sábado, 19 de agosto de 2023

Imprensa Angolana no Século XIX Jornalismo de Combate Pela Liberdade e Autonomia

No livro História e Evolução da Imprensa Brasileira (Rio de Janeiro, 1940), dos autores Licurgo Costa e Barros Vidal, é afirmado, na sua página 15, que no século XVIII existia um prelo mecânico em Luanda e outro em S. Salvador do Congo (Mbanza Congo). Vários estudiosos na matéria, entre eles Júlio de Castro Lopo, investigaram documentos da época e confirmaram a sua existência, nas duas cidades. 

A oficina gráfica de Luanda existia na colegiada dos Jesuítas, no convento por trás da Igreja da Nazaré e que existiu até finais do século XIX. Ficava situado no espaço onde hoje começa o Eixo Viário.

Mais recentemente, em 1982, Laurence Hallewell publicou em Londres uma obra sobre a História da Imprensa onde afirma que no século XVI, chegaram as primeiras máquinas impressoras a África, pela mão dos missionários portugueses, que as instalaram nos seus colégios da Ordem dos Jesuítas, em Luanda e S. Salvador do Congo (Mbanza Congo). A arte de imprimir chegou a Mbanza Congo na bagagem de dois mestres tipógrafos germânicos. A “divina arte da imprimissão” atingiu um desenvolvimento extraordinário, no Reino do Congo.

Os portugueses chegaram à foz do rio Zaire num momento em que a nobre "arte da imprimissão" já estava muito desenvolvida no reino. D. Afonso V, o Africano, recebeu informação da invenção de Gutenberg precisamente no momento em que o mestre impressor abriu ao público a sua primeira oficina. Portugal tinha fortes relações comerciais com Nuremberga donde importava missangas, contas de vidro e artefactos em latão, que trocava por ouro em África e mais tarde por pimenta no Oriente.

O Africano era um rei culto e por isso tinha uma importante biblioteca. Quando soube que havia forma de copiar vários exemplares do mesmo livro através da “divina arte da imprimissão”, tratou logo de contratar mestres impressores germânicos que chegaram ao reino menos de cinco anos depois de aberta ao público a oficina de Gutenberg.

A primeira tipografia e os mestres tipógrafos chegaram a Portugal através do Colégio de Santa Cruz por intervenção directa do bispo de Coimbra, D. João da Costa.

A Imprensa Angolana das Origens à Actualidade -- Artur Queiroz

 Artur Queiroz*, Luanda

Angola foi o primeiro país africano a ter prelos mecânicos, levados para a então colónia portuguesa pelos padres Jesuítas, enviados ao Reino do Congo para “dilatar a Fé Cristã”. Na Ordem dos Jesuítas, em Luanda, junto ao local onde está hoje a Igreja da Nazaré, também existia um prelo mecânico onde eram impressos os catecismos e outras obras religiosas.

O livro História e Evolução da Imprensa Brasileira (Rio de Janeiro, 1940), de Licurgo Costa e Barros Vidal, afirma na sua página 15, que no século XVIII existia um prelo mecânico em Luanda e outro em S. Salvador do Congo (Mbanza Kongo). Vários estudiosos na matéria, entre eles Júlio de Castro Lopo, apesar de terem investigado a veracidade desta informação, nunca conseguiram encontrar publicações da época. Mais recentemente, em 1982, Laurence Hallewell publicou em Londres uma obra sobre a História da Imprensa onde afirma que no final do século XVI, chegaram as primeiras máquinas impressoras a África, pela mão dos missionários portugueses, que as instalaram nos seus colégios da Ordem dos Jesuítas, em Luanda e S. Salvador do Congo (Mbanza Congo). Mas não se conhece nenhum documento impresso desse tempo.

O que sabemos de fonte segura é que o primeiro órgão de Informação em Angola foi o Boletim do Governo Geral da Província de Angola e que começou a circular no dia 13 de Setembro de 1845, era governador Pedro Alexandrino da Cunha, um oficial da Marinha de Guerra, que deixou obra na então colónia de Angola. A população de Luanda, agradecida, mandou erigir-lhe uma estátua em bronze, no largo fronteiro ao Palácio dos Correios.

A imprensa oficial começou a ser montada em 1836, ano em que o ministro das Colónias decretou que todas as “possessões ultramarinas” tivessem a sua folha oficial para publicação de despachos, decretos e outros documentos da Administração Pública. O prelo foi despachado de Lisboa, ficou guardado num qualquer armazém do almoxerifado durante mais de sete anos e só quando Pedro Alexandrino da Cunha desembarcou em Luanda, o Boletim do Governo chegou ao público. Angola foi a primeira colónia a ter uma folha oficial. O dia 13 de Setembro, um sábado cheio de luz e sol, a Imprensa nasceu em Angola. Era ainda a chamada “Imprensa Oficial”. Poucos anos mais tarde, um punhado de intelectuais, animados pela ideia libertária e socialista, criaram os alicerces da “Imprensa Livre” em oposição à folha emanada do quartel-general do governador.

Angola | Aleluia! Jornal Centenário Habemus – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Aleluia é mesmo o António Ferreira, figura ímpar do Jornal de Angola que hoje faz cem anos. Esteve à frente da cabeça comercial com assinalável êxito. Como também era jornalista resolvemos explorar essa sua qualidade para melhorarmos as receitas. Apresentámos ao José Ribeiro, director-geral da Empresa Edições Novembro, um projecto que incluía a produção de dois suplementos temáticos mensais e uma página especial diária. Feitas as contas, esses produtos iam render em publicidade meio milhão de dólares todos os meses!

Aleluia pôs a sua máquina a trabalhar e ficou decidido que o primeiro suplemento era sobre a Província do Huambo. Vesti o camuflado e parti com a equipa para o objecticvo. Fizemos o trabalho que rendeu muito dinheiro em publicidade inserida e redigida. Filho único. 

O Jornal de Angola estava morto e já só saía para a rua (dois mil exemplares) para justificar os postos de trabalho e os fundos estatais. Alguém se lembrou do José Ribeiro para evitar o desastre definitivo. Pediram-me um parecer e eu aconselhei ao encerramento do jornal. Mas se a decisão fosse continuar, então o melhor era privatizá-lo. Como estava, só envergonhava o proprietário. José Ribeiro entrou na empresa e ressuscitou o morto. Nada de especial, ele era e ainda é o melhor quadro da comunicação social angolana, área da Imprensa. Eu fui reforçar a equipa ainda que já estivesse a cair da tripeça.

Ao mesmo tempo nasceu uma Redacção Sombra que tinha como objectivo manter o rigor mortis do Jornal de Angola. Tinha que continuar morto, custasse o que custasse. Fizeram 30 por uma linha! A tutela decidiu transformar a Direcção-Geral num Conselho de Administração. José Ribeiro propôs António Ferreira (Aleluia) para administrador da área comercial. Desconseguiu. Nem foi nomeado administrador não executivo. Os mandantes impuseram Vítor Silva que era director do Novo Jornal. Pela primeira vez na História da Imprensa Mundial o director de um jornal privado foi administrar uma empresa pública que editava jornais concorrentes. Mesmo assim o morto ressuscitado não teve segunda morte.

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