Artur Queiroz*, Luanda
Reinaldo Tomé Augusto da Silva, o senhor Guto, da ilustríssima família dos Silvas, autóctones de Portugal, chegou a Angola com uma mão atrás e a outra coçando as matacanhas dos pés calçados com alpergatas. Rapidamente se tornou um tiranete ao serviço dos tiranos maiores. De analfabeto indiferenciado passou a dono de botequim. Uma ascensão vertiginosa que tocava a quase todos os que atravessavam a linha do Equador, saídos da Santa Terrinha de Nossa Senhora de Fátima.
A invenção do amor não poucas vezes dá tragédias sem nome. O senhor Guto, homem cinquentão, deixou na terra uma jovem esposa que alguns meses depois da ausência fugiu com um caixeiro-viajante. Nunca mais houve notícias da madama nem da sua sombra. Vergado ao peso do abandono, o botequineiro foi falar com a Mamã Cagalhoça para lhe arranjar uma companheira cujo alembamento não fosse muito caro. E a viagem de comboio, também não. Veio uma menina do Dondo que rapidamente mostrou as suas habilidades como cozinheira e lavadeira.
O senhor Guto tinha um falar engraçado porque comia algumas sílabas. Em vez de rapariga dizia ‘pariga. Ao acordar dizia à esposa: ‘Pariga, queres ser servida ou posso ir urinar? E a menina respondia educadamente: ‘Brigada, podes ir. Ou então podes vir. Dizia sempre para ir. No bairro, vizinho do botequim, havia um rapagão que vendia ao fim da tarde, na Mutamba, o Diário de Luanda e o ABC. Ábêcéééé! Tem Lara Filho! Tem Lara Filho! Diááárióóó! Diááárióóó!
À noite o ardina estoirava o dinheiro das gorjetas bebendo e pagando meias cucas às meninas da vida desprevenida. A maka é que a esposa do senhor Guto inventou com ele uma estória de amor. A menina ficou concebida e na horinha certa foi parir na Casa de Saúde Dr. Jaime Novais, porque era empregada do comércio e sindicalizada.
O bebé nasceu e era negrinho. A menina saiu da maternidade directa para a estação do Bungo e regressou a casa lá no Dondo. Esta cena repetiu-se umas quatro vezes. O senhor Guto mandava vir as meninas e elas eram fecundadas por outros. Perguntava: ‘Pariga, queres ser servida ou posso ir urinar? A resposta era sempre a mesma: Podes ir. Depois apareciam concebidas. As velhas makas do amor!
Se sua excelência Ana Dias Lourenço já tivesse inventado antes a roda do amor, nada disto tinha acontecido. O senhor Guto e suas esposas iam brincar para a Brinquedoteca e não havia intromissões de terceiros na vida dos casais danados para a brincadeira.
Hoje e graças à Primeira-Dama, as criancinhas pedem aos pais para serem internadas nos hospitais do filho de enfermeiro, porque querem frequentar as Brinquedotecas de Ana Dias Lourenço. Os jovens querem Brinquedotecas nos bairros, nas ruas, nas suas casas parea brincarem dia e noite. Civis e militares querem Brinquedotecas. Anda tudo com a cabeça à roda do amor. ‘Brigado Primeira-Dama! Sakidila! Sakididi! Kanimambo!
Sinceramente. Se a Primeira-Dama Ana Dias Lourenço tivesse inventado a Roda do Amor e as Brinquedotecas há mais tempo, eu ainda ia a tempo de ser um bom marido e excelente amante. Como sou danado para a brincadeira, montava aqui na cubata uma Brinquedoteca e era sempre a aviar. Assim vivo na apagada e vil tristeza dos solitários. As coisas boas como a roda do amor chegam sempre demasiado tarde para mim. Já é azar das raças indefinidasd ou feitiço de Sandu.
No antigamente íamos comemorar o Primeiro de Maio no Mussulo. Comprávamos barras de gelo numa fábrica da Vila Clotilde, grades de cerveja, comida caseira e apanhávamos o Kitoko ou o Kaposoka. Como era o Dia dos Tipógrafos era por aí que festejávamos para não parecermos uns subversivos assinalando o Dia Mundial dos Trabalhadores. Ao início da tarde abria a Brinquedoteca. Saíam declarações de amor à Liberdade e o Ernesto Lara Filho declamava poemas de Maiakovski. Como este:
Só poderei acreditar num amor/que tenha força para atravessar a noite/como relâmpago./ (…) Amar é escapar/pelos buracos do lençol/cair do sol e não da cama!/Ter ciúmes de Copérnico/e não de qualquer verme/ com dinheiro e belas damas./ Amor é o que age/revivendo as engrenagens/no motor do coração.
O Mussulo foi assaltado pelo exibicionismo de riquezas, pelo novo-riquismo, pela construção desenfreada. Destruíram aquele paraíso com mansões e outras construções de volumetria criminosa. Saneamento básico? Zero. A merda dos ricaços contamina tudo. O meu amigo Rui de Matos (General de mil estrelas) tinha um grande fascínio pelo mar. Transformou um barracão para guardar apetrechos da pesca na sua casa de praia. Até que a pequena aldedia de pescadores foi transformada em destino dos ricaços. Acabou.
Agora que já não há Mussulo, o Executivo decidiu classificar o território como destino turístico valioso. A Roda do Amor vai instalar na praia da contracosta uma Brinquedoteca. Maravilha!
O canal oficial (RTP) do pastor evangélico Venâncio Mondlane (internacional fascista) aliviou o sono de Marcelo Rebelo de Sousa e Luí Montenegro. O destruidor de Moçambique disse no canal três que os governantes portugueses já começaram a ter juízo e a obedecer-lhe!
O novo herói de Portugal montou a
sua quadrilha num país da Europa e vai ditando actos terroristas aos seus
sequazes
A Paula Cristina Roque, “especialista” em assuntos africanos, disse que MPLA e FRELIMO são partidos que impuseram ditaduras em Angola e Moçambique! Os que libertaram os povos Angolano, Moçambicano e Português são ditadores! Estes colonialistas salazaristas não têm mesmo juízo. Brincam com o fogo.
*Jornalista
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