domingo, 21 de maio de 2023

Portugal | O PÂNTANO INGOVERNAVEL

Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião

Um país "governado aos solavancos", cortesia de um socialismo só de slogan, com o primeiro-ministro que acredita que tudo pode e em todos manda à cabeça do cortejo que nos conduz à falência das instituições e dos serviços públicos, ao derrube do Estado social e à degradação da própria democracia. O respeito, a dignidade e a vergonha já se foram há muito. E ajudaram a empurrar-nos para a rápida "trajetória de empobrecimento", que desagua no "cenário desastroso" que tem sido construído pela mão do governo de António Costa, instalado em cima de uma maioria absoluta exclusivamente justificada pelos desejos de estabilidade daqueles que traíram desde o primeiro dia. Num discurso duríssimo e absolutamente certeiro, Cavaco Silva resumiu a tragédia em que vivemos às mãos de uma governação pautada por aquilo que tão bem resume António Barreto como a "coreografia da mentira".

Os costureiros da narrativa corrente hão de desvalorizar as palavras do único português que tem créditos de recolher os votos que lhe renderam quatro maiorias absolutas, escarnecendo, como sempre fazem, quando expostos na sua lamentável incapacidade. Mas o país ouviu e registou as palavras do antigo primeiro-ministro - nos anos em que Portugal mais cresceu - e antigo Presidente. Palavras que não destoam do que disse Marcelo há apenas duas semanas - e que foi, aliás, confirmado à vírgula pelos mais recentes episódios do Galambagate, nesta triste novela em que todos os dias ficamos um passo mais perto de acordarmos, nas palavras de Marques Mendes, "num país ingovernável".

Ainda assim, a mediocridade permanece, os responsáveis aguentam mais um dia, impassíveis, a tocar a música de sempre - a do desinvestimento e da destruição de valor à custa de bandeiras ideológicas absurdas, a do confisco criminoso para financiar esmolas a troco de votos pela sobrevivência -, enquanto o navio português se afunda na podridão.

Portugal tem força e capacidade, tem um potencial imenso, tem pessoas e empresas que todos os dias remam contra a maré tóxica para afirmar a vontade de crescer. Tem gente de grande valor que cada vez mais se afasta daquilo em que não vislumbra solução feliz, que foge do que não se vê capaz de mudar. É este o enorme risco que se esconde no pântano que nos engole: o de um dia acordarmos e ser demasiado tarde para encontrar quem tenha capacidade e esteja disposto a empenhar-se em melhorar o país. De chegarmos a um nível em que o exercício de um cargo público não é currículo, é cadastro.

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