segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Angola: Oposição e sociedade civil duvidam da integridade dos resultados eleitorais

 

Voz da América, com foto
 
UNITA e CASA-CE marcam reuniões das suas direcções para sábado à noite. Activistas da sociedade civil queixam-se de esforços sistemáticos de "exclusão" de pessoas e partidos.
 
Activistas da sociedade civil angolana disseram que o governo de Angola, o MPLA e a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) promoveram afalta de transparência e a abstenção nas zonas onde o partido no poder não é popular, para assegurarem a vitória nas eleições de 31 de Agosto.

Elementos da CASA-CE e da UNITA disseram à VOA que estão a comparar criteriosamente os resultados provisórios anunciados pela CNE com as actas das mesas de voto em seu poder e um membro da CASA-CE disse que já foram detectadas discrepâncias.

Os representantes da sociedade civil Elias Isac (Open Society), Rafael Marques (Maka Angola), Nelson Pestana (Universidade Católica) e Vitor Silva (ex-director do Jornal de Angola e do Novo Jornal) participaram num programa especial da VOA dedicado às eleições de 31 de Agosto. Este último discordou das conclusões dos restantes.
 
Rafael Marques, disse, face aos anunciados 74% de votos para o MPLA que os angolanos tinham consciência de quais seriam os resutados finais. "O MPLA teve ao seu dispor muitas vantagens e conduziu o processo de forma arbitrária. Nessa medida os resultados não surprendem" Marques sublinhou que a vontade do MPLA "não é a livre escolha do povo angolano".
 
Nelson Pestana, professor da Universidade Católica e dirigente do Bloco Democrático, disse que as eleições foram fraudulentas. "As eleições aqui são entendidas como um incómodo a que (os dirigentes no poder) têm que ser submetidos. O regime autoritário no Séc XXI encontrou formas de legitimação adoptando ele próprio um diuscurso de democracia e por isso tem que se submeter, de tempos a tempos, a esse incómodo que são as eleições", disse.
 
Mas, ressalva, "só quando têm a certeza de que o resultado lhe é favorável. Estas eleições não são livres e concorrenciais. Só podem ser fraudulentas", concluiu Nelson Pestana admitindo que, após a criação de um clima de vitória o MPLA "aceite uma correcção aqui ou ali" mas que o deixe, sempre, acima das fasquia dos 66% necessários para a maioria qualificada que é o seu objectivo.

Chamou, também, a atenção para a "abstenção forçada - a manipulação dos registos, e a transferência e inexistência e dos nomes das pessoas nos registos eleitorais".

Os resultados, sublinha, não consideram as votações de determinadas zonas. "A geografia da abstenção é esta: onde a oposição é mais forte é onde há mais abstencção".

Para Elias Isac, da Open Society, isso foi visível no município de Viana, "o mais populoso de Luanda e que se entende ser praça forte da oposição". Isac disse ter observado que "na Casa da Juventude, local bem controlado pelo partido no poder, estava tudo calmo, mas na Universidade Jean Piaget, onde eu estive presente duas horas, foi horrível".

Conta que "multidões de pessoas não conseguiram votar. Onze mesas de votos vazias - os materiais foram retirados. Muita gente foi informada que tinha que ir votar para Malanje. O governo e a CNE criaram um sistema de exclusão, um sistema que excluía as pessoas. Onde o partido no poder tem influência havia condições. Onde a oposição tem influência criou-se caos. Nós observamos isso."

Vitor Silva, afirmou que não concordar "com os argumentos da fraude". Diz que "os argumentos da fraude foram apresentados ad initium, já atendendo à impreparação dos partidos para enfrentar as eleições" criando nos cidadãos "um sentimento de medo que houvesse um conflito militar como em 1992."

Vitor Silva pensa que isso, mais do que qualquer outra coisa, alimentou a abstenção. "As declarações de Samakuva dizendo que havia de impugnar os resultados levou muita gente a não se dirigir às urnas para votar", concluiu.

 

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