quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Marcelo, pai do acordo dos Açores. Rui Rio é indevidamente o único saco de boxe

O Curto do Expresso de hoje tem lavra de David Dinis, de lá do burgo do tio Balsemão Impresa de Bilderberg, como bem sabem. Uma preciosidade. O texto corre como rio livre de escolhos nem quedas de água. Fácil de ler, oportuno no que recorda sobre o tema de abertura que dá título á peça jornalística, valioso nas minúcias que se deixaram de avaliar devido à torrente de diz que disse e assim e assado, frito e cozido, sobre o acordo do PSD Açores com o racista e xenófobo Chega, para não acrescentar gato escondido com rabo de fora nazi-fascista, dependente da força que lhe derem em eleições. 

Sem mais nem menos ficamos a saber que Marcelo mergulhou e empurrou o Chega Açores para os braços do seu partido, o PSD/Rio, ou vice-versa. Sendo a IL-Iniciativa Liberal como rodela de limão num gin tónico, para adicionar esbates florais que emprestam mais facilidades na ingerência. Por isso, não por acaso é o PR Marcelo Rebelo de Sousa o pai ternurento e beijoqueiro da criança-acordo. Sem rebuço por juntar o seu partido social-democrata (em título) na cama das conspicuidades políticas com o racismo e a xenofobia já sobejamente comprovada. Marcelo que, ao contrário dos pais a quem lhes nasce um filho, está calado que nem rato, sabendo-se antecipadamente que se ocupa em pensar-estudar muito bem o que dizer oportunamente (para ele) e cobrar vantagem com o seu charme populista com óbvia (para ele) explicação. Talvez até com uma selfie do momento histórico-comemorativo em que em Portugal renasce o moderno salazarismo-marcelista sob a forma de poder nos Açores. E porque não a nível nacional?

Da questão há mais a entender, não só no Curto, e vai ter de o fazer se quiser na realidade aperceber-se dos profundos meandros em que Rui Rio é indevidamente responsabilizado e o único saco de boxe de serviço. Pena que o cinismo e a sacanice seja imune e indetetável em simpáticas selfies. Então haveriam muitas para colar no álbum e isso era o relativo descrédito merecido… e decerto que justo. Demonstração do que acontece por debaixo dos panos na cama pútrida e conspícua de certas e incertas políticas.

Do assunto não adiantamos mais nada no PG, por agora. Convidamos a que visitem o texto Curto do autor. Estão no menu outros altos valores da divulgação, que nos prendem o interesse. Abençoado.

Bom dia pós almoço. Pelo menos isso. Cuidados redobrados em defesa da saúde para todos. Comporte-se como quem faz odes à vida. É importante. Avance para o que se segue. Saiba mais. Entenda mais.

MM | PG


Bom dia este é o seu Expresso Curto

Ainda confuso com o acordo entre PSD e Chega? Rui Rio também 

David Dinis | Expresso

Ao fim de duas semanas a ironizar no Twitter, Rui Rio foi à TVI para explicar o que aconteceu nos Açores, o que aconteceu com o Chega, o que aconteceu com o PSD ou mesmo com a direita. O exercício foi útil, embora ligeiramente confuso. Primeiro porque percebemos que Rui Rio responsabiliza o representante de Marcelo nos Açores pelo acordo. Segundo porque percebemos, em alternativa, que Rui Rio acha que o acordo foi bem feito - pelo que o subscreve na íntegra e sem pestanejar. Confuso? Se preferir a primeira versão, aconselho que entre no link acima. Se quiser perceber a segunda, é seguir por este texto, onde em apenas quatro frases conseguirá perceber melhor como Rui Rio o justifica.

“Estou de acordo, estou a dar a cara”

Depois de dizer que foi feita “uma barulheira” para “abafar a verdade”, depois de ter dito que “não há nenhum acordo nacional, tudo se passou na região autónoma”, e também que estava a “servir de advogado do PSD dos Açores”, Rui Rio acedeu que o novo presidente do Governo Regional, que por acaso é vice-presidente da sua direção no PSD, teve a “cortesia” de o manter “informado” das negociações com André Ventura. E que o SMS de Ventura a negociar o comunicado final “foi mandado para mim” (para ele, Rui Rio). E , mais, que ele próprio concorda com todos e cada um dos pontos negociados - pelo que subscrevia o acordo. Ficou, assim, esclarecida a “barulheira”. Ou melhor, ainda não, porque é preciso entender com que pontos do acordo Rui Rio concorda. Siga para a frase seguinte.

“Há pessoas que podem estar com rendimento mínimo e que não trabalham porque não querem”

O líder do PSD explica assim porque aceita e subscreve a proposta do Chega para “reduzir a subsídio-dependência” nos Açores, sendo necessária por isso uma “maior fiscalização” do rendimento mínimo. E, disse ele, ficou convencido depois de, numa visita que fez a Rabo de Peixe, o concelho mais pobre do arquipélago, ouvir “um pescador” dizer que “as pessoas não querem vir ao mar”. Em Rabo de Peixe, anote, 30% dos que têm direito a este apoio social têm menos de 18 anos. Muitos deles são mulheres. E ir ao mar, lembre-se, nem sempre tem “ir e voltar”.
A juntar a isto, Rui Rio diz concordar também com a exigência de Ventura de reduzir o número de deputados e de "combater a corrupção". Entendida a “barulheira”? Ainda não, é preciso perceber que tipo de partido entende Rui Rio que é o Chega. Siga para a frase seguinte.

Racista? Xenófobo? “O Chega é uma federação de descontentes”

“Existe pela negativa”, disse apenas Rui Rio, não entrando na discussão sobre as propostas de prisão perpétua, de castração química, as de confinar os ciganos, ou as (intermitentes) de proibir casamento entre homossexuais. “Não é bem um partido cimentado, o tempo vai obrigar o Chega a ser um partido pela positiva”. A convicção de Rui Rio de ontem é, porém, contrastante com o que o próprio Rui Rio assumia em junho, quando ainda exigia ao Chega que se moderasse: “Se o Chega continuar numa linha de demagogia, de populismo, da forma como tem ido, há aqui um problema, porque aí não é possível um entendimento com o PSD. Face ao que o Chega tem sido, descarto conversar”. Afinal, conversa. Entendida a “barulheira?” Talvez, mas ainda é preciso perceber o que mudou - se é que mudou - em Rui Rio, ou no Chega.

“Senão só o PS é que pode governar”

Durante a entrevista, os jornalistas da TVI confrontaram Rui Rio com as suas próprias palavras, ditas há dois anos num debate com Santana Lopes, onde afirmava que, se o PS vencesse eleições sem maioria, devia ser o PS a governar - “com acordos parlamentares”. Mas Rui Rio, que não se lembrava de ter dito isso, mudou de ideias. Seja para aplicar nos Açores (“ao fim de 24 anos de PS no poder? Não me peça tanto!”), seja para aplicar na Assembleia da República, depois das próximas legislativas (“o que defendo é que quem conseguir uma maioria parlamentar deve governar”). A razão, assumida pelo próprio: “Senão, só o PS é que pode governar”.

Entendida a “barulheira?”. Agora sim. Só falta uma pequena correção: se a direita, sem o Chega, conseguisse uma maioria parlamentar, também poderia governar - mas aí de cabeça levantada e sem espaço para “barulheiras”. Mas para isso, claro, era preciso conseguir convencer os eleitores de que tinha projeto e equipa que o merecessem. Ou então levar a sério aquela outra frase de Rio Rio, dita também ontem na TVI, mas já sobre o próximo Orçamento: “Não quero chegar a primeiro-ministro de qualquer maneira”. Ainda bem que se nota.

AS OUTRAS NOTÍCIAS

Sobre o Estado de Emergência: Marcelo está preocupado com a “perceção” sobre o congresso do PCP. Mas também as novas medidas em cima da mesa. E ainda um mapa que mostra quais são os concelhos que arriscam continuar de portas fechadas ao fim de semana.

Sobre o estado da pandemia. Ontem tivemos o quinto pior dia em novos casos, com os internados em novo máximo. Hoje, talvez tarde, o Governo retoma as reuniões entre especialistas e políticos no Infarmed. Não faltam perguntas por responder: o recolher obrigatório funciona? A mobilidade dos portugueses é agora muito diferente do passado? E existem diferenças regionais? O nosso podcast Money, Money, Money tem um convidado que antecipa algumas respostas. O outro podcast, o Expresso da Manhã, olha lá para fora: o que se faz na Europa para combater o vírus e o resultado a que cada país chega.

Sobre a vacina. Marta Temido disse, talvez cedo demais, que o Governo se prepara para ter vacina disponível em janeiro, talvez confiante no anúncio da Pfizer da última fase dos ensaios da vacina: eficácia é de 95% e abrange também os idosos. Acontece que o mau exemplo do sarampo pode ensinar-nos algumas coisas sobre a vacina que aí vem. Neste ponto, a melhor notícia a dar-lhe é esta: o novo estudo sobre imunidade é “inovador” e “importante”: “os anticorpos são bons, garantem proteção e mantêm-se estáveis”.

Sobre a situação do SNS. Os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente suspenderam cirurgias não prioritárias. Os profissionais estão impedidos de se despedir durante o estado de emergência (diz o Público). E a dívida em atraso do SNS aos fornecedores sobe há quatro meses. Consecutivos.

Quanto ao Orçamento de 2021: o Governo marcou uma reunião mas o Bloco desvaloriza. A negociação segue com o PCP. Mas a fatura está a subir (em mais de mil milhões, conta o Jornal de Negócios) - e os apoios também. Hoje, no JN, há mais um: os passes do Porto e Lisboa vão poder ser usados no táxi.

Entretanto em Bruxelas, será preciso mais do que uma videoconferência de líderes para resolver o impasse sobre os fundos.

Na política, mais uma polémica: o PSD garante que Eduardo Cabrita “mentiu ao Parlamento” sobre a morte de um ucraniano no aeroporto (e o mínimo que se pode dizer é que as explicações do Governo não chegam).

Na economia, há litigância: Os bancos avançam contra a empresa de Isabel dos Santos que controlava a Efacec; já a CMVM obrigou Mário Ferreira a lançar OPA sobre 70% da Media Capital.

No futebol também: Quando Rui Pinto alegadamente atacou a PGR, o coordenador informático estava de férias, conta a Tribuna.

E que dizer da América, onde os Republicanos tiraram um tapete a Trump, mas onde Trump parece estar a boicotar Biden?

AS FRASES DO DIA

"Discriminação por assédio em razão da origem étnica". Termos da decisão da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, para multar André Ventura por mentir sobre a "subsídio-dependência" da comunidade cigana.

"Com Passos, não havia o Chega". João Marques de Almeida, no Observador, numa frase que poderia merecer um lembrete sobre onde Ventura apareceu na política, mas que fala por si própria.

"Cecília Meireles seria uma boa líder do CDS". João Gonçalves Pereira, deputado do CDS, mostrando notória confiança no atual líder do partido.

“Não é por acaso que o grande opositor ao Governo é Pinto da Costa”. Rui Santos, comentador da SIC, acusando o Governo de proteger o Benfica.

O QUE ANDO A LER

Dos EUA trouxe para ler, com calma, "Unfreedom of the Press", de Mark R. Levin, sobre o estado da comunicação social na América. É um livro muito crítico, provocador mesmo, sobre o modo como as televisões e a imprensa norte-americanas se posicionaram quase em uníssono contra Donald Trump ao longo dos últimos quatro anos, arriscando comprometer a perceção de independência aos olhos de (parte) do eleitorado americano.

Comprei-o depois de aterrar na América e comprovar como é possível ver um país a preto, ou a branco, consoante a televisão ou o jornal que se escolha seguir. Não é preciso fazer um retrato, basta contar-lhe que de um lado se passam emissões inteiras a chamar "mentiroso" a Trump e, do outro, se passam emissões inteiras a chamar mentiroso a Joe Biden. Assim mesmo, carregando nos adjetivos. Para quem aterrava vindo da Europa, onde a pluralidade da opinião e a separação entre opinião e notícias ainda é sagrada, a mera suspeição de que os media perderam liberdade - ou não a transmitem aos cidadãos -, é uma tese que obriga a pensar. Para quem aterrava vindo de Portugal, onde um partido de deputado único parece condicionar todos os partidos, mas também pressiona os media a parar para pensar, o livro pareceu-me o mote certo.

Mark Levin, no entanto, voltou a entrar-me pela viagem dentro já depois da vitória de Joe Biden, num programa que moderou na Fox News. O tema era a alegação de fraude eleitoral nos EUA. E a tese central defendida pelo "moderador" era a de que os Republicanos tinham todo o direito a mudar as regras do jogo, tal como a América as conhece há muitas décadas. Como? Nomeando, nos estados onde têm o poder, os delegados que vão escolher o próximo Presidente: Donald Trump.

Ouvindo aquela meia hora de programa, mesmo antes de voltar para Lisboa, sublinhei no último texto que escrevi sobre a difícil missão de Joe Biden o que tinha ouvido de Walter Dean, professor na Universidade de Columbia: “O jornalismo tradicional teve um problema com Trump, porque nos EUA a autoridade maior é o Presidente. Se ele dizia alguma coisa, não só se acreditava que era provavelmente verdade, como era sempre notícia. Mas agora não: eles perceberam que, se ele diz mentiras, elas vão ser amplificadas no noticiário deles.” É que, sim, tem de haver uma diferença em apontar o dedo a quem mente por sistema, comprovadamente, ou a quem possa deturpar por conveniência.

Mas não larguei o livro. Porque o desafio para nós, jornalistas, permanece - sem Trump, com outros atores. “É verdade que Trump mudou o panorama, mas não sei se ele foi a causa ou o efeito”, acrescenta Walter Dean. Importa ler, sempre na consciência de que há um dever do jornalismo que nunca pode cair: a luta incessante pelos factos e pela verdade. Senão, não é jornalismo.

Dito isto, um lembrete: o Expresso sai já amanhã, sexta-feira. Para tempos de emergência, soluções de emergência. Mas sempre, sempre com os mesmos valores.

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