Liberal (cv)
O fim de um ciclo
Pela primeira vez,
desde que assumiu a liderança tambarina, o Primeiro-ministro é abertamente
posto em causa e, internamente, já há militantes que conspiram na sombra para o
afastar e impor um novo lider que faça o partido regressar à “pureza
programática e ideológica”. JMN é um homem “desorientado” e “isolado”…
Praia, 20 de
Setembro 2012 – Aos poucos, a oposição interna a José Maria Neves levanta a
cabeça e começa a contestar abertamente o líder e o seu grupo mais restrito. E,
para além do líder, um dos mais contestados dirigentes do PAICV é Armindo
Maurício, o secretário-geral do partido e homem da confiança do
Primeiro-ministro.
Na imprensa afecta
ao partido, vão-se destacando as vozes críticas que, perdendo receios, sugerem
ser a hora de JMN começar a preparar as malas e ir embora. É que, segundo
parece, o Primeiro-ministro é o maior problema do PAICV e ninguém o quer à
frente do partido para além de 2016.
João do Carmo e
Amadeu Oliveira dão a cara na última edição de A Nação para, no caso do
primeiro, defender uma renovação da liderança e, no segundo, para denunciar
“abusos descarados” do secretário-geral do partido. Para Carmo é preciso travar
o “naufrágio” do PAICV, contrariando “o clima de desconfiança e riola que se
instalou no seio dos militantes e amigos” da estrela negra; já para Oliveira “é
chegada a hora” de uma “Reorganização do partido”.
No entanto, quer um
quer outro, evitam atacar a figura do líder e, no caso de João do Carmo, é
realçado que “Esta geração de JMN já fez muitas coisas que todos no PAICV e em
Cabo Verde devem orgulhar-se, pese embora considerar ainda que “o PAICV não vai
bem”…
RECUPERAR “VALORES
E PRINCÍPIOS”
Num caso e noutro,
é visível o receio de afrontamento directo do líder, embora se perceba que, na
substância, as razões do estado a que chegou o PAICV têm directamente a ver com
a condução de José Maria Neves. E, por outro lado, também é visível que, ao
contrário de outros, estes dois militantes estarão mais preocupados com a perda
do poder do que, propriamente, com o regresso à “pureza programática e
ideológica do partido”, como referiu ao Liberal um ex-dirigente do PAICV que
(segundo ele) “por razões óbvias” pediu o anonimato.
Os problemas do
partido começaram a emergir com as eleições presidenciais do passado ano e
foram por aí fora, com José Maria Neves incapaz de conseguir a tão desejada
“reconciliação da família PAICV”, pelo contrário, persistindo nas autárquicas
“com os mesmos erros cometidos nas presidenciais”, refere a nossa fonte.
Para o
ex-dirigente, “mais importante que o poder, é reorientar o partido no sentido
da recuperação de alguns valores e princípios, que o grupo de José Maria Neves
enlameou, e dar um combate firme aos sinais preocupantes de nepotismo, clientelismo
e abuso do poder”, que, refere, “têm uma expressão imensamente maior do que no
período do partido único”. Segundo o nosso interlocutor, “o PAICV tem que
regressar à sua génese identitária e ética que [Amílcar] Cabral sempre
defendeu, resgatando o partido das mãos dos oportunistas que apenas estão
interessados no poder pelo poder e tratar das suas vidas pessoais”. E vai mais
longe: “se tal implicar estarmos na oposição durante 5 anos ou uma década, que
seja, porque é bem provável que essa ‘travessia do deserto’ permita ao PAICV
voltar a ser um partido de combate e de militância”.
Ainda para a nossa
fonte, “a manutenção de Zé Maria no poder, até 2016, não é saudável para o
partido e apenas tem como consequência cavar ainda mais fundo o desânimo e o
imobilismo”, pelo que, defende, “a transição para uma nova liderança deve ser
preparada desde já, sob pena de a situação ficar incontrolável”. E adianta:
“acredito ser possível ao partido ganhar as eleições em 2016 – claro está, sem
José Maria Neves -, mas mesmo que não se consiga até pode ser benéfico para o
PAICV, caldeando um novo líder no combate político da oposição e preparando o
regresso à governação com práticas que rompam, particularmente, com estes
últimos seis anos da liderança” de JMN.
MILITANTES
CONSPIRAM NA SOMBRA…
Os sinais do
isolamento de José Maria Neves são evidentes e, segundo uma outra fonte
tambarina, “dentro da própria Comissão Política Nacional há muito que deixou de
imperar a unanimidade” e, nas estruturas partidárias, “são cada vez mais as
vozes que criticam esta liderança e muitos aspectos da acção governativa”.
O congresso do
próximo ano pode trazer alguns “amargos de boca” a JMN, porquanto “há uma
grande insatisfação interna pela condução que tem imprimido ao partido, isolado
do colectivo, apenas ouvindo um núcleo restrito que não percebe nada do que se
está a passar”, e adiantando: “há que perceber os sinais, no espaço de um ano o
PAICV perdeu duas eleições, depois de ter renovado a maioria absoluta e, pela
primeira vez, viu a contestação ao Governo sair à rua”.
“José Maria Neves
não ouve ninguém e anda desorientado, arrastando com ele um partido sem rumo e
provocando a renúncia de muitos camaradas”, refere ainda.
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