Verdade (mz)
Temos um medo
irracional da Frelimo. Andamos todos preocupados com a candidatura de Armando
Guebuza para a sua sucessão na direcção do seu partido. A apreensão até pode
ser legítima, dado que historicamente nunca conhecemos, no país, Presidente da
República que não fosse igualmente da Frelimo.
A questão da
sucessão preocupa os “moçambicanos” por causa de uma possível, dizem,
emergência de dois centros de poder. Alegam, os temerários de tal hipótese, que
é um perigo o país mergulhar na fórmula de Putin.
É certo que, nos
dias que correm, a relação entre partido e Estado ganhou contornos de uma
promiscuidade absurda. Umas vezes pela pressa dos governantes em subalternizar
o Estado, outras pela leitura que os próprios dirigentes fazem dessa relação
para incutir, nos moçambicanos, que, passe a repetição, o Estado não subsiste
sem o partido.
Desmorona e
dilui-se na sua própria insignificância. O certo é que, dia após dia, vemos um
partido cada vez mais forte e um Estado sem expressão. De forma estranha, os
actuais líderes de opinião dão mais importância ao partido do que ao Estado.
As páginas dos
grandes jornais andam repletas desse jogo de sucessão e legitimam, em coro, o
medo irracional de todos nós. Todos temem as decisões do X congresso da
Frelimo. Ainda mais quando sabem que Guebuza é candidato à própria sucessão.
Há-de vir para aqui o exemplo de que há muito em jogo e que Guebuza luta para
proteger o seu património financeiro. Até pode ser verdade. Porém, não é disso
que devíamos ter medo.
Se dissermos que o
nosso medo deriva da possibilidade de Guebuza mandar na Frelimo, no mínimo,
estamos a mentir, porque nenhuma pessoa lúcida, por mais fraca que seja, deve
temer o poder de um presidente de Partido. Portanto, fica bem visto que se trata
de um outro medo. Ora, quem teme partidos confundiu o acessório. Aqui reside o
nosso erro. No fundo, tememos Guebuza porque concebemos, no âmago do nosso
subconsciente, que a Frelimo será Governo. É, portanto, por via disso que
tememos Armando Guebuza.
Porém, aceitar que
a Frelimo seja Governo depende da nossa vontade. Aceitar que a fórmula de Putin
vingue em Moçambique está na mão de “22” milhões de moçambicanos.
Quem deve temer
Guebuza são os membros do seu partido, se tiverem motivos para tal. Nós não.
Não podemos temer alguém que só poderá mandar no país se nós o permitirmos.
Temer dessa forma é pior do que estar indefeso. É que, no mínimo, estamos a
assumir uma situação em que é melhor acabar com eleições e esperar pelos
congressos da Frelimo para encontrar os governantes.
Assumimos, ainda
que implicitamente, que o cidadão é desprezado em todos os sentidos do termo e
da conduta do governante. Ou seja, reconhecemos a nossa impotência para mudar o
curso das coisas. Não nos reconhecemos agentes de qualquer mudança. Somos
objectos ou barro que, nas futuras eleições será transformado pelo oleiro que
tomará as rédeas do partido Frelimo.
Somos uns
autênticos incapazes. Porque, ao temer o que não devíamos, legitimamos as
vitórias da Frelimo nos próximos pleitos. Devíamos, para bem do país, ser mais
donos das nossas decisões do que a Frelimo. A não ser que não tenhamos essa
capacidade de sermos sujeitos do nosso destino. Mas aí, se não a tivermos,
somos obrigados a demitir-nos como povo. Não é a Frelimo que está errada; somos
nós que habitamos – para usar a linguagem de Egídio Vaz – uma torre de equívocos
colectivos. E, de todas as formas, a culpa é nossa.
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