domingo, 26 de agosto de 2012

Angola: EDUARDO DOS SANTOS - 69 ANOS DE IDADE E 33 DE PODER ABSOLUTO

 


Eduardo dos Santos consolidou ideia de nação mas não soube retirar-se -- analista
 
26 de Agosto de 2012, 09:29
 
Luanda, 26 ago (Lusa) -- O analista Fernando Pacheco, coordenador do Observatório Político e Social de Angola, considera que José Eduardo dos Santos consolidou, nos 32 anos na Presidência angolana, a ideia de nação mas não soube abandonar o poder.
 
Como fator positivo do exercício de mais de três décadas na presidência angolana de José Eduardo dos Santos, que completa 70 anos na próxima terça-feira, Fernando Pacheco destaca "todo o processo de resistência ao 'apartheid'".
 
Isso permitiu, segundo disse à Lusa o coordenador do Observatório, "consolidar, e de que maneira, um sentimento de unidade nacional muito forte, mesmo tendo em atenção a relação que a UNITA tinha com a África do Sul".
 
A continuidade da guerra, prosseguiu, "permitiu essa consciência de nação de uma forma muito mais profunda do que noutros países africanos".
 
Em contrapartida, o Presidente angolano "não soube retirar-se [do poder] na altura em que Angola entrou em paz", o que, afirma Pacheco, "teria vantagens para o país e para ele", uma vez que evitaria que o seu "o prestígio ficasse abalado".
 
O analista entende também que José Eduardo dos Santos "não respeitou o Estado de Direito", permitindo que a lei seja "frequentemente desprezada", nem cumpriu "a promessa que tocou fundo aos angolanos de luta contra a corrupção".
 
Este assunto, lembra, tem estado ausente do discurso do partido no poder na campanha para as eleições gerais de 31 de agosto e, quatro anos depois das legislativas, "isso pode alterar o voto de muita gente".
 
Fernando Pacheco, ex-militante do partido no poder, MPLA, mas que há muito se inclinou para o campo cívico, foi fundador da Associação de Desenvolvimento Rural e Ambiente e é atualmente coordenador do espaço de reflexão Observatório Político e Social de Angola, criado no pós-guerra, em 2004.
 
"Nunca estive tentado em exercer o poder, mas preocupo-me que o poder seja usado de determinada forma", declara, considerando que um dos maiores problemas de Angola está no artigo 1.º da Constituição.
 
"O artigo número um da Constituição da República diz 'Angola é uma República'. Não, neste momento Angola comporta-se como as monarquias de há uns séculos -- há um rei, há uma rainha, os príncipes, os duques...", descreve.
 
Este quadro resulta da ausência das elites, no sentido amplo, dos assuntos essenciais do país, e da falta de consolidação das instituições.
 
"Não podemos construir um país bom sem boas instituições públicas ou privadas", argumenta.
 
Fernando Pacheco, engenheiro agrónomo de formação, sente-se "triste, mas não frustrado" por não ver realizada a Angola que imaginava na adolescência e por não encontrar nas propostas de nenhuma das forças partidárias que vão a votos no dia 31 "alternativas a um projeto de sociedade" que corresponda às suas questões de fundo.
 
"Vi todos os tempos de antena e sinto que não há preocupação de se levantar questões estruturantes da sociedade", que incluem também uma justiça independente e uma boa educação. "Sem isso, não se faz um bom país".
 
Mas a experiência que leva de décadas de observador atento da evolução de Angola leva-o evitar quadros de "bem e do mal, de preto e do branco, porque também há o cinzento e, dentro deste, o escuro e o claro".
 
"Poderá não convergir a curto prazo com o que desejamos mas é nossa obrigação lançar a semente para que o fruto apareça um dia", afirma, afastando a ideia de revoluções, porque o mais importante "é construir a República".
 
HB
 
Sucessão presidencial ausente dos assuntos de campanha
 
26 de Agosto de 2012, 09:29
 
Lisboa, 26 ago (Lusa) - O favoritismo atribuído ao MPLA nas eleições gerais da próxima sexta-feira em Angola deixa em aberto a questão, que a campanha eleitoral não deu resposta, de saber quem sucederá, e sobretudo quando, José Eduardo dos Santos no poder.
 
Depois de ultrapassar resistências dos históricos do partido, o líder do MPLA apontou para número dois da lista às eleições gerais de 31 de agosto o empresário Manuel Vicente, ex-administrador da petrolífera Sonangol e atual coordenador da política económica do governo angolano, para onde entrou na remodelação governamental de fevereiro passado.
 
Se a ascensão dentro do partido foi rápida, tendo em conta que somente em abril de 2011 passou a integrar o órgão de direção mais importante do MPLA, o Bureau Político, a entrada no Governo foi triunfal e de molde a não abrir qualquer debate interno.
 
José Eduardo dos Santos deu-lhe a coordenação económica do executivo, a na dependência da Presidência, e, sobretudo, reservou-lhe o estatuto de ministro de Estado.
 
Nesta escolha pessoal, José Eduardo dos Santos sinalizou o nome de Manuel Vicente como o mais provável para a sucessão na chefia do Estado, mas não deu qualquer pista sobre o momento para uma eventual transferência de poderes.
 
Segundo o texto constitucional, aprovado em 2010, o Presidente e o vice-Presidente da República são nomeados a partir dos nomes do número um e número dois do círculo nacional da lista do partido mais votado nas eleições gerais.
 
Eduardo dos Santos e Vicente encabeça a lista do MPLA, que relegou para lugares secundários grande parte dos históricos do partido.
 
Analistas ouvidos pela agência Lusa nos primeiros dias da campanha eleitoral reconhecem que as incógnitas persistem.
 
Alex Vines, diretor do Programa África do Chatham House, instituto britânico de investigação em relações internacionais classifica as intenções de José Eduardo dos Santos como "a grande incerteza" destas eleições gerais.
 
Já Belarmino Van-Dúnem, analista político com uma coluna de opinião regular no estatal Jornal de Angola, considera a questão da sucessão "pertinente" e "em aberto".
 
Compreendendo que as pessoas estejam "na expectativa de saber" o futuro da liderança do país e do partido, o professor universitário angolano considera que o MPLA deu "um sinal" ao nomear um vice-Presidente "aceite por consenso".
 
"Qualquer angolano cai na tentação de ver aqui a probabilidade" de sucessão a José Eduardo dos Santos, diz Van-Dúnem, frisando, porém, que, até ao próximo congresso do MPLA, tudo é "especular".
 
O significado da escolha de Vicente divide os analistas. Enquanto Van-Dúnem afirma que "o partido está unido" em torno deste nome, Vines recorda que "o partido não esteve originalmente coeso em relação à ideia" e, por isso, não se sabe "em que medida o acolherá no futuro", até porque o escrutínio não revelará a sua popularidade, "porque as eleições não são diretas".
 
A importância do tema não encontrou, todavia, eco nas campanhas eleitorais do partido no poder e da oposição.
 
Numa parte da sua intervenção no comício realizado na quinta-feira no Lubango, a segunda praça eleitoral do país, José Eduardo dos Santos apelou ao voto no MPLA para um novo mandato para concretizar políticas sociais de combate à pobreza.
 
"Queremos continuar a ser Governo para acabar aquilo que iniciámos", afirmou, para acrescentar: "Executar estas políticas no próximo mandato é o compromisso que assumo", disse ainda José Eduardo dos Santos, sem deixar claro se tenciona cumprir os próximos cinco anos na liderança do país.
 
O Presidente angolano completa 70 anos dentro de dois dias e se há quem lhe anteveja uma eventual retirada de cena algures durante os cinco anos de mandato presidencial, também há quem considere que esta é a oportunidade de finalmente ser eleito num escrutínio com princípio, meio e fim, razão pela qual dispensará um segundo mandato.
 
Aí poderá ser a vez de Manuel Vicente, 56 anos, se tornar o personagem principal.
 
EL (SBR).
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 

1 comentário:

Anónimo disse...

Menos tempo que o Fidel.

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