quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Que liberalismo é esse, então?!


João Melo* | Diário de Notícias | opinião

Acontecimentos e factos recentes levam-me a considerar que o liberalismo - uma das metanarrativas que ajudaram a configurar o mundo nos últimos séculos - está presentemente em crise (conceitual, económica, moral e política), com consequências imprevisíveis, mas ameaçadoras. Não sou, certamente, o único a alimentar tais receios.

Pela parte que me cabe neste latifúndio, como canta Chico, confesso-me totalmente baratinado com tantas posições antiliberais por parte de autodeclarados e contumazes liberais, nos últimos tempos e em várias partes do mundo. Recorro, por essa razão, à retórica que me é naturalmente intrínseca - a angolana - para perguntar, sem aspas e com o ritmo cantado do povo, acentuando a palavrinha "então" no final da frase, para exprimir ao mesmo tempo dúvida e espanto:
- Que liberalismo é esse, então?!

A maka começa com a própria definição conceitual de liberalismo. Comummente, os teóricos distinguem o liberalismo económico (priorização exclusiva da iniciativa privada e esvaziamento tendencialmente total do papel económico do Estado) e o liberalismo social e de costumes (moral, sexual, religioso, etc.). Esses dois grandes modos, digamos assim, liberais não são necessariamente coincidentes. Pode ser-se liberal do ponto de vista económico e conservador do ponto de vista social e de costumes.

Estranhamente, e apesar de ter começado por ser uma filosofia política, as relações entre o liberalismo e a política são, hoje, pouco desenvolvidas teoricamente, talvez por esse seu entendimento ser uma espécie de dado adquirido. A exceção serão os Estados Unidos, onde a palavra "liberal" possui uma assumida carga política, sendo normalmente associada à ala mais progressista do Partido Democrata.

Outra hipótese para tentar explicar a lacuna acabada de referir é que, na realidade, os liberais (economicamente) sabem há muito tempo que o florescimento da iniciativa privada, ou seja, do capitalismo, não tem relação orgânica com o liberalismo político. A história está cheia de exemplos de ditaduras capitalistas onde a economia privada medrou. Em alguns casos, tais países foram considerados exemplos da "bondade" do (neo)liberalismo económico. É o caso do Chile.

Além dos drones assassinos, Pentágono quer também robôs Generais... assassinos


Há anos que temos drones assassinos. Agora o Pentágono quer também robôs Generais


Estrategas militares EUA estão a argumentar seriamente que a avaliação do campo de batalha - incluindo para a guerra nuclear - deveria ser cada vez mais delegada em máquinas. A sofisticação das armas de última geração - nomeadamente os mísseis hipersónicos - e o colossal e permanente afluxo de informação a tratar em cada momento provocam uma compressão do tempo (de avaliação da situação e de resposta) que ultrapassa capacidades humanas. Um cenário de pesadelo que está em construção.

Com a Covid-19 incapacitando um número surpreendente de membros do serviço dos EUA e com as armas modernas a mostrar-se cada vez mais letais, os militares norte-americanos estão cada vez mais frequentemente a apoiar-se em robôs inteligentes para conduzir operações de combate arriscadas.

Tais dispositivos, conhecidos nas forças armadas como “sistemas autónomos de armamento”, incluem sentinelas robóticas, drones de vigilância do campo de batalha e submarinos autónomos. Até agora, por outras palavras, os dispositivos robóticos estão meramente a substituir armamento padrão em campos de batalha convencionais.

Agora, no entanto, pela via de um enorme acréscimo de fé, o Pentágono está a tentar levar este processo a um nível inteiramente novo – substituindo por sistemas robóticos não apenas soldados comuns e as suas armas mas potencialmente almirantes e generais.

É certo que esses sistemas estão ainda em fase de desenvolvimento, mas o Pentágono está agora a acelerar a sua implantação futura como uma questão de urgência nacional. Todos os componentes de um estado-maior general moderno - incluindo planeamento de batalha, recolha de informações, logística, comunicações e tomada de decisão - deve, de acordo com os planos mais recentes do Pentágono, ser entregue a arranjos complexos de sensores, computadores e software. Todos estes serão então integrados num “sistema de sistemas”, agora denominado Comando e Controle Conjunto de Todos os Domínios (Joint All-Domain Command-and-Control ou JADC2, uma vez que as siglas permanecem a essência da vida militar).

Eventualmente, essa amálgama de sistemas pode de facto assumir a maioria das funções actualmente desempenhadas pelos generais norte-americanos e seus oficiais superiores.

A noção de usar máquinas para tomar decisões a nível de comando não é, obviamente, inteiramente nova. Na verdade, até demorou muito a chegar. Durante a Guerra Fria, após a introdução dos mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) com tempos de voo extremamente curtos, tanto os estrategas militares como os escritores de ficção científica começaram a imaginar sistemas mecânicos que controlariam esse armamento nuclear em caso de incapacidade humana.

O Excepcionalismo Americano

Larry Romanoff*

"Bem-vindo à América, Terra da Liberdade", pode ler nas placas do aeroporto internacional de Washington, DC enquanto está na fila para tirar as impressões digitais e serem feitas buscas às cavidades do seu corpo, à procura de dispositivos nucleares de pequenas dimensões.

Poderia ter intitulado este artigo "Lançar o Gato no meio dos Pombos". Numa tentativa de evitar a próxima avalanche de desacordo e confirmo o meu conhecimento das estatísticas produzidas por uma vasta série de indivíduos e instituições de intenções e ideologias amplamente variadas, e que podem "provar" quase tudo que se queira provar, sendo um exemplo fácil, os coeficientes GINI. As estatísticas nas quais este artigo se baseia não foram seleccionadas ao acaso e não podem ser invalidadas pelo descontentamento do leitor.

Os Estados Unidos são os Melhores, Somente, por Serem os Piores

Os Estados Unidos têm, hoje, a maior desigualdade de rendimento per capita de todas as nações ocidentais (1) (2), ultrapassando a China e também mais do que algumas nações subdesenvolvidas. A partir deste ponto, têm a menor mobilidade social da maioria das nações (3), o que significa que está, cada vez mais, a ser impossível melhorar a condição de vida. Se os seus pais não forem educados e ricos, o leitor também nunca o será, e morre o sonho americano. Hoje em dia, os Estados Unidos têm a menor classe média e a maior classe baixa de todas as nações importantes, tendo a classe média sido praticamente estripada em 2008. Esse processo está a ser finalizado hoje e, provavelmente, nunca mais se recuperará. Os americanos são portadores do maior montante de dívidas pessoais entre todas as nações (4), incluindo dívidas de cartão de crédito e empréstimos universitários, cada vez mais difíceis de reembolsar e, agora, os EUA lideram o mundo em falências pessoais (5). De acordo com as estatísticas governamentais, os EUA, desde 2008, têm a menor percentagem de cidadãos com casa própria, apenas 57% (6), ocupando o 43º lugar no mundo, muito abaixo da China que abrange 90% (7), e têm agora uma epidemia virtual de indivíduos sem abrigo em comparação com a maioria das outras nações, com milhões de famílias com crianças na condição de sem abrigo e que não estão referenciadas nessas mesmas estatísticas.

A taxa de pobreza nos Estados Unidos é extraordinária, com estatísticas oficiais referindo esse número em 13%, mas na realidade com mais de 25% da população a viver abaixo da linha de pobreza, na maioria dos casos bem abaixo (8). Também têm a maior percentagem de crianças a viver em estado de pobreza, e quase um terço de todos os cidadãos dos EUA depende de cupões de alimentação e de outras ajudas do governo para sobreviver (9). O desemprego também é extraordinário. De acordo com as estatísticas governamentais, 40% dos americanos em idade produtiva não têm emprego (10) (11), muitos dos demais estão subempregados e trabalham apenas meio período. Só as cidades americanas ou as cidades de nações mais empobrecidas é que contêm áreas tão vastas de decadência urbana e favelas desesperadas como as de Detroit e de Chicago, onde metade das áreas são terras devastadas e violentas, onde não vai ninguém.

Os EUA têm os custos de educação mais elevados e, ainda assim, de modo geral, têm a pior qualidade de educação do mundo desenvolvido, como existe em partes do restante. Leia este artigo (12). Irá abrir-lhe os olhos. Ter, somente, algumas boas escolas ou universidades na totalidade de uma nação, não a qualifica como líder mundial. A prova reside no facto de abranger o mais alto nível de analfabetismo funcional de todas as nações desenvolviddas (25%) e um nível verdadeiramente lendário de ignorância (13). Os Estados Unidos são o único país do mundo onde, nos últimos 60 anos, perante pesquisas repetidas, 75% da população adulta e estudantil não consegue encontrar o seu país no mapa mundial (14). Em comparação com outras nações, os EUA têm os custos de saúde mais elevados, por um factor de dois a dez, e ainda têm uma qualidade geral surpreendentemente má, bem como a maior percentagem de população sem cuidados de saúde (15). De todas as nações desenvolvidas, os EUA têm a maior taxa de mortalidade infantil e a menor expectativa de vida ao nascer e estão muito abaixo de muitas outras (16) (17), ocupando a posição 50 de uma lista de países. Os EUA têm a maior taxa de obesidade de todas as nações, com quase metade da população acima do peso (18), uma das taxas mais altas de doenças sexualmente transmissíveis (19), uma taxa de uso de medicamentos antidepressivos que aumentou 65% em apenas 15 anos  (20), uma crise nacional de uso de opioides (21) e de depressão. Tem as taxas mais elevadas de gravidez e aborto na adolescência de todas as nações desenvolvidas (22), e uma das taxas mais altas de divórcio (23) (24). Tenha em conta que, em muitos estudos internacionais, as estatísticas desse país não são elaboradas porque, como referido pelos observadores, "Os autores deixaram os EUA de fora porque o país é ‘extremamente atípico’. Também têm o maior número de famílias monoparentais (cerca de 30%)  (25) (26), e a maior percentagem de crianças sem pai (cerca de 25%) (27).

A América é um dos dois países mais racistas do mundo, onde não só é permitida a matança aleatória e não provocada de não-brancos, como também geralmente é aprovada. Os americanos são loucos por armas, possuem mais armas do que todo o resto do mundo combinado e mais armas do que todos os polícias e militares do mundo. Transportam-nas e usam-nas em todos os lugares, tendo os índices mais elevados de tiroteios e assassinatos de qualquer nação, com mais de 20 crianças pequenas e mais de 200 adultos a ser enviados todos os dias para os hospitais ou para os cemitérios. Muitas cidades pequenas, como a capital do país, Washington DC, com apenas meio milhão de habitantes, ou lugares como Detroit ou Chicago, têm mais assassinatos por ano (por ordem de grandeza) do que Shanghai, com 25 milhões de habitantes. A taxa geral de homicídios da China é 0,6 e em Shanghai 0,2; nos EUA é 4,0. A taxa de mortalidade por armas de fogo de crianças nos Estados Unidos é 40 vezes maior do que em qualquer outra nação do mundo (28)(29). Os EUA também têm o maior número de crimes efectuados com armas de fogo/ano, um total surpreendente de um mínimo confirmado de 500.000 e cerca de 3 milhões (30) (31), e o maior número de ataques violentos a residências privadas, com mais de 80.000 ocorrências por ano de equipas do SWAT a chutar a porta da frente de alguém a meio da noite, sempre a aterrorizar e às vezes a matar os ocupantes, geralmente sem se identificar e, muitas vezes, a atacar a casa errada. (32) (33).

Os EUA têm uma taxa mais elevada de uso de cocaína e metanfetamina do que qualquer outra nação  (34), graças em grande parte ao sucesso da guerra da CIA contra as drogas, que permite que essa agência importe cocaína com isenção de impostos. Os EUA têm a maior taxa de desigualdade de género (35) entre as nações industrializadas, excedendo muito as nações igualitárias como a China (e os antigos Estados do Iraque e da Líbia). Os EUA têm o maior número de advogados e acções judiciais do mundo, por ordem de magnitude, um reflexo tanto da beligerância natural como da ganância inata. Os americanos gastam por ano, em acções judiciais, o dobro do que gastam em carros novos (36). O Japão tem 14.000 advogados, a China 160.000, os EUA 1,35 milhão (11 advogados por 100.000 habitantes para o Japão e para a China, em comparação com os 300 advogados por cada 100.000 habitantes dos EUA). Os americanos ultrapassam o mundo inteiro na quantidade de consumo inútil, tendo ido muito acima do ponto em que pode ser considerado patológico. Como medida de espaço de shopping per capita, a Alemanha tem 2,7 pés quadrados por pessoa, o Japão tem 3,9 e o Reino Unido tem 5. Para cada consumidor americano, existe 24 pés quadrados de shopping. Os EUA têm, de longe, o nível mais alto de emissões de carbono per capita, graças em grande parte à General Motors, que praticou, repetidamente, o genocídio dos automóveis elétricos.

Qual será a política estrangeira do próximo presidente dos EUA?


Thierry Meyssan*

Os programas dos candidatos Trump e Biden não se parecem com os dos candidatos precedentes. Já não se trata de ajustar os Estados Unidos às evoluções do mundo, mas, antes de definir o que eles serão. A questão é existencial, de modo que é perfeitamente possível que as coisas degenerem e acabem em violência. Para uns, o país deve ser uma nação ao serviço dos cidadãos, para os outros deve restaurar o seu estatuto imperial.

A campanha presidencial norte-americana de 2020 opõe duas visões radicalmente diferentes dos Estados Unidos : império ou nação?

De um lado, a pretensão de Washington de dominar o mundo cercando para isso (« containment ») os potenciais competidores —estratégia enunciada por George Kennan, em 1946, e seguida por todos os presidentes até 2016— ; do outro, a recusa do imperialismo e a vontade de melhorar a sorte dos Norte-americanos em geral —estratégia enunciada pelo Presidente Andrew Jackson (1829-37) e retomada apenas pelo Presidente Donald Trump (2017—20).

Cada um destes dois campos maneja uma retórica que mascara a sua verdadeira prática. Democratas e Republicanos apresentam-se como arautos do «mundo livre» face às «ditaduras», contrários a discriminações raciais, de género e de orientação sexual, e defensores da luta contra o «aquecimento global». Os Jacksonianos, esses, denunciam uma e outra vez a corrupção, a perversidade e, em última instância, a hipocrisia dos precedentes ao mesmo tempo que apelam à luta pela nação, não pelo império.

Os dois campos apenas têm em comum o mesmo culto pela força ; esteja ela ao serviço do império (Democratas e Republicanos) ou da nação (Jacksonianos).

O facto de os Jacksonianos, de maneira inesperada, se terem subitamente tornado maioritários no país e terem tomado o controlo do Partido Republicano acrescenta confusão, mas não deve fazer confundir o trumpismo com aquilo que é a ideologia republicana desde a Segunda Guerra mundial.

Portugal | Auditem, auditem. Sempre com ar de que não são ladrões!


Portugal menor. Dia de curtir com João Silvestre, do Expresso, no Curto. Bom dia, se conseguir. É que João lembra-nos sobre as maldades que nos têm sido infligidas por via do Novo Banco, que é mau. Que é um embuste.

Os portugueses não deitaram para trás das costas o caso Novo Banco nem as vigarices do BES, nem as complacências cúmplices do Banco de Portugal e de certos e incertos políticos, nem o dito por Cavaco em Macau sobre o merecimento de confiança do BES quando todos já sabíamos que íamos ter uma conta gigantesca infligida pelo Salgado intragável que para campanhas eleitorais comprava quase todos os partidos políticos, fora o resto. Os portugueses não esquecem isso. Mas encontram forma de suportar as agruras pensando e dizendo (em muitos casos bem) que “eles são todos uns aldrabões, uns grandes ladrões”. Porém na volta vão votar praticamente nos mesmos de sempre: nos ladrões e nas pandilhas que se alapam aos ladrões, cumpliciando-se. Aquela máfia. E pronto. Lá voltamos sempre ao mesmo quando estoura uma ou outra bronca, um ou vários roubos que transbordam para o conhecimento do “tou xim” que anda por lá nos montes a pastar as cabras e ovelhas. A plebe contida e muito mal paga. Explorada ao estilo esclavagista, com o assentimento dos governantes passados, presentes e futuros – que mentem com todos os dentes que têm e mais umas quantas dentaduras postiças suplementares… É a vida. É sina. É borreguice.

Mais Curto para ler. Por aqui fechamos a loja. O parágrafo anterior diz quanto baste dos da alta finança e dos seus “pinhões de ataque” que são eleitos para os servir e nos tramarem com sorrisos, hipocrisias, mentiras, alçapões legislativos e outras tramas de benefícios que prejudicam os milhões que produzem a riqueza. O esquema é sempre o mesmo, só as variantes é que são ligeiramente diferentes, para baralhar e levar o enriquecimento de alguns a bom porto – gerando prejuízo e miséria na maioria dos plebeus.

Bom dia, se conseguir. Amanhã é quinta-feira, um dia de merda que é igual a tantos outros. Parece que o melhor é nem pensar o quanto estamos a ser enganados… e roubados. Sina de um Portugal menor onde povo que cala consente. E tudo fica no segredo dos deuses, dos vigaristas, dos ladrões.

Curto parido, para quem o quiser. Merece ser lido e "viajarem" nas referências lincadas. Pois.


MM | PG

Portugal | Não esquecer os esquecidos


Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | opinião

De pouco nos vale o contentamento de termos salvo o Serviço Nacional de Saúde (SNS) de si próprio, a expensas de uma pandemia que tirou o chão a todas as convenções e protocolos, se não tivermos aprendido uma lição fundamental: o país não pode esquecer-se novamente dos doentes que ficaram esquecidos. Dos largos milhares de portugueses não atingidos pela covid mas privados de consultas, tratamentos, cirurgias, internamentos, carentes de um simples aconselhamento médico, em demasiados casos órfãos de uma mísera prova de vida do outro lado do telefone.

É natural e desejável que a máquina da saúde se acautele para o inverno que pode fazer despontar uma tempestade perfeita, quanto mais não seja porque continuamos a caminhar sobre o arame escorregadio das projeções. O regresso às aulas, ao trabalho, aos transportes públicos lotados e o impacto de uma sempre imprevisível gripe sazonal são desafios que se tornaram ainda mais exigentes num contexto de tão elevada transmissibilidade do vírus em que desgraçadamente nos encontramos.

Mas uma coisa é adaptarmos o sistema à experiência adquirida e ao pior cenário, outra é fazê-lo de uma forma tão obstinada que acabará por resultar numa disformidade ainda maior. Nunca como agora foi tão clara a relevância de uma saúde pública acessível a todos. Mas os mais recentes números sobre os que ficaram para trás são alarmantes: menos 986 035 consultas nos cuidados primários, menos 16,8 milhões de atos médicos, menos 998 mil consultas externas hospitalares, menos 99 mil cirurgias. Se a atividade programada voltar a ser suspensa, será o caos. Por isso, a mensagem de que o Estado está preparado para responder a uma segunda vaga não pode sobrepor-se à ideia de que o SNS se esgota nessa resposta. As portas têm de continuar abertas para todos os outros. Salvar o sistema é salvar os doentes. Todos os doentes.

*Diretor-adjunto

Oito pré-candidatos a seis meses do fim de mandato de Marcelo


A seis meses do fim do mandato do atual Presidente da República, são já oito os pré-candidatos ao lugar de Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de o nome de um deles ainda ser uma incógnita.

As candidaturas a Presidente da República só são válidas depois de formalmente aceites pelo Tribunal Constitucional, e após a apresentação e verificação de um mínimo de 7.500 e um máximo de 15.000 assinaturas de cidadãos eleitores, até trinta dias antes da data da eleição, que deverá realizar-se no final de janeiro do próximo ano.

Cronologicamente, foi o líder e deputado único do partido Chega, André Ventura, o primeiro a apresentar publicamente a sua intenção de concorrer ao mais alto cargo da nação, em 29 de fevereiro, em Portalegre.

Seguiram-se, no final de julho, as manifestações de vontade de concorrerem a Belém do advogado e fundador da Iniciativa Liberal Tiago Mayan Gonçalves e do presidente do Partido Democrático Republicano (PDR), Bruno Fialho.

Mas foi na semana em que o atual chefe do Estado entra no último semestre do seu mandato de cinco anos (hoje, 9 de setembro) e que, nos termos da Constituição, perde o poder de dissolução da Assembleia da República que o tema das presidenciais entrou em força na agenda política.

Portugal | Marisa Matias faz hoje primeira declaração sobre recandidatura a Belém


A eurodeputada do BE Marisa Matias faz hoje a primeira declaração sobre a sua nova candidatura nas eleições presidenciais do próximo ano, uma sessão com a presença de profissionais que estiveram na primeira linha de combate à pandemia.

Marisa Matias volta a apresentar-se à corrida eleitoral para o Palácio de Belém, depois de em 2016 a eurodeputada e dirigente do BE ter conseguido o melhor resultado de sempre de um candidato presidencial da área política bloquista, ficando em terceiro lugar, com 10,12% dos votos.

A primeira declaração da bloquista no âmbito destas eleições acontece hoje à tarde, no Largo do Carmo, em Lisboa.

Na plateia desta sessão, segundo informação adiantada à agência Lusa, vão marcar presença diferentes profissionais que estiveram na primeira linha do combate à pandemia, entre as quais uma cuidadora, uma cientista, uma trabalhadora de limpezas, um médico, um enfermeiro, um professor, trabalhador da indústria, um trabalhador da recolha do lixo ou um trabalhador dos CTT.

IMAGEM DO DIA - um pequeno timorense mal-nutrido


A fome continua instalada em Timor-Leste, é sabido que quando há crises e lutas pelos poderes - político e militar - as grandes vítimas são as populações. Timor-Leste é o país do sudeste asiático que mais mantinha os níveis de má-nutrição, que posteriormente melhorou ligeiramente, mas que atualmente se prevê que vai piorar, a fome, companhia indesejável dos timorenses, espreita mais esta oportunidade nas contendas dos líderes, militares e civis, todos eles políticos, para se alastrar e vitimar crianças como a que hoje fazemos dela a imagem do dia. Vítima timorense de sub-alimentação. Uma, entre tantas. É mais que tempo das lideranças timorenses deixarem-se de olhar seus umbigos, e os dos seus familiares e amigos(as), de deixarem de esbanjar milhões de dólares e olharem os timorenses, às centenas de milhares, que se ainda não passam fome estão em vias disso. Porque esta crise, a atual crise, continua em ritmo crescente, em que eclesiásticos também causam agitação, em que as secretas australiana e dos EUA se perfilam para ainda avançarem mais, para causarem mais caos - se conseguirem. Atinem, senhores dos poderes terrenos e dos céus,  de Timor-Leste. O importante é esse povo anónimo que tanto tem sofrido. Que não merece padecer de fome nem das consequências dos egoísmos de líderes que se digladiam. A carapuça cabe a todos, a militares, a políticos, aos da economia e finanças, aos da igreja católica, aos dos conluios e nepotismos, aos corruptos, aos ladrões. Por Timor-Leste, sempre. Justiça, liberdade, independência, democracia na realidade, de facto!

Entendam-se, senhores líderes. Olhem o povo, respeitem-no e cumpram o sonho que lhes prometeram e por que há muitas décadas lutaram... Mas de que se desviaram no percurso. Arrepiem caminho!

MM | AV | PG

Hong Kong recusa intervir em caso de grupo detido na China que inclui jovem português


Hong Kong, China, 08 set 2020 (Lusa) - A chefe do executivo de Hong Kong disse hoje que os 12 detidos do território na China, que incluem um jovem com passaporte português, têm de responder às acusações no continente antes de o governo da região poder intervir.

De acordo com a televisão pública RTHK, Carrie Lam foi questionada numa conferência de imprensa sobre se o executivo procurou trazer de volta ao território os 12 ativistas pró-democracia de Hong Kong, detidos pela guarda costeira da província chinesa de Guangdong, em 23 de agosto, por "travessia ilegal", quando se dirigiam para Taiwan, e que incluem Tsz Lun Kok, com nacionalidade portuguesa e chinesa.

"A questão não é uma simples questão de regressar [a Hong Kong]", disse a chefe do executivo aos jornalistas. "Se estes residentes de Hong Kong foram detidos por infrações no continente [chinês], então têm de ser tratados de acordo com as leis do continente, de acordo com a jurisdição, antes que qualquer outra coisa possa acontecer", acrescentou.

Detidos há duas semanas, os 12 ativistas pró-democracia, o mais novo dos quais tem 16 anos, continuam sem acesso a um advogado, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

Japão | Quem será o sucessor de Abe?


David Chan* | Plataforma | opinião

Quem irá substituir Shinzo Abe? O mandato de Abe acaba em 2021, e durante uma aparição pública no canal de televisão NHK no início deste ano, o presidente do Governo japonês referiu que não estava a considerar um quarto mandato. “Não o considerei, nem pensei nisso” afirmou então, continuando: “Os japoneses não sabem quem irá ser o próximo primeiro-ministro”. Na verdade, Abe tem a reeleição em mente, o problema é se a saúde e apoio público o possibilitam. Depois da demissão em 2007, Shinzo Abe, numa entrevista à revista japonesa “Bungeishunj”, contou que sofreu de uma colite ulcerosa aos 17 anos que se tem vindo a agravar. “Tenho de ir à casa de banho mais de 30 vezes por dia, o que simplesmente não me deixa continuar a servir a posição de primeiro-ministro”, disse o governante que anunciou a demissão do cargo por motivos de saúde no passado dia 28 de agosto. A mulher, Akie Abe, implorou-lhe também que deixasse a política.

Entre os membros do partido que poderão suceder Abe, Taro Aso, atual Ministro das Finanças e Vice-primeiro-ministro, é o favorito. Taro Aso é experiente a nível diplomático, porém o posicionamento face à China é bastante rígido. No que diz respeito à opinião publica, segundo a edição chinesa do jornal The Nikkei, os dois possíveis sucessores que têm crescido em popularidade são Shigeru Ishiba e Shinjiro Koizumi. O primeiro é um veterano da política com 63 anos, membro do Parlamento há 34, que já foi Ministro da Defesa, da Agricultura, Silvicultura e Pescas, entre outros cargos relevantes. Foi ainda apontado como Secretário-Geral do Partido Liberal Democrático, tendo sido nomeado duas vezes por Abe. A segunda escolha do público – Shinjiro Koizumi – vem de uma família com poder militar, político e financeiro. O facto de Ishiba e Abe não possuírem uma boa relação faz com que Koizumi seja popular com o público, mas o apoio dentro do partido é fraco. Mesmo Ishiba apenas possui 19 votos no parlamento, incluindo o próprio, quando precisa de 20 para se candidatar às eleições, e Koizumi precisa de crescer ainda mais. A vida tranquila que sempre viveu faz ainda com que não entenda as dificuldades dos tempos modernos. 

Outras possíveis escolhas são Fumio Kishida (presidente do Conselho de Investigação do Partido Liberal Democrático), Yoshihide Suga (Secretário-Geral do Gabinete) e Taro Kono (Ministro dos Negócios Estrangeiros). Os três possuem planos políticos completos, têm assumido cargos relevantes há bastante tempo e adotam uma posição madura em política externa, todavia não têm grande apoio do público. Resta saber quem conseguirá vencer as eleições no partido e suceder a Abe.

*Editor Senior

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