Artur Queiroz*, Luanda
O MPLA é incómodo, indigesto e odiado desde que nasceu em 10 de Dezembro de 1956 já lá vão 66 anos. Longa vida! Mal foi conhecido o manifesto que revelou o movimento revolucionário à luz do dia, os seus dirigentes, militantes e apoiantes foram catalogados de terroristas e traidores de Portugal do Minho a Timor. Foram presos, mortos ou partiram para o exílio. Da acção política rapidamente se passou para a luta armada. Eis o seu nome completo: Movimento Popular de Libertação de Angola. Uma ampla aliança de classes. Quem defendia o ideal nacionalista tinha lugar no seu seio. Todas e todos estavam dispostos a morrer pela libertação da Pátria Angolana.
O movimento acolheu no seu seio desde os nacionalistas tradicionais aos anarquistas e aos comunistas. Todos irmanados no objectivo comum de libertar a Pátria Angolana. À luta armada de libertação nacional só aderiram os excepcionais. E entre estes, muitos ficaram pelo caminho, arrependidos. Ser excepcional cansa muito e exige tanto, que fraquejar é tão humano como cerrar os dentes e continuar a luta revolucionária.
O percurso, a partir de 4 de Fevereiro de 1961, foi muito difícil e sinuoso. Os que defendiam o nacionalismo tradicional pensaram melhor e alguns abandonaram a luta. Alguns revolucionários pensaram pior e levaram para o interior do movimento os malefícios da querela sino-soviética. Viriato do Cruz levou a contestação ao ponto de propor a dissolução do MPLA na UPA. Derrotado por Agostinho Neto nas eleições para a direcção, concretizou a sua posição e levou com ele um grupo de maoistas. Acabou mal. O alargamento da luta à Frente Leste causou erupções tribalistas prontamente combatidas. Angola é um só povo, uma só nação.
Depois do triunfo do Movimento das Forças Armadas (MFA) em Portugal, o MPLA foi invadido por chusmas de oportunistas de toda a espécie, alguns com a chancela de Mário e Joaquim Pinto de Andrade, Gentil Viana ou Vieira Lopes figuras de proa do Nacionalismo Angolano e que pertenceram à direcção do movimento. A dinâmica da luta encarregou-se de separar as águas. O MPLA foi refundado no interior e Agostinho Neto confirmadíssimo na liderança.
Logo após a Independência Nacional surgiram erupções racistas e tribalistas, suportadas por uma pequena burguesia pseudo revolucionária que tinha como brasão, ter passado pelos campos de concentração do Tarrafal e do Bentiaba (São Nicolau). Esta aliança desembocou na tragédia do 27 de Maio de 1977. Mas o MPLA continuou a defender o princípio um só povo, uma só nação. Até hoje. Por isso tem ganho com maiorias absolutas ou qualificadas, todas as eleições em que participou desde que Angola aderiu à democracia representativa e ao capitalismo, apelidado de economia de mercado, para não assustar.
O MPLA é imbatível eleitoralmente enquanto a UNITA estiver na liderança da Oposição. Disto ninguém tenha a mínima dúvida. E ficou provado nas eleições de 24 de Agosto. Todos abrigados na Frente Patriótica Unida, perderam estrondosamente. O MPLA elegeu 124 deputados, mais 13 do que precisava para a maioria absoluta. Os pescadores de águas turvas salientam a vitória da UNITA no círculo eleitoral de Luanda. Na verdade foi uma vitória do MPLA unido à Oposição contra o MPLA.