quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Unilabs: a privada que inoculou vacinas “estragadas” - Porto

Vice-almirante. Centro de vacinas da Unilabs "não tem a nossa confiança para voltar a funcionar"

Gouveia e Melo disse ao Porto Canal que os meios da Unilabs "estiveram um dia e meio a inocular" vacinas sobre as quais não se conhecem as condições. Se estavam estragadas, por exemplo. E em cima disto ainda demorou "mais de 24 horas" até a task force ser informada do problema.

O centro de vacinação covid-19 operado pela empresa Unilabs no Porto (no espaço do Queimódromo), o único no país que é gerido por privados, esteve a administrar vacinas de qualidade muito duvidosa "durante um dia e meio" e quando o problema foi detetado, já tardiamente, ocorreu uma demora adicional de "mais de 24 horas" até a task-force da vacinação ser notificada, declarou o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, ao Porto Canal, esta quarta-feira.

Posto isto, o chefe máximo da task-force diz que o espaço da Unilabs não tem condições para trabalhar.

"Enquanto não vêm os resultados [do inquérito entretanto aberto] e nós não percebermos o que é que aconteceu, neste momento, este CVC [centro de vacinação covid-19] não tem a confiança da task-force para poder voltar a funcionar", disse o militar ao canal de televisão baseado no Porto.

Em comunicado, fonte oficial da equipa de Gouveia e Melo explica que "os factos ocorridos referem-se a uma quebra na cadeia de frio e à inoculação ocorrida a 9 de agosto (durante todo o dia) e 10 de agosto (no período da manhã) de vacinas que estiveram armazenadas fora dos parâmetros normais de temperatura estabelecidos".

Ou seja, há fortes dúvidas sobre se o acondicionamento estava bem feito, permitindo uma nivelação adequada da temperatura necessária para assegurar a melhor qualidade das vacinas.

Fonte oficial da task-force diz ainda que "os funcionários deste centro de vacinação, quando se aperceberam, interromperam a administração das vacinas dos lotes que tinham estado armazenados fora dos parâmetros adequados da cadeia de frio". Problema: isto só aconteceu "a meio do dia 10", segundo o vice-almirante.

Gouveia e Melo diz mesmo que "estiveram um dia e meio a inocular" vacinas em relação às quais não se conhecem as condições de qualidade. E que em cima disto ainda demorou "mais de 24 horas" até a task-force ser informada do problema.

"Atraso de 24 horas ou mais na notificação do problema"

Há um "atraso na notificação". "Desde o momento em que pararam porque perceberam que havia um problema [a meio do dia 10] até que eu ser notificado passaram mais de 24 horas", afirmou ainda o chefe da missão de vacinação ao Porto Canal. O vice-almirante afirma que só foi "notificado às 18h30 do dia 11 de agosto".

Fonte da mesma missão refere que "esta comunicação só chegou ao conhecimento da task-force, através da ARS Norte, ao final do dia de 11 de agosto, data a partir da qual foram dadas instruções, após rápida concordância do Ministério da Saúde, para suspender as operações deste centro de vacinação".

"A ocorrência foi de imediato encaminhada para a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), Polícia Judiciária (PJ) e Administração Regional de Saúde (ARS) Norte, tendo sido aberto um inquérito que se encontra em curso."

O inquérito em curso tem três focos. "O motivo que levou à quebra na cadeia de frio; os procedimentos efetuados por este centro, uma vez que a quebra na cadeia de frio não foi detetada, originando a inoculação de vacinas que estiveram armazenadas fora dos parâmetros normais de temperatura estabelecidos; e o atraso na notificação da ocorrência, uma vez que a task-force só teve conhecimento do sucedido no final da tarde de 11 de agosto, através da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte", diz a nota oficial.

E Unilabs só deu pelo problema no dia seguinte

A responsável pelo centro de vacinação do Queimódromo do Porto, a Unilabs, disse esta quarta-feira ao Público que "reportou a falha na cadeia de frio às autoridades de saúde presentes no local", o Agrupamento dos Centros de Saúde (Aces) do Porto Ocidental, a 10 de agosto, terça-feira, mal o problema foi detetado.

Ainda segundo o Público, a Unilabs garante que "foram seguidos todos os protocolos e pedidos de informação que vieram dessa entidade da ARS [Administração Regional de Saúde] do Norte, no próprio dia e nos dias subsequentes, com a maior celeridade e total transparência".

Mas para o vice-almirante o problema parece ser maior e mais complexo do que isto. É que a ameaça à integridade e qualidade das vacinas terá começado dia 9 de manhã. Ou até antes, não se sabe.

A Unilabs diz que só detetou o problema no dia 10. Segundo o vice-almirante, a meio desse dia 10, terça-feira. O que dá a tal janela de desconhecimento de dia e meio sobre o que realmente se passou com as vacinas que entretanto foram sendo administradas.

O que em si levanta um outro problema: estamos perante um risco sério para a saúde pública e para o sucesso da campanha de vacinação.

Centro de vacinas do Queimódromo abriu há pouco mais de um mês

Este centro de vacinas do Queimódromo do Porto foi inaugurado no passado dia 8 de julho, há pouco mais de um mês.

Segundo a Unilabs, "a 8 de julho, a Unilabs Portugal, a Câmara Municipal do Porto, a ARS Norte e o Centro Hospitalar Universitário de São João abriram este primeiro centro de vacinação covid-19 em drive thru [os utentes chegam de carro e são vacinados sem sair do veículo], no Queimódromo do Porto".

"Numa fase inicial de piloto, com intuito de aperfeiçoar o processo, o drive thru conta com 12 linhas de vacinação, que permitirão uma vacinação em larga escala, com cerca de 2 mil inoculações diárias, com toda a segurança, conforto e rapidez que o processo exige", diz ainda a empresa.

"O centro de vacinação foi preparado em fevereiro foi assegurado a custo zero" pela Unilabs Portugal, pela Câmara do Porto e pelo Hospital de São João. Teve luz verde para abrir em julho passado.

A Unilabs é, segundo a própria, "uma rede nacional com mais de 1000 unidades de atendimento em Análises Clínicas, Anatomia Patológica, Cardiologia, Gastrenterologia, Genética Médica, Medicina Nuclear e Radiologia".

O grupo de origem suíça nascido em 1987 entrou em Portugal "em janeiro de 2006 com a aquisição de 85% da empresa Medicina Laboratorial Dr. Carlos Torres", diz a Unilabs Portugal.

Luís Reis Ribeiro | Dinheiro Vivo

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