Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião
Uma autopromoção de um programa da rádio Observador na sexta-feira perguntava: "Como vamos viver sem a Rainha Isabel II?". Depois deixava um número de telefone a convidar os ouvintes a discutir tal putativa orfandade com os jornalistas José Manuel Fernandes e Helena Matos.
Esta pequena vaga do maremoto mediático que se seguiu ao falecimento, na véspera, da monarca britânica, com uma torrente de jornalistas, comentadores, historiadores e diplomatas portugueses a lançar ondas e ondas de relatos, comentários e textos sobre o tema, numa inundação asfixiante que se vai prolongar, pelo menos, até ao dia do funeral da monarca britânica (e para o qual, de resto, também contribuo), deixou-me perplexo.
A pergunta colocada pelo Observador pressupõe que eu, cidadão português, não-britânico, eleitor de uma República que gritou na versão original do seu hino "contra os bretões, marchar!, marchar!", devo sentir a falta da rainha Isabel II?
Que mecanismos criam esta expectativa de simpatia lusitana para com a mãe do agora Carlos III?
Porque se comportam tantos jornalistas portugueses como se fossem súbditos e devotos da monarquia inglesa?
Uma das vantagens dos pensadores políticos do século XIX é que muitos deles diziam claramente ao que vinham, com muita pouca malícia - os que queriam a revolução escreviam-no, preto no branco; os que procuravam manter o statu quo dos poderosos do costume também não enganavam ninguém.