Diário de Notícias - opinião
E ao sexto dia, Passos Coelho falou: "Não há razão para nenhuma histeria nem para nenhuma mobilização excecional." Assim sendo, devemos ignorar o consultor do Governo para as privatizações que além de ter anunciado o fim da RTP 2 - "é um serviço que custa extraordinariamente caro [...] para uma audiência muito minoritária" - também não teve nenhuma dificuldade em falar em despedimentos? Se o que António Borges disse não merece consideração especial, por que razão continua ao serviço do Governo? Para, como revelou Marcelo Rebelo de Sousa, dizer o que Miguel Relvas "quis que fosse conhecido"? Borges é, afinal, tão-somente o lançador de balões de ensaio que o Governo usa para poder medir e avaliar as reações do País. Em suma, ruído.
Mas há silêncios. Miguel Relvas não falou. Paulo Portas dificilmente falará. Cavaco Silva aguarda... em silêncio. E há bizarrias. O líder socialista promete, sem concretizar, que "quando o PS for Governo voltará a existir um serviço público de televisão", outros acenam com a "inconstitucionalidade", e que há mesmo quem garanta que o PS "resgatará a concessão e renacionalizará (?) a RTP". Na maioria é clara a divisão. O CDS recusa o fim da RTP 2. E não tem parado de criticar a pessoa "sem mandato político" que anda a fazer coisas "no mínimo estranhas" e "perfeitamente desnecessárias". Já o PSD, enquanto durou o silêncio de Passos, tentou manter a versão de António Borges. Até ontem.
O primeiro-ministro admite que, sem tabus, vai estudar as "soluções finais" para a RTP. Concessionar? Vender um dos canais e administrar o outro? Fechar um deles e gerir o outro? Um problema "técnico" que está nas mãos de um conjunto de consultores recrutados para o processo de "alienação". Enfim, demasiado entretenimento para um país que está à beira de não cumprir o défice prometido à troika.
Eleições em Angola
Os angolanos votam amanhã em eleições gerais que vão determinar a constituição do novo Parlamento e a escolha do Presidente. A campanha decorreu de forma pacífica, existindo consenso entre as formações políticas mais representativas sobre a necessidade de se privilegiar o desenvolvimento, a diversificação da economia e a correção das graves assimetrias sociais existentes.
Dois outros fatores marcaram a campanha: o aparecimento da formação política CASA, dirigida por Abel Chivukuvuku, que foi importante quadro da UNITA e na vida política há 38 anos, e a multiplicação das costumeiras acusações sobre fraudes e irregularidades na preparação do ato eleitoral.
Ambos os factos merecem atenção. Um novo partido, que reivindica como projeto a concretização de uma terceira via, de uma alternativa ao MPLA e à UNITA, é algo a saudar e elemento de reforço do pluralismo e da democracia. O que remete para a segunda questão: as acusações de fraude e irregularidades. Neste ponto, é fundamental sublinhar que a legitimidade de qualquer regime é tanto maior quanto mais claros e transparentes são os processos através dos quais aquela se concretiza. Angola vive ainda a transição de uma "cultura de guerra" para uma "cultura de paz", de um certo predomínio do instinto de suspeita do "inimigo", ainda que este não seja hoje mais do que um adversário político. Mas Angola não precisa de ter a legitimidade do regime e a sua posição internacional postas em causa por factos desta natureza.
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