quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

A EXTREMA DIREITA E O TRIUNFO DA ESTUPIDEZ (2)

Daniel Vaz de Carvalho

1Falámos da estupidez funcional, Noam Chomsky fala-nos da estupidez institucional:   "A estupidez apresenta-se de diversas formas, em particular a que me parece mais problemática de todas poderia chamar-se a estupidez institucional. É uma espécie de estupidez que permanece completamente racional se se considera no quadro em que opera, porém é o próprio quadro que evolui entre o grotesco e uma virtual loucura".

Um exemplo da "estupidez institucional" é a democracia liberal", o neoliberalismo, que o sr Fukuyama disse ser o fim da História. Apesar dos milhões de dólares que ganhou com a presunção que é apanágio dos ignorantes, não passa disto mesmo. A tal "democracia liberal", trouxe caos, guerras, instabilidade social, gritantes desigualdades, a paz sequestrada sob dramáticas ameaças nucleares.

Mas este padrão não se aplica apenas à extrema-direita, mas também às políticas social-democratas, políticas de direita, que adotam a "democracia" dos oligarcas. No mesmo sentido, o discurso de comentadores pode ser perfeitamente lógico, embora evoluindo sem relação com a realidade causal, em circunlóquios sobre aparências.

A extrema-direita, nas suas versões melíflua, snobe ou arruaceira, afirma-se contra "o sistema", porém pretende tenazmente aprofundar o status quo neoliberal existente. O seu grande objetivo é abater na Constituição democrática os direitos nela consagrados apesar das revisões feitas para desvirtuar o espírito do 25 de ABRIL. Seguem a mais canónica das tradições reacionárias: querem parecer inconformados, rebeldes, mas acabam defendendo o pior do sistema que tem levando ao limite possível as ditas "reformas estruturais".

Nos desideratos da extrema-direita, está inscrita a liberdade de facto irrestrita para o grande capital, tudo isto mascarado com o "bem comum", tradição, espírito cristão e "interesses económicos", decalques do fascismo salazarista. Efetivamente, como disse Jonh Keneth Galbraith: "o conservadorismo moderno está comprometido com um dos exercícios mais antigos que se conhecem: a procura de uma justificação moral para o egoísmo".

As elevadas taxas de abstenção não só ao voto, mas à participação cívica e sindical, coadunam-se com a "democracia liberal" que permite à oligarquia conservar o poder e criar divisões entre as forças populares. Representam um triunfo do discurso populista contra os "políticos" para que reais alternativas sejam escamoteadas, não passem para a opinião pública, não se tornem suas.

O neoliberalismo é, com o fascismo, o mais violento meio de promoção das desigualdades. "Cada dia se imporá com mais clareza que o liberalismo económico é uma das formas mais revoltantes de privilégio e despotismo", disse um dos fundadores da Seara Nova, Raul Proença. O neoliberalismo coloca os países, os povos à mercê dos interesses das "elites" financeiras, "que com os seus sicários chantageiam os povos, subvertem Constituições democráticas e culpabilizam trabalhadores pelos seus direitos. De facto, a truculência da extrema-direita contra o "sistema" esvai-se ao adotar o que mais reacionário ele representa: o conformismo neoliberal.

A “COSA NOSTRA” E O “HEGEMON”

Martinho Júnior, Luanda

Desde o início da Revolução industrial que o capitalismo procurou lucrar apropriando-se e a “fome” de expansão e de lucro fazem parte da sua essência, numa dose de cada vez mais voraz barbaridade, em termos dos dois intrínsecos conceitos provocarem múltiplas implicações no tão frágil binómio humanidade – Mãe Terra!

Nessa espiral de selvageria prevalece logicamente a lei do mais forte, mesmo que as casas bancárias da aristocracia financeira mundial, ela própria já sem capacidade de melhor se equilibrar em função do pendor para o ocaso, “apostem em todos os tabuleiros”, o que é muito difícil conseguir por que há a degradação geral, incluindo a degradação das máfias e dos cartéis, enquistadas na degradação do próprio planeta!

Com a cada vez maior tendência para o consumo de recursos da Mãe Terra acima de sua capacidade de regeneração, a apropriação agudizou-se e o lucro entrou por caminhos especulativos escondido sob o rótulo de “filantropia”

É esse o bárbaro sentido contrário do que se pede à civilização, que só pode ser assumida colectivamente numa lógica com sentido de vida e cada vez com mais quesitos de segurança vital!...

Entre os sectores mais críticos onde esse fenómeno causa abalos em cascata, está o sector das energias e tanto pior quando no “hegemon” unipolar esse sector está também indexado ao domínio e ao complexo industrial do armamento, na base da emissão do dólar-papel e do seu lastro global!... A Rand Corporation fundada em 1945 é um think thank que por si explica o esquema instrumentalizado e tentacular!

Essa “super bolha” pode chegar a uma explosão de tal ordem que pode “providenciar” uma repentina catástrofe colectiva!

Não há “democracia representativa” alguma que se possa fazer prevalecer nos termos das presentes conjunturas e condições!...

Angola | O MELHOR DA VIDA SÃO OS EQUÍVOCOS

Artur Queiroz*, Luanda

Os nazis diziam que o trabalho liberta. Os patrões perceberam a mensagem e começaram a calcular os salários pagando com 99 por cento de liberdade e um por cento em dinheiro. Um avanço civilizacional, se tivermos em conta escravos, servos da gleba e os nossos desgraçados contratados que não recebiam liberdade nem dinheiro, apenas um suplemento de fuba podre, peixe podre e porrada se refilares. Depois vieram os sindicatos. Nós temos a UNTA mas desapareceu em combate. 

O prestimoso Jornal de Angola é odiado pelo engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior e toda a Oposição. Odiado e espezinhado pelo Sindicato dos Jornalistas. Odiado e abusado pelo João Melo, que faz dele moeda de troca para a sua promoção no Diário de Notícias, brasão do Galinha, uma espécie de chefe da extrema-direita mediática portuguesa. Após a golpada do 10 de Janeiro, o nosso diário generalista publicou um texto de opinião onde nos ensinam o que é sindicalismo. Ontem mais um texto opinativo garantindo que há o direito à greve e os taxistas são uma peste quase tão incómoda como o COVI19.

Alto lá com os equívocos. Sindicalismo é actividade de sindicatos. Onde estão as organizações sindicais dos taxistas? Apontem uma, por favor. Direito à greve é para trabalhadores, os tais que recebem uma fatia leonina em liberdade e um nadinha em dinheiro. Os filiados na Associação dos Taxistas de Angola (ATA) são assalariados ou patrões? E a associação é patronal ou sindical? Fui consultar e é de patrões. Os bosses fazem greves? Cuidado com os equívocos.

Leonardo Lopes é o presidente da Cooperativa dos Taxistas Unidos de Angola e teve de pegar em megafones para informar a opinião pública que as cooperativas de taxistas não aderiram à greve da golpada no dia 10 de Janeiro. Cooperantes não são trabalhadores pagos com liberdade às toneladas e um nadinha de dinheiro. Cuidado com os equívocos.

ONG pede a Angola que investigue agressões a jornalistas na greve de taxistas

O Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) apelou às autoridades angolanas para que garantam a segurança dos repórteres e investiguem agressões contra a comunicação social durante a recente greve de taxistas.

"As autoridades angolanas devem garantir a segurança dos jornalistas que cobrem os protestos e investigar os recentes incidentes de agressão", disse esta quarta-feira (19.01) a organização não-governamental com sede em Nova Iorque, em comunicado.

No dia 10 de janeiro, seis jornalistas dos canais angolanos TV Zimbo e TV Palanca sofreram uma tentativa de linchamento quando reportavam incidentes ocorridos em Luanda durante uma paralisação de taxistas em Luanda. 

No seu comunicado, a CPJ conta que falou com os jornalistas por telefone e relata que o repórter da TV Zimbo Telmo Gama e o operador de câmara Justino Campos, bem como os jornalistas da TV Palanca Anselmo Nhati e Orlando Luís e os operadores de câmara António Luamba e Daniel Lutaka estavam a cobrir o protesto quando algumas pessoas se viraram contra eles, chamando-os "vendidos".

Os jornalistas foram agredidos e tiveram de fugir porque o protesto se tornou violento, relata a CPJ.

OBJECTIVO: ANGOLA

Kuma | Tribuna de Angola | opinião

Nada é por acaso, não é à toa que os capatazes do capital especulativo foram chamados aos centros de decisão, Israel, Singapura, Dubai, onde são recrutados os peões que se encaixam no jogo sujo da especulação.

Hoje mesmo em Londres e Nova York o petróleo atingiu os 85 Usd$ e, simultaneamente as maiores agências de cotação financeira e bancos do mundo, como o Goldman Sachs e o Deloitte Touche Tohmatsu, lançaram a previsão de a breve trecho o crude/brent atingir os 100 Usd$.

Eis a razão da agitação política e investimentos nas mudanças que sirvam os objectivos dos tradicionais capitalistas insaciáveis que apostam em governantes vulneráveis sem vínculo patriótico nem objectivos políticos claros, para marionetas dos seus caprichos.

Adalberto Costa Júnior encaixa como uma luva no perfil destes objectivos, e a sua aliança com Isabel dos Santos é o cenário ideal para Angola que passa a ser um horizonte no apetite destes mercenários do saque, para isso cumpre a missão suplementar de juntar toda a Oposição para com urgência derrubar o Governo.

Angola | LUANDA TEVE LUZ NUM PARTO DIFÍCIL

Artur Queiroz*, Luanda

A população da capital sofreu sempre muito por causa da luz eléctrica. Mesmo quando esforçados engenheiros e outros técnicos da Luz e Água de Luanda (LAL) assumiram a responsabilidade de iluminar as casas das e dos luandenses. Mas a partir de 1930, a cidade estava bem iluminada e quem tinha dinheiro, podia acender a luz com um simples toque nos interruptores. Adeus candeeiros a pitrol e os revolucionários “petromax” que iluminavam à pressão. Até este ano luminoso, muito caminho foi necessário percorrer e muito pedregulho partir.

Em 1904, o governo português decidiu fazer o aproveitamento da energia das águas correntes do rio Dange (ou Dande) no sobado das Mabubas. O projecto teve como base estudos do Engenheiro Miranda Guedes. E foi atribuída uma concessão de exploração à Companhia Agrícola do Dande, mais tarde Companhia de Açúcar de Angola, proprietária da majestática Fazenda Tentativa, mais tarde Heróis de Caxito. Tudo domínios do magnata Sousa Lara, o rei do açúcar entre Caxito e Catumbela. 

O objectivo primário era electrificar a refinaria da Fazenda Tentativa. O segundo, era abastecer Luanda, bem perto das Mabubas. Estava muito dinheiro em jogo. A I Guerra Mundial fez adormecer o ousado projecto.

Em 1920, três capitalistas não identificados, pediram uma licença para novos estudos. Falharam. Em 1923, um grupo de empresários e engenheiros luandenses obteve nova licença. Caducou porque ao fim de seis anos, nada apresentaram. Em 1942, 19 anos depois, a Sociedade Técnica de Engenharia, obteve uma nova concessão. Pretendia fabricar energia eléctrica nas Mabubas para inundar Luanda de luz. Desta vez não falhou porque o Governo-Geral de Angola, no mandato de Vasco Lopes Alves, adquiriu o projecto e assumiu as obras e equipamento da barragem das Mabubas.

Mesmo assim andava tudo a passo de camaleão. As obras arrancaram em força no início de 1949, já no mandato do governador Agapito (José Agapito da Silva Carvalho). A primeira fase entrou em produção no começo de Abril de 1954. O presidente da República Portuguesa, Francisco Higino Craveiro Lopes, inaugurou a obra. Luanda estava em vias de ser uma cidade iluminada. Mas vamos ao primeiro passo.

Abertura das escolas faz disparar casos. 500 mil em apenas duas semanas

PORTUGAL

A Ómicron mudou a realidade portuguesa em apenas uma semana. E, agora, diz o professor Carlos Antunes, que faz a modelação da evolução da doença, vai ser necessário "reformular as projeções que foram feitas com base na onda gerada pela Delta ainda em dezembro". Na faixa etária dos 0 aos 5 anos, casos aumentaram 236%.

Portugal ultrapassou ontem a barreira dos dois milhões de infetados pelo SARS-CoV-2. Ao todo, há agora 2 003 169 de pessoas atingidas pelo vírus, desde o dia em que se registaram os primeiros casos no país, 2 de março de 2020, e que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia.

Ao fim de quase dois anos, e quando muitos já falam de se começar a olhar de outra forma e com outras regras para a covid-19 (encarando-a como uma doença infeciosa normal, a exemplo da gripe), a nova variante Ómicron, identificada na África do Sul a 21 de novembro, faz disparar os casos nas primeiras duas semanas de janeiro. Em 13 dias, o país registou 500 mil casos, quando precisou de um ano e cinco meses até atingir um milhão de infetados (o que aconteceu a 14 de agosto de 2021), de cinco meses para chegar aos 1,5 milhões, no dia 6 de janeiro de 2022, e só deste dia até ontem para alcançar os dois milhões. Tudo por culpa da Ómicron, a variante que tem três linhagens - a BA.1, BA.2 e a BA.3 - e que já foi considerada o vírus mais contagiante de toda a História.

Até agora, os estudos realizados e a própria realidade já demonstraram que o seu grau de contagiosidade é muito superior ao da Delta, mas que é menos severa na sintomatologia. No entanto, na terça-feira, o alerta em relação a esta narrativa surge do próprio diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, ao pedir ao mundo "que não se deixe enganar pela narrativa de que a Ómicron é uma variante mais leve", porque, mesmo assim, "continua a tirar vidas". "Que todos se continuem a proteger da infeção, porque a pandemia ainda está longe do fim", apelou.

Portugal | CONFINADOS VÃO VOTAR E MÉDICOS CRITICAM “EXCEÇÃO”

Médicos de saúde pública criticam “exceção” para eleitores confinados e pedem escusa de responsabilidade civil. “A partir de agora, vamos ter pessoas a recusarem-se a fazer confinamento”

Para Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, "tudo isto era evitável" se "quem de direito" tivesse "preparado a lei eleitoral para que o voto eletrónico fosse possível" ou montado uma estrutura "para recolher votos no domicílio". "Houve uma falha total na preparação das eleições." A associação de que é presidente recomenda o voto antecipado e que sejam assegurados locais e horários específicos para o voto dos eleitores em confinamento

Permitir que os eleitores em confinamento possam votar nas eleições legislativas de 30 de janeiro é “abrir uma exceção” que levará a que, noutras circunstâncias, haja pessoas a “recusarem-se a cumprir” o período de isolamento profilático a que estão obrigadas quando estão infetadas com o vírus ou há suspeita de infeção.

O cenário é antecipado ao Expresso por Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), que recomendou aos médicos desta área que peçam escusas de responsabilidade civil. “A nossa capacidade de intervenção na pandemia fica limitada. A partir de agora, vamos ter pessoas a recusarem-se a fazer confinamento e não haverá uma forma séria de lhes dizer que têm de cumprir essa medida. Todas as indicações que dávamos às pessoas perdem força com isto”, diz o presidente da associação, comparando esta decisão com as que foram tomadas em relação aos funerais.

“Ao longo destes dois últimos anos chegámos a impedir pessoas de estarem presentes em funerais de familiares diretos, que são momentos mais marcantes do que um voto eleitoral.” Não porque o direito ao voto “não seja fundamental”, ressalva, mas porque havia “alternativas” que não foram consideradas para as eleições, aponta. Admite, porém, não saber que consequências terá a decisão anunciada pelo Governo nos números da pandemia em Portugal. “Não temos noção do que vai acontecer.”

Portugal | MAIORIA ABSOLUTA


Henrique Monteiro | HenriCartoon

Portugal | À TERCEIRA SÓ QUEM É TOLO

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

Ponto prévio: Se um cidadão já tem 18 anos, se não tem problemas de saúde, se não vai de viagem para fora do país, não há muitos mais argumentos razoáveis para não votar. Há partidos e propostas em número suficiente. E há o voto em branco ou nulo. Não há conversa de café que justifique o desperdício de exercer o direito ou o desprezo pelo dever de votar. É assim, pelo menos, em tempos normais.

O problema é que não vivemos tempos normais. Apreciemos ou não as medidas de controlo sanitário, vivemos em pandemia. Que atirou muita gente para uma cama de hospital, para uma unidade de cuidados intensivos e até para a morgue. É natural, portanto, que haja receios. E que haja condicionalismos, regras mais apertadas, filas mais longas. Para tudo, incluindo o voto.

Não se pede um milagre aos poderes públicos. Haverá sempre perturbações. Não precisa de levar o cidadão ao colo até à urna de voto. Mas pode e deve exigir-se que organize tudo em devido tempo. Que não fomente equívocos. Que facilite e não complique. Como diz o provérbio, à primeira qualquer cai, à segunda cai quem quer. E há até uma versão na Internet que acrescenta que à terceira só cai quem é tolo. Nem de propósito, Portugal já vai nas terceiras eleições em pandemia.

Foi só a 5 de janeiro passado, tarde e a más horas, que o Governo pediu parecer aos magistrados sobre a possibilidade de permitir aos cidadãos isolados (serão cerca de meio milhão de pessoas no próximo dia 30) uma exceção que lhes permitisse exercer o seu direito ao voto. Duas semanas depois, estamos na mesma. Ou não há parecer, ou está metido na gaveta.

Também foi só depois da pressão pública dos autarcas que o Ministério da Administração Interna anunciou uma conferência de Imprensa, para dar conta das "regras claras" que lhe exigiram. Tão depressa marcou, como desmarcou. Fica para hoje (ou para amanhã, ou depois, tanto dá). Só faltam 13 dias para as eleições? É pouco? Calma, nós somos bons é a improvisar. Ou então apenas um pouco tolos. Segundo o provérbio.

*Diretor-adjunto

Lusomiséria | Crianças e trabalhadores estão entre os mais pobres em Portugal

Há mais de 330 mil crianças em risco de pobreza, segundo o relatório «Portugal, Balanço Social 2021», que mostra também que 11,2% das pessoas empregadas em Portugal são pobres.

De acordo com o relatório, apresentado esta terça-feira, e da autoria dos investigadores Susana Peralta, Bruno Carvalho e Mariana Esteves, da Nova School of Business & Economics, uma das faculdades da Universidade Nova de Lisboa, «as crianças [0 aos 17 anos] são um dos grupos da população mais vulnerável a situações de pobreza e exclusão social».

«A taxa de risco de pobreza entre as crianças aumentou entre 2018 e 2019 (de 18,5% para 19,1%). Isto significa que há, em 2019, mais de 330 mil menores pobres em Portugal», lê-se no relatório.

Por outro lado, a pobreza afetava 25,5% das famílias monoparentais, ou seja, cerca de um quarto de todos os agregados familiares, tendo esse valor diminuído 8,4 pontos percentuais em relação a 2018, apesar de estas famílias continuarem a ser o tipo de agregado com maior taxa de risco de pobreza.

No que diz respeito a carências habitacionais e alimentares, e já em relação a 2020, «mais de uma em cada quatro crianças vivia em casas com telhado, paredes, janelas e chão permeáveis à água ou apodrecidos», enquanto 11% das habitações não tinha aquecimento adequado.

«A incapacidade de comer, pelo menos de dois em dois dias, uma refeição de carne, peixe (ou equivalente vegetariano), manteve-se estável nos últimos três anos, com uma ligeira melhoria em 2020 (de 1,9% para 1,8%)», referem os investigadores.

Já no que diz respeito à escolaridade, o documento salienta o «papel importante» que esta tem na mitigação da transmissão intergeracional da pobreza, salientando que nos anos anteriores à escolaridade obrigatória, o rendimento das famílias está relacionado com a frequência da creche e do ensino pré-escolar e revelando que «quase sete em cada 10 crianças pobres não tem acesso a creche e, entre os 4 e os 7 anos, as mais pobres são as que menos frequentam o pré-escolar».

«No ensino obrigatório, são estas crianças que tiveram piores resultados do que as de meios socioeconómicos menos desfavorecidos, no Estudo Diagnóstico para os alunos do 3.º ano, realizado pelo Instituto de Avaliação Educativa em janeiro de 2021, para apurar os atrasos na aquisição de competências em virtude da crise pandémica», destaca.

As crianças são também uma das faces mais preocupantes quando se fala da taxa de risco da pobreza persistente, ou seja, «percentagem de pessoas que está em risco de pobreza num ano e também o esteve na maioria dos três anos anteriores», já que em 2019 essa taxa era de 9,8%, mas o valor entre as crianças chegava aos 30,3%.

Quer isto dizer que praticamente três crianças em cada 10 estiveram numa situação de pobreza em pelo menos um dos anos do período em análise, ou seja, entre 2016 e 2019, valor que baixa para 10,5% se só for considerado um ano, ainda que 8,9% das crianças tenham sido pobres nos quatro anos.

Sérvia apresenta processos contra a NATO pelos bombardeamentos de 1999

As vítimas sérvias dos bombardeamentos de 1999 estão a apresentar processos judiciais contra a NATO pela utilização de urânio empobrecido durante os ataques aéreos.

Srdjan Aleksic, o advogado que lidera a equipa jurídica, disse à Sputnik que têm estado a juntar casos com provas materiais, há vários anos.

«Estamos a entrar com acções na quarta-feira nos tribunais das cidades de Belgrado, Novi Sad, Kragujevac, Nis e Vranje. Estamos a falar dos tribunais superiores, nos quais vamos abrir cinco processos. As vítimas são pessoas físicas – soldados falecidos e doentes e policias da República Federal da Jugoslávia, que estiveram no Kosovo em 1999. Na primeira fase, queremos que sejam casos idênticos, como no caso dos militares italianos», disse Aleksic.

Os processos contra a NATO são apresentados com o apoio e a colaboração do advogado italiano Angelo Fiore Tartaglia, que representou com êxito um grupo de militares italianos que estiveram expostos a altas doses de radiação enquanto desempenham funções, ao serviço da NATO, no Kosovo e Metohija.

No caso desses militares, a Justiça italiana deu como provada a existência de metais pesados no sangue e decretou que fossem indemnizados, no valor de 300 mil euros, por terem desenvolvido doenças mortais devido às bombas de urânio. Aleksic pretende que o valor da compensação para as vítimas sérvias seja, no mínimo, idêntico.

Sobre o processo e a colaboração de Tartaglia, o advogado sérvio disse: «Ele tem 181 decisões judiciais, que já entraram em vigor na Europa. Ele será um membro da minha equipa de especialistas jurídicos. Temos mais de 3000 páginas de materiais, incluindo veredictos, pareceres de especialistas, materiais de uma comissão especial do governo italiano. Reunimos provas suficientes.»

A CRISE ENERGÉTICA, A EUROPA E A REVIRAVOLTA RUSSA

Por trás da disputa pela Ucrânia, estão os combustíveis fósseis. O Velho Continente precisa do gás siberiano. Moscou vê brecha para deter avanço da OTAN. Washington tenta resistir, mas arma-se novo desafio a sua hegemonia geopolítica

# Publicado em português do Brasil

José Luís Fiori* | Outras Palavras

Se Hans Morgenthau estiver com a razão [a causa da Guerra da Geórgia, de 2008] é um segredo de polichinelo: a Rússia foi a grande perdedora da década de 1990 e será a grande questionadora da nova ordem mundial, até que lhe devolvam – ou ela retome – todo ou parte do seu velho território. Por isso a Guerra da Geórgia não deve ser considerada uma “guerra antiga”, pelo contrário, ela é o anúncio do futuro. -- Fiori, J.L, “Guerra e Paz”. Valor Econômico, SP, 28 de agosto de 2008

With the US distracted and Europe lacking both military clout and diplomatic unity, Putin may feel now is the best time Russia will ever have to attack Ukraine. -- Financial Times, FTWeekend, January, 15, 2022

Em apenas um ano, o mercado mundial de energia enfrentou duas grandes crises diametralmente opostas: a primeira, no início de 2020, no momento em que se generalizou a pandemia do coronavírus; e a segunda, ainda em pleno curso. Tudo começou com uma queda abrupta da demanda mundial e dos preços internacionais, provocada pela interrupção instantânea e universal da atividade econômica e pelo aumento exponencial do desemprego, começando pela China e atingindo, em sequência, a Europa e os Estados Unidos. O consumo das empresas e das famílias caiu da noite para o dia, e os tanques e reservatórios de petróleo e gás ao redor do mundo ficaram cheios e ociosos; os próprios navios petroleiros ficaram à deriva sem ter onde desembarcar, provocando uma queda dos preços e uma paralisação quase completa da produção de óleo. Como consequência, a economia mundial regrediu no ano de 2020 e a indústria energética sofreu um baque de rapidez e proporções desconhecidas. Menos de um ano depois, o cenário já havia se invertido radicalmente, depois da invenção e difusão das vacinas e depois da retomada da atividade econômica. Com a desmontagem anterior das estruturas logísticas e a interrupção dos fluxos globais, a oferta de energia não conseguiu responder à retomada econômica, e um ano depois da primeira crise, os tanques e reservatórios de petróleo e gás natural encontravam-se vazios, e a própria oferta mundial de carvão foi interrompida por acidentes naturais e mudanças climáticas que se somaram a erros de planejamento estratégico, sobretudo no caso da China e dos Estados Unidos. Como consequência, durante o ano de 2021, os preços da energia dobraram ou triplicaram, dependendo de cada região; o suprimento de energia elétrica foi interrompido em vários países, e multiplicou-se o fechamento de empresas e as revoltas populares contra a inflação dos alimentos, do combustível e dos serviços públicos em geral.

Algumas causas dessa crise energética foram conjunturais e deverão ser superadas no transcurso de 2022, como no caso das condições climáticas extremamente adversas deste último ano. Mas outras causas se manterão e devem forçar mudanças dentro da própria matriz energética dos países mais afetados pela crise, redirecionando investimentos e apressando algumas escolhas dramáticas, como no caso mais urgente do abandono do carvão, sobretudo no caso do continente europeu. Como é sabido, a Europa é fortemente dependente das importações de energia, sobretudo de petróleo e de gás, e é também o continente que vem liderando a luta mundial contra o uso do carvão e de todas as fontes de energia fósseis. Nesse contexto, a recente decisão da União Europeia de considerar o “gás natural” e a “energia nuclear” como “fontes de energia limpas” já deve ser vista como uma consequência imediata da crise, mas que deverá afetar a vida dos europeus, no curto, médio e longo prazo. Na verdade, a Europa está decidindo e está sendo coagida ao mesmo tempo a transformar o gás natural na sua principal fonte de “energia limpa”, e esta decisão deve se manter e prolongar durante todo o período da “transição energética” europeia, programada para alcançar a meta de emissão zero de carbono em 2050. E já agora o mais provável é que, mesmo depois de alcançada esta meta, o gás natural siga sendo a principal componente da matriz energética europeia até o final do século, sobretudo devido ao veto alemão ao uso da energia atômica…

EUA-NATO PREPARAM GROSSA PROVOCAÇÃO NA UCRÂNIA

O imperialismo está a incitar o regime de Kiev a uma grossa provocação. As Forças Armadas da Ucrânia estão a preparar uma série de ataques terroristas em Gorlovka, Yasinovataya, Donetsk e Dokuchaevsk.

Os alvos planeados são subestações e linhas eléctricas, condutas de água e de gás e indústrias químicas.

A informação vem dos serviços de inteligência da República Popular de Donetsk. O objectivo de Washington é obrigar a Rússia a intervir militarmente na Ucrânia. 

O império não se importa em sacrificar como carne para canhão quantos ucranianos forem precisos a fim de atingir os seus objectivos políticos.

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20/Janeiro/2022

Resistir.info

WASHINGTON RECUSA OUVIR A RÚSSIA E A CHINA

Thierry Meyssan*

Durante a semana, Moscovo esperou uma resposta à sua proposta de Tratado garantindo a paz. Washington jamais a referiu. Pelo contrário, acusou a Rússia de se preparar para atacar a Ucrânia e de planear uma operação de falsa bandeira para a justificar. A Rússia já não pode recuar mais e qualquer acção da sua parte arrisca desencadear uma terceira guerra mundial.

A imprensa ocidental não consegue abarcar as relações entre os três grandes (jChina, Estados Unidos e Rússia) porque as segmenta. Ela considera cada problema separadamente e ignora as ligações entre eles. Acima de tudo, ela ignora a diferença entre o Direito anglo-saxónico e o das Nações Unidas o que a leva a inúmeros erros de interpretação.

Os Estados Unidos e a Rússia encontraram-se três vezes esta semana para debater garantias de paz :
 em Genebra ao nível de ministros adjuntos dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) ;
 em Bruxelas na Comissão Otan-Rússia ;
 e por fim em Viena, na OSCE.

Os Estados Unidos reiteraram a sua advertência contra o estacionamento de 100. 000 soldados russos na fronteira russo-ucraniana enquanto a Rússia se indignou pela recusa dos EUA em discutir a sua proposta de paz.

Simultaneamente, o Congresso dos EUA debateu sanções contra a Rússia, enquanto o Departamento de Estado estendeu à China a atitude que assumira face à Rússia, e o Departamento da Defesa encara o aumento do seu arsenal nuclear.

Nos bastidores, Washington levou a cabo uma operação de desestabilização do Cazaquistão e levou a União Europeia a esboçar um bloqueio económico total da Transnístria.

Uma vez que os Estados Unidos recusam mais do que antes levar em conta as críticas que lhe são feitas e responder aos argumentos russos, Moscovo ameaça agora colocar tropas na Bacia das Caraíbas.

O único avanço positivo respeita a um possível relançamento das negociações russo-americanas sobre o controlo de misseis nucleares de alcance intermédio, um Tratado antes recusado pelo Presidente Donald Trump.

REINO UNIDO ESTÁ INDEFESO SEM APLICAR AS “EMENDAS PANDORA”

Enquanto as doações do partido puderem ser obscurecidas, a política britânica não será limpa

* Publicado em português do Brasil

Liam Byrne* | The Guardian | opinião

O Reino Unido está indefeso para impedir uma onda de financiamento questionável - é por isso que estou pedindo 'emendas Pandora' ao projeto de lei eleitoral

Não se pode ter uma política limpa se a política está inundada de dinheiro de fontes obscuras. É por isso que os parlamentares apresentaram hoje as “emendas Pandora” ao projeto de lei eleitoral para impedir que milhões de libras sejam despejadas em partidos políticos britânicos de locais secretos no exterior.

Graças à corajosa reportagem do Guardian sobre os papéis de Pandora , agora conhecemos a escala impressionante de doadores generosos com contas no exterior e uma predileção por um partido conservador do Brexite.

Pegue os Chernukhins. Lubov Chernukhin já doou £ 2,1 milhões para o partido conservador. No entanto, a BBC revelou que seu marido, Vladimir Chernukhin (nomeado vice-presidente do Vnesheconombank por Vladimir Putin) recebeu US$ 8 milhões de Suleiman Kerimov, um bilionário russo que foi sancionado pelo Tesouro dos EUA com base em suas associações com o governo russo. A transferência ocorreu em 29 de abril de 2016, pouco antes da maioria das doações de Lubov Chernukhin aos conservadores. (Ela negou ter recebido dinheiro proveniente de Kerimov e diz que suas doações conservadoras “nunca foram manchadas pelo Kremlin ou qualquer outra influência”.)

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