sábado, 4 de janeiro de 2025

Angola | Ano Novo Velhos Falsários -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Este é o tempo dos falsários. Um amplo movimento político uniu forças que defendiam a Independência Nacional. Grande vitória, num clima de divisão criado pelo regime colonialista. A cor da pele era motivo de divisão. A tribo e a região de origem dividiam os angolanos. A religião era uma arma dos ocupantes para dividir. Na escala social os negros estavam sempre no fundo mesmo que fossem alfabetizados, profissionais de qualquer ofício ou tivessem cursos superiores. Os brancos, mal atravessavam a linha do Equador, eram logo promovidos a capatazes. Os negros sempre por baixo. 

O amplo movimento registou outra grande vitória ao apresentar um Manifesto onde foi definida claramente uma ampla aliança de classes, na luta contra o colonialismo. Foi assim que nasceu o 4 de Fevereiro, matriz da Revolução Angolana, que culminou com a Independência Nacional, a 11 de Novembro, 1975. Contra ventos, marés e traições, Agostinho Neto conseguiu mobilizar o Povo Angolano para a luta. Angolanos de todas as cores, de todas as ideologias, de todos os credos, de todas as classes sociais acompanharam o líder na Luta Armada de Libertação, na Guerra de Transição e no início da Guerra pela Soberania Nacional e Integridade Territorial contra os invasores estrangeiros. Grande vitória do MPLA.

A direcção do MPLA colocou o movimento ao serviço do Povo Angolano. Ao longo de décadas esta opção política culminou com a fórmula “O MPLA É o Povo o POVO É o MPLA”. A maior traição que se fez ao partido foi colocá-lo ao serviço de interesses pessoais e ilegítimos. De costas voltadas para o povo que sempre defendeu. É assim que estamos. Para os oportunistas e falsários terem ganho de causa, precisam de enganar os jovens. Por isso são postas a circular informações sobre o passado, como se tivessem ocorrido hoje.

Agostinho Neto disse logo após a Independência Nacional que o Governo da República Popular de Angola deve guiar-se pelo programa do MPLA. As estruturas do movimento tinham primazia sobre o Estado. Porque o regime era de democracia popular e o socialismo. Tudo mudou em 1992, quando foi instaurado e plebiscitado pelo voto popular, o regime de democracia representativa e o capitalismo. Misturam ontem com hoje.

O mesmo truque baixo é aplicado quando falam do golpe de estado militar em 27 de Maio, 1977. Dizem que os golpistas nem tiveram direito a um julgamento! Mas escondem que na época não existiam Tribunais como hoje. Angola não tinha quadros na área da Justiça como hoje. Essa é a primeira mentira. Mas os golpistas foram julgados num Tribunal Marcial no Ministério da Defesa. Angola estava em guerra contra os invasores estrangeiros e os golpistas eram militares. Em qualquer país do mundo, socialista, ou capitalista, os militares que fazem golpes de estado são julgados em tribunais marciais. Foi o que aconteceu.

Há alguns anos a Casa dos Brancos, seus serventes angolanos e portugueses ressabiados, compraram um “historiador” que em 700 sofridas páginas descobriu que o MPLA não nasceu em Dezembro de 1956. Edmundo Rocha seguiu o mesmo caminho. Agora um Fernando Paiva pegou no tema e aí vai disto. Os argumentos desta cáfila acéfala são hilariantes. Um argumento é que os arquivos da PIDE só referem o MPLA em 1960! É verdade. Sabem porquê? Antes a PIDE estava a ser instalada em Luanda. Ainda não tinha arquivos nem Pachecos, Paivas e outras porcarias.

Tomem nota. Em 1956 foi constituído o “quadro especial do pessoal da PIDE em serviço no ultramar”. Estão a ver? No ano do nascimento do MPLA foi criada a PIDE nas colónias portuguesas. O melhor vem a seguir. A Delegação da PIDE em Angola foi instalada em 1957. O director, São José Lopes, e um inspector, um tal Lontrão começaram a instalar a polícia política num hotel falido, entre o Observatório João Capelo e a ponte que dá acesso à Fortaleza de São Miguel, no topo da Calçada do Cagaço. Em 1961, o pessoal da PIDE na metrópole e no ultramar foi reunido num único quadro de pessoal.

Sabem qual foi a primeira aparição pública da PIDE em Angola? 

O advogado Palma Carlos, figura de proa da candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República, deslocou-se a Luanda para mobilizar os democratas na campanha eleitoral. O seu parceiro foi o advogado luandense Eugénio Ferreira. Os democratas organizaram um jantar com o visitante, na cervejaria Monte Carlo, ali no Bairro do Café. 

 O jantar virou comício e quando Palma Carlos estava a discursar, São José Lopes entrou na sala e ordenou que se calasse. Depois mandou evacuar o espaço. A Monte Carlo estava cercada por agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) que identificaram os convivas. 

A PIDE começou a actuar em força e em Março de 1959 já existiam três processos judiciais contra 50 nacionalistas angolanos a maioria do MPLA. Os últimos foram presos em Agosto desse ano. Logo a seguir começou o julgamento do chamado “Processo dos 50”

A bufaria diz que não eram do MPLA porque nos arquivos da PIDE não consta essa referência. Pois não. O MPLA era uma organização clandestina e os seus membros actuavam na clandestinidade. Ninguém podia saber das suas actividades políticas. Mas estavam em todas desde 1956. Como estiveram na linha da frente do 4 de Fevereiro de 1961.

Os falsários falam do Manifesto do MPLA mas nunca o leram. Caso contrário sabiam como acaba esse documento fundamentalíssimo. Vou revelar as últimas palavras:

“Lutemos pela coexistência e pela colaboração pacífica entre os povos! 

Povo Angolano! Luta pela tua sagrada liberdade! 

Povo negro de Angola! Luta pela tua sobrevivência! Pela sobrevivência da raça negra que os colonialistas querem assassinar!

Homens, Mulheres e Jovens de Angola! Lutai pela vossa liberdade! Por um futuro livre, feliz e progressivo para todos!

Viva a luta unida e invencível dos povos de África e da Ásia contra a opressão colonial e racial!

Viva o invencível Movimento Popular de Libertação de Angola!”

Azar dos falsários ao serviço de João Lourenço e da Casa dos Brancos. A PIDE não tem nos arquivos o Manifesto do MPLA.

* Jornalista

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