Artur Queiroz*, Luanda
O chefe da UNITA, em 1992, durante a campanha eleitoral, perdeu toda a credibilidade quando mentiu aos jornalistas descaradamente. E convocou-nos para uma conferências de imprensa que só ele sabia da sua existência. Apareceram os representantes dos Media nacionais e internacionais. O director do Gabinete de Imprensa do Galo Negro, Norberto de Castro, mais tarde, pediu desculpas e disse que o jovem Adalberto era um mentiroso compulsivo e gostava de se fazer passar por dirigente do partido.
Os Media portugueses entrevistaram agira o chefe da UNITA e ele disse que “os observadores internacionais às eleições de 24 de Agosto não podem ser apenas os amigos do MPLA”. Que horror! Aqueles que destruíram o império colonial português e ajudaram a derrubar o fascismo, só querem amigos a fiscalizar o acto eleitoral, para fazerem fraude! O colégio de comissários da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) deliberou que cada partido político e coligações de partidos concorrentes às eleições podem convidar até 18 observadores, para fiscalização do processo eleitoral.
A Assembleia Nacional, onde a
UNITA está representada, pode convidar, por sugestão dos partidos com assentos
no parlamento, 50 observadores. O Tribunal Constitucional, pode convidar
O que são os observadores internacionais? A Comissão Nacional Eleitoral esclarece. São considerados observadores internacionais, os cidadãos indicados por organizações regionais e internacionais, os observadores de organizações não-estatais, os observadores de governos estrangeiros, os observadores de organizações não-governamentais de direito estrangeiro reconhecidas em Angola e os observadores individuais.
Tomem nota, por favor. Adalberto da Costa Júnior e um aldrabão de trazer por casa. Um mentiroso compulsivo. Quando disse aos Media portugueses que a UNITA não podia aceitar que os observadores internacionais das eleições de 24 de Agosto, fossem apenas os amigos do MPLA, já sabia das decisões tomadas pelo colégio de comissários onde o Galo Negro está representado.
Marcolino Moco, Francisco Viana e outros trânsfugas do MPLA estão enganados. Os angolanos não vão escolher um vigarista vulgar para dirigir os destinos de Angola. Nem um milagre vai salvar o Galo Negro de uma derrota eleitoral estrondosa e, espero, definitiva.
Ao longo dos anos tenho recolhido informação sobre o golpe militar de 27 de Maio de 1977. Até escrevi um livro sobre o tema. Mas ainda tenho muito que contar. O Bureau Político do MPLA deu-me informações que nem constavam dos seus comunicados. No Jorna Página Um, na época um diário português de grande tiragem, publiquei dezenas de notícias e reportagens sobre o golpe e os golpistas. O material foi-me fornecido pela direcção do MPLA e outras fontes daminha inteira confiança. Além do Página Um também escrevi sobre o 27 de Maio no Diário Popular, no Expresso e no semanário O Jornal. Este foi o único órgão de informação português que tinha um jornalista em Luanda, naquele dia, Manuel Beça Múrias, meu companheiro no Diário de Notícias e um grande amigo.
O semanário O Jornal publicou
material informativo recolhido pelo seu repórter
Na sequência do texto que escrevi no dia 27 de Maio passado, recebi uma mensagem de um camarada do MPLA e companheiro de armas, que me contou o seguinte: “Quando percebi que se passava algo de anómalo, saí de casa às quatro da madrugada e como me competia fui para o Comando da IX Brigada, então instalado no antigo quartel da Engenharia do Exército Português, contíguo ao quartel dos Dragões, que albergava a Companhia de Reconhecimento da Brigada.
Às seis da manhã os golpistas tentaram apanhar-me, porém, consegui escapar e fui para o Bairro do Saneamento, onde encontrei Mr. Katondo, vizinho do comandante Ndozi. Sem demoras pedi-lhe que informasse imediatamente o comandante Xyetu sobre a situação anómala que se desenrolava naquele momento, com algumas subunidades da IX Brigada.
Posteriormente tentei voltar ao quartel, mas já não foi possível. Então, resolvi ir pra minha casa, pôr a salvo a minha família. Foi quando vi um turismo Ford, vermelho, com o Pitoco ao volante, estacionado à porta da minha casa. Como não tinha relações de amizade com ele, imaginei que o Pitoco era um fraccionista e imediatamente afastei-me da rua da minha casa. Mais tarde, pelo Pitoco, soube que o comandante N’Zaji estava dentro do carro.
Mais pormenores sobre esse triste dia, posso relatar-te quando estivermos juntos. Ainda guardo na minha memória muitos episódios onde eu fui um dos participantes. Modéstia à parte, tive uma participação transparente e muito activa durante o período do fraccionismo e também no rechaço e neutralização do golpe de estado no dia 27/05/77, comandado pelo Nito Alves e o Zé Van-Dúnem”.
Não identifico o autor deste curto depoimento porque ele corre sérios riscos de perder as estrelas de general, conquistadas no terreno da luta, desde o maquis até à Frente Sul, quando os Heróis das FAPLA arrasaram os racistas de Pretória. Podem prendê-lo perpetuamente. Ou expulsá-lo do MPLA. Aquela declaração sobre o meu papel na divulgação dos pormenores do golpe de estado pode levar-me à comissão dos assassinos do 27 de Maio e arrisco uma condenação à morte. Mas aprendi que para a frente é o caminho e não há recuos na minha vida. Nunca. Um familiar do assassino Nito Alves garantiu hoje naTPA que os assassinados e seus camaradas estão desculpados e perdoados. Finalmente, os golpistas triunfaram.
*Jornalista