Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
O Sindicato dos Jornalistas (SJ) portugueses considera “repugnante” e “própria da PIDE-DGS”a espionagem ao jornalista Ricardo Costa e exige (julgando que está num Estado de Direito) aos poderes constitucionalmente constituídos o apuramento de responsabilidades e a tomada de medidas.
Em comunicado divulgado hoje, o SJ lembra os mais recentes casos relacionados com as 'secretas' – um alegado “relatório” sobre Francisco Balsemão, as alegadas ameaças de revelação de dados da vida privada da jornalista Maria José Oliveira (“Público”), e a espionagem às comunicações do jornalista Nuno Simas (então ao serviço do “Público”) –, que no seu entender mostram que os “jornalistas não podem estar tranquilos”.
É claro que os jornalistas podem e devem estar tranquilos. Então agora que, com o apoio da maçonaria, há cirurgias capazes de remover a coluna vertebral, só têm de comer e calar. Nada mais do que isso é pedido pelos donos dos jornalistas que, por sua vez, cumprem os pedidos dos seus donos.
O bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, sem que daí tenham resultado consequências ou reacções por parte do SJ (ou de qualquer outro organismo existente para fazer Portugal parecer uma democracia), afirmou em Maio de 2009, a propósito do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que “há muitos jornalistas que estão ao serviço do director e não da verdade”.
O bispo deveria ter acrescentado que, por sua vez, os directores estão ao serviço dos patrões (políticos e ou económicos) e não da verdade. Embora a verdade seja o que menos importa no putrefacto reino lusitano.
As declarações do bispo de Viseu foram graves mas, como sempre, ficaram no silêncio inconsequente da própria santa paz de... Deus. O “jornalismo” em Portugal atingiu em alguns casos um tal estado de descrédito que já ninguém se preocupa. Num sistema de vale tudo, pouco importa se o jornalismo virou propaganda e apenas é mais uma linha de enchimento comercial, ditada do largo do Rato ou da Lapa.
Aliás, a situação descrita pelo bispo não era já nessa altura nova, embora se tenha agravado com o advento da “ditadura” democrática do governo socialista de José Sócrates e seguida por Pedro Miguel Passos Relvas Coelho. Em alguns círculos, nomeadamente em blogues de jornalistas, o assunto tem sido passado a pente fino, embora – reconheço – sem resultados práticos.
É portanto uma situação que não só vai continuar como vai agravar-se e até mesmo algumas vozes sonantes, como a do bispo de Viseu, tenderão a calar-se porque ninguém gosta de pregar no deserto. Além disso, mesmo dentro da classe dos jornalistas, a tendência é passar a pensar com a barriga, o que significa que para sobreviver o melhor é comer e calar.
Na maioria dos casos a liberdade de imprensa já foi à vida, dir-se-ia que – como no tempo de Salazar - a bem da Nação. E, ao que parece, ninguém repara que a própria democracia está inquinada e pode finar-se a qualquer momento.
Para além de terem de comer o que lhe querem dar e calar para manter o emprego, os jornalistas estão a ser transformados em meros autómatos produtores de textos de linha branca aos quais as empresas apenas colam o rótulo que mais conveniente for.
Tudo isto significa vender gato por qualquer coisa que dê dinheiro, seja lebre, canguru, preguiça ou até mesmo… coelho. É, aliás, uma forma de pôr os jornalistas ao serviço da“verdade” oficial ditada nas “offshores” da manipulação das massas.
Os órgãos de soberania não podem fazer nada? Poder, podiam... mas não era a mesma coisa. Nada fazem porque este é o modelo de “informação” que querem. É o modelo que em vez de dar voz a quem a não tem, amplia a voz dos que têm acesso a tudo. É o modelo que em vez de lutar pelos milhões que têm pouco ou nada, luta pelos poucos que têm milhões. É, portanto, um modelo feito à medida e por medida.
A solução não passa por Portugal mudar de povo. Mas tenho a certeza de que passa por Portugal mudar de políticos. Assim os portugueses tenham, e não há garantias que tenham, tomates para o fazer.
Mudar só os políticos? Não. Há também muitos empresários que deveriam ser apenas trolhas (sem ofensa para estes) e muitos supostos jornalistas que ocupam cargos de direcção e chefia que deveriam aprender a contar até 12 sem terem de se descalçar.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: PORRA! DE NOVO A MULHER DA LIMPEZA?
Sem comentários:
Enviar um comentário