Octávio Serrano* | opinião
Espanta-se qualquer um, que esteja de fora, do nível de confrontação politica que tem acontecido nos Estados Unidos; da clivagem profunda entre Republicanos e Democratas; que nas recentes eleições se traduziu no antagonismo politico quase violento entre Trump e Biden; uma polarização que partiu ao meio a sociedade americana; mas como chegaram àquele ponto? Poderão existir muitos motivos, mas eu concentro-me apenas num aspecto determinante; o económico!
Actualmente, a América está refém do capitalismo neoliberal globalista; e isto quer dizer que o Estado Americano, esteja quem estiver a dirigi-lo, perdeu completamente a capacidade de controlar os grandes interesses económicos transnacionais; antes pelo contrário, estes têm a capacidade total de controlar o poder politico em Washington, através do financiamento das campanhas eleitorais e do controlo dos meios de comunicação social; se o presidente Roosevelt cá voltasse, levava as suas mãos à cabeça!
Mas o capitalismo neoliberal, não subjuga apenas o Estado Americano; subjuga também o seu capitalismo de base; aquele que tem definido, desde sempre a Nação Americana, como uma terra de oportunidades; um país, em que qualquer um, que quisesse lutar por uma vida melhor, tinha a esperança de o conseguir; e o facto, é que esse capitalismo de base, inclusivo, de gente que trabalha, está a ser pouco a pouco esmagado; a concorrência mercantil de fronteiras abertas tem provocado a desindustrialização da América e a terceirização da sua economia; transferindo para o estrangeiro sectores produtivos fundamentais; obrigando à precarização laboral e à redução de poder de compra da generalidade da população.
A base do capitalismo neoliberal globalista, são os fundos financeiros geridos ou controlados por grupos económicos como por exemplo a Goldman Sachs; não existindo fronteiras para movimentação de capitais; estes são investidos globalmente, onde a promessa de lucros financeiros se revele mais atractiva; e isto quer dizer, que um prego será produzido no lugar, em que for mais lucrativo de o fazer; quer também dizer, que o capital aflui aos negócios que se possam revelar mais rentáveis; veja-se a especulação financeira que tem acontecido, com as acções das companhias que fabricam as vacinas para o Covid 19; e podem ser retirados de sectores, que ameaçem não sobreviver, ou cuja rentabilidade diminua; nenhum governo americano, tem tido qualquer controlo sobre estes processos financeiros!
Antes pelo contrário; o FED americano é forçado a subsidiá-lo continuamente; através da emissão de crédito e do aumento incomensurável da divida publica; que tenta continuamente, fornecer oxigénio financeiro ao sistema; através da emissão massiva de dólares; desse modo conseguem que a especulação financeira global floresça, com base na promessa de lucros eternos; e que o capitalismo de base sobreviva com dificuldades, apenas com base no consumo interno subsidiado; consumo que é muito superior, ao que os consumidores americanos efectivamente produzem; dai, o aumento constante e acelerado, da divida da Nação americana.
Só o facto de se tratar de uma grande potência, com superioridade armamentista, até há pouco tempo esmagadora, tem permitido a sua sobrevivência; pois qualquer outro país já teria entrado há muito em bancarrota; na realidade, é o resto do mundo, que tem suportado aquela loucura despesista, sem controlo; através da aceitação como boa, da divida americana ao Mundo!
Trump foi eleito pelo capitalismo de base interno; para fazer alguma coisa, que permitisse controlar o capitalismo globalista; constatou-se a sua impotência e cumplicidade; em vez disso, e para manter o poder, entrou num percurso demagogo e alienante para a sociedade americana; que mais não fez do que desestabilizar o sistema politico dos Estados Unidos.
Pergunta-se! Para onde vai a América? Ninguém sabe! Mas os sintomas da doença estão bem presentes; se têm cura ou não, nem os próprios protagonistas o saberão!
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