Artur Queiroz*, Luanda
O soba grande estava muto doente e pediu socorro ao mais famoso kimbanda da região, que depois de uma análise profunda e ler os sinais do fogo, deu o seu infalível veredicto: Não há milongo para a morte nem para a estupidez humana. Aguenta com coragem os últimos dias de doença. Vais morrer. O chefe dos chefes chamou os seus sete filhos e recomendou que cada um trouxesse o muinku de bater o funje. Depois corrigiu a encomenda. Não um mas dois paus. Os rapazes obedeceram.
Estou a morrer, meus filhos! Quero continuar a viver em vós mas para isso preciso de vos dar a última lição. Cada um pega no seu muinku e vai parti-lo.
Os rapazes partiram os paus com facilidade. Uma limpeza.
O soba grande pediu aos filhos para juntarem os outros paus e fazerem um feixe, amarrado com uma muxinga. Os rapazes obedeceram e aguardaram novas ordens do chefe dos chefes.
Agora cada um vai partir esse feixe de paus. Um dos filhos tinha força de leão e estatura de elefante. Foi o primeiro a obedecer. Chamou todas as suas forças e tentou partir os sete paus amarradinhos. Desconseguiu. Um por um, os filhos do soba grande falharam a missão. O feixe de sete paus era inquebrável.
O soba grande falou: Se cada um viver por si, não vale nada. Não conseguirei triunfar nele para além da morte porque vai ser derrotado em todos os combates. Mas se os meus sete filhos se unirem como esses paus amarrados em feixe, ninguém vos partirá. Não há força no mundo que vos derrube.
Poucos dias depois o soba grande morreu, como tinha futurado o kimbanda. Os filhos continuaram unidos e venceram todas as dificuldades desta vida e das outras todas que ninguém conhece porque são segredos dos deuses, esses tiranos manhosos. Um deles até pôs o primeiro homem a comer maçãs e a dar confiança às serpentes.
Donald Trump já disse ao que vem se for novamente eleito presidente dos EUA. Vou traduzir fielmente o que acaba de dizer: “A primeira estratégia quando for eleito, a melhor forma de lutar contra a Rússia é eliminar aqueles países africanos que fazem negócios com a Rússia. Angola será o primeiro país a quem vamos aplicar sanções, se necessário. Angola é o país mais corrupto em África.”
Ninguém perca tempo com matumbos. Não há países corruptos. Isso de corrupção é coisa de gente e Trump é rei dos corruptos. Mas se ganhar as eleições o trio assassino Biden. Blinken e Austin vai sair de cena e regressa um nazi assumido (os outros fingem que são democratas) à Casa Branca. Presidente João Lourenço, os dois últimos anos e alguns meses do seu mandato vão ser muito difíceis.
Samantha Power administradora de um instrumento da CIA chamado UAID já o avisou nas barbas do chefe: “É impensável combater a corrupção sem uma imprensa livre”. E reforçou o recado ao nosso Mobutu: ”Talvez seja tentador pensar que qualquer país pode atingir o desenvolvimento económico, pode combater a corrupção sem liberdade de imprensa nem respeito pelos direitos humanos”.
A “imprensa livre” nos EUA é controlada e dominada pela CIA. Está ao serviço do poder económico. Isso de Liberdade de Imprensa é truque para enganar os consumidores. Agora até os empregados dos Media acreditam na aldrabice. Fui à memória e encontrei o semanário “O Jornal” um projecto de jornalistas. Sem donos nem patrões. Pouco tempo depois da fundação já estava sob a pata do poder político e económico. Semanário “O Ponto”. Juntaram-se os melhores profissionais da Imprensa Portuguesa nesse projecto, sem donos nem patrões. Foi à vida, cilindrado pelo poder político e económico. Nem tinha publicidade de carros, bebidas alcoólicas e sexo ao vivo. Nada.
Os Jornalistas têm pouca margem de manobra. Mas ainda menos se ignorarem a ética e a deontologia. Se obedecerem acefalamente ao barqueiro da TVI/CNN, ao Pinto Balsemão e aos restos do sistema BBC (Balsemão, Belmiro e Coronel da Lusomundo). Tomem nota. Liberdade de Imprensa é vivermos sempre, sem a menor hesitação, entre as fronteiras da honra e da dignidade. Os factos dos acontecimentos, as notícias, as reportagens e entrevistas não conhecem patrões, capatazes ou comissários políticos. São assuntos nossos. Fora disto é o mundo dos papagaios e recadeiros.
O Presidente João Lourenço já tem o destino traçado a partir de Washington e não pelos seus camaradas do MPLA. Mau prognóstico. Nós respeitamos o nosso líder porque o escolhemos. Porque fizemos dele o número um. Em Washington é o número milhão e para apagar quando não interessar. Vejam o que fizeram ao Mobutu verdadeiro.
O MPLA não é um muinku. Mas hoje não passa de um emblema na banda do casaco de João Lourenço. Vai ser partido em mil pedaços. A não ser que a direcção, a tempo, assuma as suas responsabilidades.
O MPLA é composto por milhões de paus, amarrados num imenso feixe que é o Povo Angolano. Angola sem o MPLA é ingovernável. Fica igual a uma galinha à qual cortaram a cabeça. Continua a correr, desordenadamente, até cair para o lado. Morta.
"As bases do MPLA não estão bem, estão muito lentas. A força do partido está nas bases e é preciso imprimir mais dinamismo porque as bases são quem sustentam o partido. Agora há no MPLA muitos líderes locais lentos que não dão o melhor contributo ao partido”. Estas palavras são de um dirigente do MPLA que vem da Luta Armada de Libertação e foi secretário-geral, Dino Matross.
Este dirigente histórico do MPLA também afirmou que o MPLA perdeu as eleições no Círculo Provincial de Luanda porque a base de apoio do partido apostou na abstenção, nos votos em branco e nos nulos. Tem razão. Mas no dia seguinte às eleições a direcção do MPLA devia estar a trabalhar para resolver esse problema e continua alegremente persistir no erro. E quem persiste no erro só encontra soluções erradas. Tudo indica que é esse o objectivo. Persistir no erro, errar cada vez mais para riscar o MPLA do mapa.
* Jornalista
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