quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Se Eu Fosse Testemunha -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Entre 1974 e as eleições de 1992 Angola teve várias faces, umas bem-encaradas, outras, menos interessantes. O povo é sempre o mesmo e tem como principal característica enfrentar as dificuldades com um misto de coragem e bom humor. Preservo na primeira linha da memória a parte do Poder Popular. Criámos na antena da Voz de Angola os espaços radiofónicos Vos Livre do Povo e Contacto Popular. Éramos a voz do movimento revolucionário que se desenrolava nas ruas, nas fábricas, nas empresas, nos portos, nas repartições públicas.

Depois avançámos para a Emissora Oficial e fizemos da Rádio Pública a voz oficial do Poder Popular. E éramos minoritários. Mesmo assim as nossas propostas eram aprovadas nos plenários de trabalhadores e as dos contrários, reprovadas! 

Nesta fase juntou-se ao movimento o jornal Diário de Luanda. O Cabral Duarte, assinando “Bambi”, criava um “cartoon”, todos os dias que fez grande sucesso. Era uma marca do Poder Popular na Imprensa. A linha gráfica das pichagens e cartazes era do António Ole e do João Nunes. Artistas de luxo no Poder Popular.

Nos quintais e nas ruas de Luanda, quem ia abandonar Angola martelava tábuas de grande dimensão, para fazer caixotes onde metiam tudo o que era transportável, até carros. Na tarde do 11 de Novembro de 1975, quando saí da Redacção do Diário de Luanda, depois de fechada a edição normal do dia (fizemos uma especial que começou a circular ao primeiro minuto de Angola Independente), Luanda estava mergulhada num silêncio assustador. Nem um carro circulava nas ruas. Tudo encerrado. Luanda estava com cara feia. Mas aos poucos voltou a alegria pelo triunfo do Poder Popular.

O Jornalismo ficou fraco. Sem jornalistas ninguém consegue fazer notícias, reportagens e entrevistas como se vê pelo exemplo de hoje, onde a falsificação e a aldrabice tomaram o lugar do rigor, da actualidade, da imparcialidade, da verdade dos factos. Confundem opiniões com notícias, fretes com entrevistas, papo furado com reportagens. Cara muito feia. Mas um dia vai melhorar.

Manuel Hélder Vieira Dias (Kopelipa) é um homem generoso, amável, empreendedor. Desafiou-me a criar um projecto de Media com Rádio, Televisão e Jornal que começava semanário. Depois de afinar a equipa, passava a diário. Foi assim que nasceu a Medianova. 

Quando já não tinha mais nada a dar, saí e fui tratar da vida. Quem não trabalha não come, salvo se forem acomodadas ou acomodados. Essas e esses vivem na maior à custa do Povo Angolano. Infelizmente em Angola temos mais gente dessa categoria do que quem trabalha. Mas essa é outra cara feia da qual não quero agora falar.

Ao longo de 60 anos de profissão nunca revelei nada do que se passava ou passou nas empresas jornalísticas para as quais trabalhei. Também não vou revelar nada do que vivi na Medianova e na Damer. Mas penso não estar a trair a confiança dos Generais Dino e Kopelipa se disser que eles se atravessaram por um projecto de Media que em princípio ia tirar o Jornalismo Angolano do pântano em que mergulhou (e ainda está mergulhado com o lodo chegando às vias respiratórias…). 

Ambos exigiam que o projecto fosse sério e exemplar. A medida exacta. Queriam que a Rádio Mais, a TV Zimbo e o Jornal O País marcassem a diferença. Investiram muitíssimo para que isso fosse possível.

Nas eleições depois de 1992, em Setembro de 2008, quando Isaías Samakuva exigiu o fim do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), existia a crença que o MPLA estava esgotado e a UNITA podia facturar com o descontentamento popular causado por dez anos de rebelião armada quando nas eleições de 1992 todos os partidos prometiam a paz e a felicidade. 

Face à percepção pública criada, foi preciso apostar forte naquele pleito eleitoral. O General Kopelipa foi desafiado a apoiar financeiramente o MPLA. Pessoalmente. Com uma verba muito, muito elevada. Pediu o meu parecer. E eu achei que era uma enormidade e ele devia reduzir a sua oferta para um terço. Resposta:

- Vou apoiar com o que estão a propor. Tudo o que somos, devemos ao MPLA. Nunca negarei nada ao MPLA. 

Meu caro Nelito peço desculpa se revelei algo que devia ficar entre nós. Mas a minha intenção é boa. Eu sei quem és. Fui amigo do teu pai. Nasceste e cresceste num ambiente de rectidão e honestidade. És um angolano exemplar. Tu e teus irmãos criaram em Angola empresas importantes que criavam riqueza e postos de trabalho. Amanhã começa o teu julgamento no Supremo Tribunal. 

Se eu fosse testemunha ia dizer aos Venerandos Juízes que te vão julgar isto: Estão a julgar um cidadão exemplar. Um Angolano excepcional. Um homem que fez mais pelo Jornalismo Angolano do que gerações de empresários, todos juntos, em 150 anos.

Caro amigo e camarada, fizeste tudo para que Angola tivesse Media sérios. Foi apenas isso que exigiste de mim quando nos lançámos na criação da Medianova. Criar órgãos de comunicação social que promovessem a Liberdade de Expressão. 

Senhores juízes, julgar o General Kopelipa já é uma condenação. E isso é intolerável. Sem falar no julgamento da praça pública promovido pelo chefe Miala e o seu servente Pita Grós. Esmagaram a presunção de inocência. Eu não vou dizer que Kopelipa é inocente. Mas digo que Angola seria um paraíso se a Justiça Angolana fosse servida por homens como ele. Se no Poder político todos tivessem a sua dimensão. E no Poder Económico todos tivessem o seu rasgo e capacidade empreendedora.

As tropas dos nazis de Telavive já ocuparam os Montes Golã na Síria, ante a indiferença das tropas da ONU que têm o dever de impedir essa ocupação. Assim se vê ao serviço de quem estão a Al Qaeda e o Estado Islâmico. Tudo boa gente, todos democratas!

*Jornalista

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