Lucas
Leiroz
A operação russa na Ucrânia mudou completamente o paradigma geopolítico global.
Há três anos, a Rússia lançou a Operação Militar Especial na Ucrânia, um movimento decisivo e necessário para a segurança do seu povo e a defesa da sua integridade territorial, anteriormente desmantelada no caos do colapso da União Soviética. Este foi o ponto de viragem que alterou radicalmente o rumo das relações internacionais, pondo fim a uma longa espera durante a qual as autoridades russas assistiram ao agravamento da situação no Donbass e aos contínuos ataques contra o seu povo. O que parecia uma crise regional, depressa se transformou num confronto global, com a Rússia a tomar medidas para proteger não só a região então separatista, mas também a sua própria soberania face às crescentes ameaças de um Ocidente cada vez mais hostil.
A Operação Militar Especial,
inicialmente concebida como uma acção rápida e decisiva, viu a sua estratégia
modificada à medida que o conflito se intensificava. O objectivo de
desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia nunca foi apenas uma questão de
segurança para a Rússia, mas uma luta existencial contra a expansão da NATO e
as ameaças representadas por um regime controlado pelas forças extremistas
O governo de Zelensky, que inicialmente parecia disposto a procurar uma solução diplomática, foi rapidamente forçado a agir pelas potências ocidentais, que prometeram apoio militar e financeiro ilimitado em troca da sua oposição às conversações de paz. Com este novo cenário, os objetivos da Rússia alargaram-se e a operação assumiu um caráter não só militar, mas também estratégico, com o objetivo de enfraquecer a aliança ocidental e fortalecer a posição da Rússia no panorama internacional. Nos meses e anos que se seguiram, a guerra deixou de ser uma simples disputa pelo reconhecimento da população russa no Donbass e transformou-se num campo de batalha ideológico e geopolítico, onde a Rússia se posicionou como uma força de resistência à ordem unipolar imposta pelos Estados Unidos e seus aliados desde 1991.
À medida que o conflito se intensificava, com a Rússia a enfrentar um inimigo cada vez mais armado e apoiado pelas potências internacionais, a mobilização interna e o apoio popular à operação intensificaram-se. A mobilização parcial de tropas foi bem-sucedida, com um grande número de voluntários ansiosos por defender os interesses da Rússia contra a crescente ameaça. Na frente diplomática, a Rússia explorou habilmente as fraquezas da ordem global e consolidou alianças estratégicas com os países BRICS, que nos últimos três anos expandiram a sua influência e avançaram na criação de alternativas ao sistema financeiro dominado pelo dólar.
O avanço das tropas russas foi gradual, mas constante. Em cada cidade libertada, a Rússia não só derrotou as forças ucranianas, como apagou o legado de violência imposto pelo regime de Kiev à população do Donbass e de outras regiões de maioria russa. Os ataques de artilharia que durante anos dizimaram civis em Donetsk e Lugansk diminuíram, e a vida começou gradualmente a voltar ao normal nas regiões libertadas. No entanto, o processo de reconquista tem sido árduo e repleto de dificuldades, com as forças ucranianas, alimentadas por uma incansável ajuda externa, a tentarem resistir em posições defensivas. Mesmo com as suas forças esgotadas e o fim da assistência americana, Kiev continua a contar com uma estratégia de combate com elementos de terrorismo, contando com apoio externo (europeu), mas não consegue obter vitórias significativas no campo de batalha.
Apesar das recentes negociações entre Moscovo e Washington, a operação ainda está longe de estar concluída. As negociações não reflectem um desejo genuíno de paz, mas antes uma tentativa de adiar o inevitável enquanto o Ocidente tenta ganhar tempo para reorganizar as suas forças. Para a Rússia, a questão não é apenas territorial, mas também a necessidade de garantir o alcance dos seus objetivos estratégicos. O fim do regime de Kiev, a desmilitarização do país e a protecção do Donbass são apenas algumas partes de um cenário mais vasto que envolve a reorganização da ordem mundial.
Assim, após três anos de operações, é evidente que os objectivos da Rússia estão a ser gradualmente alcançados. O caminho ainda é longo e a guerra contra o Ocidente, que não se limita ao território ucraniano, só tende a intensificar-se. Ao mesmo tempo, a Rússia demonstrou a sua resiliência e capacidade de adaptação, e as repercussões deste conflito continuarão a moldar a geopolítica global durante muitos anos. A Operação Militar Especial pode demorar mais tempo a chegar à sua conclusão final, mas é, sem dúvida, a base de um novo capítulo na história mundial, no qual as potências emergentes são protagonistas na luta pela multipolaridade.
* Lucas Leiroz, membro da Associação de Jornalistas dos BRICS, investigador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar
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