FP - Lusa
Bissau, 23 set
(Lusa) - Joãozinho Gomes tinha uma casa mas ela caiu e 15 pessoas ficaram sem
teto. Sem emprego, Joãozinho está "a andar" desde então à procura de
ajuda e à espera que pare a chuva: "havendo material temos vontade de
trabalhar".
O drama de
Joãozinho Gomes, 57 anos, não é único em Bissau ou no resto da Guiné-Bissau,
onde a maior parte das casas são de construção precária, feitas de terra e
cobertas de colmo, às vezes de zinco. Em anos de muita chuva os blocos de terra
voltam a ser lama e as casas desmoronam-se.
Este ano, depois de
um 2011 anormalmente seco, a época das chuvas (de maio a outubro) tem sido
especialmente pródiga e a queda de casas também. Na última semana em Bissau, quase
meia dúzia ruiu, segundo a televisão nacional, em Cacheu, a norte, caíram pelo
menos 11, e em Bula, leste, foram abaixo mais algumas e até o pavilhão de uma
escola.
Tudo isso pouco diz
a Joãozinho Gomes, que olha com tristeza as paredes meio desfeitas da casa que
o abrigava a ele e a sete filhos e respetivas famílias, 15 pessoas ao todo.
Caiu tudo numa manhã de chuva, quando felizmente ninguém estava no interior.
Valeu-lhe a
solidariedade do vizinho, que numa primeira fase acolheu parte da família e que
agora ele mesmo se foi embora, porque uma parte da sua casa também caiu.
Joãozinho dorme agora numa casa que ameaça cair, ao lado da sua casa caída.
Alguns dos filhos espalharam-se pelas camas dos amigos.
Joãozinho nasceu na
região de Mansoa e trabalhou na antiga empresa Ultramarina, no tempo colonial.
A empresa fechou em 1980 e desde então nunca mais teve emprego. Nem nenhum dos
seus filhos trabalha.
A casa tinha
cobertura de colmo, que para ser impermeável tem de ser mudado todos os anos.
Este ano Joãozinho teve um AVC e o colmo não foi mudado. Com tanta chuva a casa
começou a meter água e ele, confessa, já andava desconfiado de que o pior podia
acontecer. E uma manhã a casa veio mesmo abaixo.
"Tínhamos
cama, espumas, coisas do fogão, caçarolas, algumas coisas estragaram-se outras
não", conta à Lusa, explicando que desde que a casa caiu está a pedir
ajuda.
"Estou a pedir
ao senhor Presidente e ao primeiro-ministro se podem ajudar, estou aí a andar
desde o outro dia mas até agora nada", diz.
Joãozinho também já
pediu ajuda ao presidente da Câmara, que prometeu que passaria no local, mas
sabe que enquanto não terminar a época das chuvas nada poderá ser feito.
"O que nós queremos é que quando a chuva parar começarmos a arranjar. O
problema é só o material, porque se vem o material temos vontade de
trabalhar".
"É a força da
chuva que obrigou a casa a cair. Faltam os alicerces. Não há meios para fazer
casas melhores", diz, repetindo com voz baixa, entre os escombros,
"meios ka tem" (meios não há).
Ainda assim, do
mal, o menos. A solidariedade dos vizinhos deu-lhe um teto, ainda que também
ele demasiado vulnerável. E os filhos ajeitam-se por ali. "Durmo em casa
de colegas, a parte da casa onde eu dormia não caiu mas agora tenho medo de
ficar aqui", diz um deles, 24 anos, estudante.
Só dormir. Porque
durante o dia tomam-se as refeições e fica-se por ali. À volta da casa. Dos
escombros de paredes erguidas há anos por eles e da sepultura de um outro filho
que morreu aos 28 anos. Só com a vontade de trabalhar, enquanto a chuva não vai
e as ajudas não vêm.
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