Martinho Júnior, Luanda
UMAS POUCAS LIÇÕES A TIRAR
O balanço do conhecimento por analogia, do tratamento dado pelo espectro criador de audiências em Portugal em relação a dois fenómenos que afectaram em Angola o MPLA e a Unita, é sintomático e revelador dos interesses e conveniências da democracia burguesa à portuguesa, segundo as filtragens de relacionamento bilateral feitas pelo “arco de governação”:
. Por um lado é manifesto o vigor e a continuidade da “transversal” propaganda veladamente consentida em Portugal, em nome da “liberdade da imprensa”, em relação ao golpe do 27 de Maio de 1977 contra o poder de estado da República Popular de Angola, cerca de ano e meio anos depois da sua proclamação (que perdura até nossos dias);
. Por outro lado é evidente a relativa indiferença ou inibição da comunicação pública em relação ao episódio da “queima das bruxas” na Jamba por iniciativa directa de Savimbi, mesmo quando a jornalista e membro da Unita de nome Bela Malaquias expôs os terríveis acontecimentos em livro, sob o título “Heroínas da dignidade” (acontecimento que jamais foi tratado enquanto propaganda continuada e intensa).
A radiografia que esse balanço implica, denota em jeito de apreciações e conclusões que, mesmo depois do 31 de Maio de 1991 em Bicesse, (que impôs o fim da República Popular de Angola, o fim do Partido do Trabalho, o fim das FAPLA e a justificação para as profundas alterações na Segurança do Estado registadas em preparação 5 anos antes de Bicesse), a República de Angola (por tabela o Movimento de Libertação em África) continuava a ser um alvo a abater (e para isso era oportuno manter ou até intensificar a campanha de propaganda fraccionista dirigida contra o estado angolano, “os do interior contra os que vieram do exterior e das matas”, conforme Juca Valentim o ideólogo do fraccionismo tão esquecido pelos próprios, qualquer que fosse o seu carácter e tendo em conta as vitórias eleitorais do MPLA) e a Unita era um “parceiro a salvar”, numa base de saudosismo colonial próprio dum marcelista ao dispôr e “bom branco”, de fluidez etno-nacionalista e numa profunda identidade de interesses, conveniências e até funcionalidades.