Artur Queiroz*, Luanda
A formiga apanhou boleia do elefante. A chana estava ressequida e o capim coberto de uma fina camada de terra amarela. O paquiderme avançava à velocidade que seu corpanzil permitia e levantava uma nuvem de pó. A formiguinha, entusiasmada, dizia ao taxista de ocasião: Estamos a fazer uma poeirada do caraças! Esta estória termina de uma forma sórdida. A formiga quando chegou ao destino, desceu do lombo do elefante e disse muito obrigada. O mototaxista de ocasião urrou: Eu não faço favores a ninguém. Baixa lá as calcinhas para pagares a corrida de táxi.
João Lourenço está a levantar uma
poeirada tremenda à boleia do MPLA. Ele e seus acólitos (demitiram-se do papel
de dirigentes do partido) pensam que têm o exclusivo da nomeação dos candidatos
presidenciais em 2027. Por querer (nada do que está acontecendo em Angola é
obra do acaso), determinadamente, estão a criar uma rotura trágica a nível
nacional. A unidade no seio do MPLA está
Sozinho contra todos, ainda assim o MPLA ganhou as eleições de 2022 com maioria absoluta. Mas perdeu nos círculos de Luanda, Cabinda e Zaire. Perdeu onde jamais perderia se o Executivo, suportado pelos deputados do MPLA na Assembleia Nacional, tivesse respeitado o programa do partido sufragado pelo voto popular, em 2017. O elefante deu boleia ao formigueiro de João Lourenço mas agora as passageiras estão a matá-lo, roubando a sua credibilidade, destruindo a sua História, espezinhando os valores inscritos no Manifesto Fundador de 1956.
À boleia do combate à corrupção, os salteadores da honra do MPLA estão a destruir Angola. Em nome do combate à corrupção atropelam Direitos Fundamentais. Destroçam a Liberdade. Atiraram por terra o Poder Judicial. O último atentado ao edifício da Justiça foi colocar o presidente do Tribunal da Comarca de Luanda na comissão de recepção à reclusa Net Nahara. Nem o juiz Bessa a partir de agora confia nele.A Comunicação Social está pelas ruas da amargura. No audiovisual há medonhos buracos técnicos e uma falta de profissionalismo assustadora. Na Imprensa o panorama também não é famoso. Custa a crer que apenas o “Jornal dos Desportos” sai sem erros de Redacção e Edição. Respeita os leitores. Do Jornal de Angola prefiro ficar calado. Mas dói-me o coração quando vejo páginas com o bloco de abertura no lugar errado. Títulos errados seguindo a lei do menor esforço. Paginação ao nível de uma fabriqueta de chouriços, sem dimensão estética.
E de repente a Comissão da Carteira e Ética actuou sobre jornalistas que se dedicam a actividades incompatíveis com o exercício da profissão. Quem deu a notícia afirma que “pela primeira vez na história do jornalismo angolano, a Comissão da Carteira e Ética puniu jornalistas por exercerem actividades incompatíveis com a profissão”. O autor desta frase é da escola de João Lourenço. Angola só existe desde que ele chegou a Presidente da República. Para Borralho Ndomba o Jornalismo Angolano só existe desde que ele obteve um título profissional.
Entre Setembro de 1974 e Junho de 1975, o Conselho Técnico e Deontológico do Sindicato dos Jornalistas Angolanos caçou as carteiras profissionais a 34 jornalistas, devido a incompatibilidades graves. Faziam publicidade, relações públicas e trabalhavam em gabinetes de imprensa de partidos políticos. Naquele tempo não pagavam multas. Eram simplesmente afastados da profissão.
O autor atribui a “jornalistas angolanos” anónimos esta afirmação: “Enquanto os jornalistas tiverem salários de miséria, a deontologia profissional vai ser sempre violada”. Só me faltava esta. Se os salários são miseráveis, a classe tem de lutar por salários dignos. Que eu saiba, é para isso que serve o sindicato. OU é só para os seus dirigentes receberem por baixo da mesa o valor da venda das suas consciências? O meu salário é baixo e eu vou roubar. O meu salário é baixo e eu vou assaltar à mão armada O meu salário é baixo e eu vou matar. É assim que querem?
O Jornalismo Angolano ficou reduzido a quase nada em 1975. Redacções de jornais diários ficaram com meia dúzia de profissionais. Diário de Luanda: Raimundo Souto Maior, Luciano Rocha, João Serra, Artur Queiroz e os fotojornalistas Gouveia e Bernardo. Jornal de Angola: Antero Gonçalves (Poderoso), Moutinho Pereira e Joaquim Castro Lopo mais os “juniores” Paulo Pinha e Joaquim Pereira de Almeida. E o fotojornalista Chico Bernardo.
A Emissora Oficial tinha uma boa Redacção e um número suficiente de técnicos. Mas quando a formiga kisonde Nito Alves, à boleia do elefante MPLA, assaltou a estação, foi tudo por água abaixo. Começou a rádio bué de bocas. O estilo chinfrim. O analfabetismo militante aos microfones. Bem me custou ver o descalabro. Fui eu quer construí a Direcção de Informação da emissora, jornalista a jornalista, técnico a técnico.
Os Jornalistas são quadros superiores das empresas de comunicação social. Os seus salários têm de estar a esse nível. Mas são os profissionais que aceitam a aberração de um curso médio de jornalismo! (Há curso médio de Medicina?) São os profissionais que convivem bem com os esbirros do chefe Miala ou do Adalberto Júnior nas Redacções.
Sabem qual é a solução? Escorraçar imediatamente os “acomodados” e os ximbas das Redacções. Exigir que os jornalistas juniores tenham salário de secretário de Estado. Os seniores têm de ser pagos com o mesmo valor que os ministros recebem por cima da mesa. Mordomias iguais às dos magistrados judiciais. Sabem porquê? As traves mestras do regime democrático são o Poder Judicial e o Jornalismo.
Se quiserem partir para a confrontação com o patronato contem comigo. Sempre tive conflitos insanáveis com os patrões. Dizem que é mau feitio.
Parabéns à Comissão da Carteira e Ética por ter dado um sinal de dignidade ao Jornalismo Angolano. Outros que façam o que falta fazer.
* Jornalista
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