segunda-feira, 3 de junho de 2024

Divagações Sobre o Esgotamento -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

“Os antigos movimentos de libertação no poder em vários países da África Austral se encontram esgotados (…) acabaram por perder a confiança dos seus antigos apoiantes e eleitores e por não ganhar a das gerações mais jovens”. Para cumprir a palavra dada a um amigo, não vou escrever o nome do autor destas frases. Digo que é o ideólogo de partidos viciados na derrota e na extinção por falta de votos. 

Um deles, o Bloco Democrático, elegeu dirigentes nas listas da UNITA que tendo lutado ao lado dos colonialistas contra a Independência Nacional, não pode ser considerada “movimento de libertação”. Portanto, não está esgotada. São políticos destes que condenam Angola à mediocridade e ao subdesenvolvimento perpétuo!

Na África Austral existem movimentos de libertação no poder. MPLA em Angola. Ganhou todas as eleições com maioria qualificada ou absoluta. As últimas, em 2024, mais uma maioria absoluta que vai durar até 2027. O partido do qual o autor das linhas iniciais é ideólogo (não confundir com agrónomo), não concorreu com medo de ser extinto. Alinhou numa fraude chamada Frente Patriótica Unida (não existe! Não foi a votos!) e elegeu deputados na lista do partido UNITA que sim, está esgotado. Viciado na derrota. Recheado de militantes e dirigentes que optam pelo banditismo como forma de intervenção política. 

Na Namíbia está no poder a SWAPO. Ganhou todas as eleições até hoje. Nas últimas, o seu candidato presidencial, o falecido Presidente Hage Geingob, obteve 56,25 por cento dos votos válidos. O candidato Panduleni fiou em segundo lugar com apenas 29,3 por cento dos votos. Glória aos esgotados!

No Zimbabwe está no poder a União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Patriótica (ZANU-PF). Conquistou nas últimas eleições (contando umas intercalares) 144 dos 210 lugares na Assembleia Nacional. Estes esgotados têm deputados que lhes permitem alterações constitucionais! 

Em Moçambique está no poder o movimento de libertação FRELIMO. Esgotadíssimo. Ganhou todas as eleições com maioria absoluta. A RENAMO, uma espécie de UNITA mas um pouco mais civilizada, nunca ganhou nada. Nem juízo. 

Na África do Sul está no poder o movimento der libertação ANC. Tem ganho todas as eleições com maioria absoluta. Nas próximas vamos ver. Cisões no seio do ANC podem retirar-lhe essa maioria. Um dos novos partidos o uMkhonto we Sizwe (MKP) liderado por Jacob Zuma, um dos mais importantes líderes africanos, acaba de ser impedido a concorrer às próximas eleições. Mas a decisão é passível de recurso. Seja como for, o ANC já deu mais dois movimentos revolucionários. Os resultados finais ficam em casa. 

A tese de que “Os antigos movimentos de libertação no poder em vários países da África Austral se encontram esgotados” nasceu nos EUA. Os inquilinos da Casa Branca vão mais longe e defendem que todos os partidos que conduziram os países africanos à Independência Nacional estão esgotados. E África só progride quando saírem do poder. O Presidente Clinton pediu ao Presidente José Eduardo dos Santos que o ajudasse a fazer esse “saneamento”. E ele respondeu que jamais faria isso porque pensava o contrário: Sem esses partidos, África fica escravizada para sempre. O ideólogo de partidos angolanos que não conseguem votos, amplifica a voz do estado terrorista mais perigoso do mundo!

O “esgotamento” dos movimentos de libertação na África Austral é uma etapa mais fina. Porque o ideólogo que escreveu esta barbaridade no Novo Jornal faz parte daquele grupo de oportunistas descabelados que depois de sacarem tachos e mordomias, contas bancárias recheadas, teres e haveres sem limites, começaram a defender algo muito pior. Os guerrilheiros do MPLA, os Heróis que ousaram pegar em armas contra o colonialismo, “estragaram tudo”. São classificados como analfabetos!

Estão enganados. Os patriotas que fizeram a Luta Armada de Libertação Nacional eram todos professores doutores no gatilho. Os granadeiros eram mestres em tirar a cavilha das granadas. Os sabotadores eram licenciados em minas e armadilhas explosivas. Nos areais do Leste de Angola fizeram voar os camiões Berliet e os jipes Hunimog da tropa portuguesa. Os militantes clandestinos arriscaram a liberdade e a vida distribuindo panfletos e doutrinando as massas populares. Os nossos dirigentes eram catedráticos na coragem, na abnegação, na inteligência. 

O ideólogo do Bloco Democrático que nem merece ter nome, quer no poder partidos que tiveram 0.3 por cento dos votos, como a Frente para a Democracia (FpD). Ou votos nenhuns. Porque o MPLA está esgotado. Pobre país que não respeita a sua História nem os Heróis Nacionais! Graças ao Presidente João Lourenço e o seu comandante da tropa de choque, chefe Miala, sipaio da Damba.

Hoje o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) pôs em cena uma peça empolgante. Karim Kahn chamou a CNN (canal de televisão da CIA) para informar que os juízes estão a apreciar um mandado de captura contra Netanyahu o e o seu ministro da Defesa Yoav Gallant. São acusados de crimes de guerra, crimes contra a Humanidade, ”extermínio, causar fome como arma de arremesso em guerra, negar ajuda humanitária e matar deliberadamente civis na zona do conflito". A Casa Branca entrou logo em campo e disse que não aceita esta decisão! Ordens do patrão estão dadas. O resto é teatro.

Um Tribunal de Londres prolongou a prisão perpétua, numa cadeia de alta segurança, ao jornalista Julian Assange. Já está preso há 14 anos e continua. Destruíram-no por ter exercido a Liberdade de Imprensa! O ocidente alargado censura os Media russos. Mata ou prende jornalistas. E depois dizem que os outros são autocratas!

O Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, e o ministro das Relações Exteriores,  Hossein Amirabdollahian, faleceram num desastre de aviação. Causas? O estado terrorista mais perigoso do mundo sabe, de certeza certa. O seu sargento exterminador no Médio Oriente, Israel, também sabe. 

Hoje envio em anexo um texto da jornalista Augusta Conchiglia sobre a morte idêntica do Presidente Samora Machel e do jornalista Aquino de Bragança, meu amigo. Tirem as vossas conclusões sobre o acidente no qual morreram altos dirigentes iranianos.

* Jornalista

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