morricone, compositor de bandas sonoras tão célebres como as de “O Bom, o Mau e o Vilão”, “Por um Punhado de Dólares” e “Era uma Vez na América”. Ontem já tinha falecido o realizador Alfredo Tropa, aos 81 anos (dirigiu, por exemplo, "O Povo que Canta", ao lado do musicólogo Michel Giacommetti). O ator da Broadway Nick Cordero também sucumbiu à batalha contra a covid-19.

O que diz Marques Mendes – No habitual espaço de comentário político aos domingos à noite, na SIC, o ex-líder do PSD pediu uma auditoria à gestão da TAP, pelo menos desde a privatização de 2015, e disse que António Costa e o ministro Pedro Nuno Santos estiveram bem no processo. E também elogiou Fernando Medina, por ter mostrado independência nas críticas às autoridades de saúde da região de Lisboa.

Hoje vai ser notícia – Arranca a primeira fase dos exames finais nacionais do ensino secundário, que se prolonga até 23 de julho – uma das provas é a de Português. Em Lisboa, António Costa recebe o homólogo espanhol Pedro Sánchez, com o objetivo de preparar a próxima reunião do Conselho Europeu, a 17 e 18 de julho.

Jerónimo ao ataque – Após o voto contra o Orçamento Suplementar, o secretário-geral do PCP acusou Marcelo Rebelo de Sousa de estar a "contribuir" para uma aproximação entre PS e PSD, solidificando um "novo bloco central de interesses políticos e económicos".

Cinco valem seis (pontos) – O FC Porto goleou ontem à noite o Belenenses SAD por 5-0 e mantém os seis pontos de vantagem sobre o Benfica, segundo classificado, pelo que está a duas vitórias do título. Pode ler AQUI a crónica e ver os golos – o último, de Luis Díaz, é uma maravilha. No final do jogo, o presidente dos lisboetas, Rui Pedro Soares, explicou a ausência de guarda-redes no banco: um dos guardiões da equipa está infetado com covid-19 e outro, André Moreira, foi colocado em isolamento.

Mercedes de Bottas – O finlandês Valtteri Bottas (Mercedes) é o primeiro líder do Mundial de Fórmula 1 de 2020, que finalmente arrancou ontem na Áustria. Seguiram-se Leclerc (Ferrari) e Norris (McLaren). O campeão Lewis Hamilton foi penalizado por um toque em Albon (Red Bull) e ficou em quarto lugar.

#2020VISION – Foi com esta hashtag que o músico Kanye West lançou uma putativa candidatura à Presidência dos Estados Unidos. O prazo para ter o seu nome no boletim de voto até já terminou em alguns estados, pelo que será esta vontade real ou uma manobra de marketing?

Com duas palavras apenas – A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, está a ser criticada por ter participado numa mensagem de apoio ao partido croata HDZ, do primeiro-ministro Andrej Plenković, que foi a votos este domingo (e, já agora, ganhou). Apenas disse "Croácia Segura", mas pode ser o suficiente para violar o Código de Conduta dos Comissários.

Ocean Viking – Após 10 dias no mar, os 180 migrantes a bordo do navio de resgate devem desembarcar hoje na Sicília, em Itália.

Vida de cão – Um ano da vida de um cão corresponde a sete anos humanos, certo? Errado, dizem investigadores da Universidade da Califórnia.

Rosalía à Blitz – A partir de Miami, via Zoom, falou do novo single, “TKN” (a meias com Travis Scott), das suas longas unhas de gel e do concerto no Primavera Sound de há um ano: “No Porto senti-me em casa e muito ligada ao público português”.

FRASES

"O pensamento no nosso balneário é: ‘Vamos perder um dia, mas não será esta semana’"

Rúben Amorim, treinador do Sporting, qual gaulês com medo que o céu lhe caia na cabeça. O clube de Alvalade joga hoje, às 21h, no terreno do Moreirense.

“Tudo o que quero é que ela saiba que quis ajudá-la e que agradeço o que ela sempre fez por mim, o nunca se ter ido embora, todo o empenho dela, a presença. Apesar dos altos e baixos, nunca nos abandonámos. Quero que ela saiba que sinto muito amor por ela. Sempre gostei muito do meu filho, está e estará sempre no meu coração. Um filho sempre muito querido, que sempre esteve connosco. Foi o filho com que sempre sonhei.”

A mensagem que Pedro Diogo, que morreu no final de junho após uma batalha contra o cancro do cólon, quis deixar à mulher e ao filho. Tinha 40 anos e o Expresso acompanhou os seus últimos seis meses de vida, nos cuidados paliativos do Hospital da Luz, em Lisboa.

O QUE ANDO
A LER

Quando há uns 15 dias olhei para a estante lá de casa para escolher uma nova leitura, a minha mão foi parar quase instintivamente a “O Fator Churchill”, de Boris Johnson, que já lá andava há pelo menos meio ano. A esse gesto não foi certamente alheia, mesmo que inconscientemente, a polémica relativa à pichagem “era um racista” feita no mês passado numa estátua do ex-primeiro-ministro em Londres, na sequência das manifestações desencadeadas pela morte de George Floyd às mãos da polícia de Minneapolis, nos Estados Unidos.

Não arrisco muito se disser que a grande maioria da população ocidental vê Churchill como um herói da Segunda Guerra Mundial, que impediu o mundo de ser muito diferente para pior, caso tivesse capitulado em 1940, perante o que parecia o avanço imparável das tropas alemãs. Mas há também muitas sombras no seu percurso político, nomeadamente a acusação de não ter feito tudo para impedir a grande fome de 1943 em Bengala, que terá morto três a 4,5 milhões de pessoas. Daniel Oliveira pôs em confronto estas duas visões, de uma forma que me parece ponderada, na semana passada.

Esta não é a biografia ideal para aprofundar uma visão crítica do estadista britânico: o atual primeiro-ministro britânico (em 2014, quando foi lançado o livro, era presidente da Câmara de Londres) é um declarado admirador do seu antecessor, que liderou o governo do Reino Unido entre 1940 e 1945 e entre 1951 e 1955. Várias análises detetam até, no subtexto do livro, uma comparação entre as duas figuras.

O que se destaca desde logo nesta biografia é a sua coloquialidade – que, por caraterísticas da própria língua, deve estar ainda mais acentuada na versão inglesa (estou a ler a portuguesa, editada pela D. Quixote). Johnson quer apaixonar, especialmente os mais novos, por esta figura carismática, pela literariedade dos seus discursos, pela obstinação. Ele quer que o livro possa ser lido tanto por um académico como por alguém que confunda Churchill com uma recente contratação do Chelsea ou do Arsenal.

Se não pretende ser comparado a Churchill, o agora chefe do Governo britânico tentou pelo menos fazer alguma política nas entrelinhas. Por exemplo, apelida Joe Kennedy, pai de John Kennedy e embaixador dos EUA no Reino Unido entre 1938 e 1940, de "traficante de bebidas alcoólicas" e "burlão". Descreve uma união de estados nazis, que pudesse ter sido criada na sequência de um acordo de paz entre os britânicos e a Alemanha, como contendo muitos elementos da atual União Europeia. Não passa totalmente ao lado do racismo de Churchill, nomeadamente em relação aos indianos, mas atribui alguns discursos de evidente xenofobia a uma tentativa de “cair nas boas graças da ala direita” do Partido Conservador. As tendências alcoólicas de Churchill são tratadas como um fait divers.

Seria o objetivo do autor escrever uma grande tratado de historiografia? Não parece. Quer isto dizer que é uma obra desinteressante? Nada disso, mas a leitura tem quase de ser feita como se fosse um romance, com o qual aprendi várias coisas. Por exemplo, não imaginava que, quando Churchill assumiu o lugar de primeiro-ministro, a desconfiança do próprio partido em relação ao novo líder era tal que, nos primeiros meses, mesmo em plena guerra, a própria bancada recusava-se a aplaudi-lo na Câmara dos Comuns.

De tal forma que alguém que seria mais tarde seu ministro da Educação e do Trabalho, Rab Butler, tinha para dizer as seguintes pérolas sobre Churchill: “A boa e sã tradição da política inglesa foi vendida ao maior aventureiro da história política moderna”; “rendermo-nos a Winston e à sua ralé foi desastroso e era evitável”; para terminar, apelidava-o de “mestiço americano” (a mãe, Jennie Spencer-Churchill, era norte-americana de nascença). É quando Boris Johnson se liberta um pouco da sua idolatria ao estadista que o livro se torna mais cativante: as figuras mais interessantes da história da humanidade são quase sempre as mais contraditórias.

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