terça-feira, 23 de outubro de 2012

A VITÓRIA DO PSUV É UMA PITADA DE MÉRITO EM BENEFÍCIO DE TODA A HUMANIDADE! – III

 

Martinho Júnior, Luanda
 
9 – Ao abrir-se ao aprofundamento da democracia por via da cidadania e da participação (alterando profundamente a amplitude quantitativa e qualitativa do espectro eleitoral), ao abrir-se para o socialismo a implantar-se numa base institucional rejeitando ao mesmo tempo os termos da ditadura do proletariado, ao abrir-se para com as organizações populares de carácter social, Hugo Chavez, o PSUV e os outros 11 partidos da coligação “Grande Pólo Patriótico”, estão a enveredar por um caminho que coloca em cheque a lógica capitalista de que se nutre o império e o próprio império, ameaçando “o sistema” na (in)consistência dos seus próprios alicerces.
 
Do lado do exercício da hegemonia há capitalismo neo liberal exacerbado, ingerências de toda a ordem, desequilíbrios, tensões, conflitos e guerras, do lado do socialismo do século XXI, da lógica com sentido de vida, a bandeira da paz, da solidariedade, do respeito pela história dos oprimidos, pela humanidade e pelo planeta começa a estender-se não só na Venezuela, na ALBA, na América Latina toda, mas para além das fronteiras próximas, numa Colômbia onde grassa a mais longa guerrilha que enfrenta uma das oligarquias mais poderosas e criminosas das Américas.
 
Essa dialéctica está pois a demonstrar ser extraordinariamente corrosiva para o império, para os seus aliados, coligações e interesses: as alternativas saudáveis, as que perseguem a lógica com sentido de vida, estão a ser conduzidas ao poder por toda a América, comprimindo o negativo histórico implantado por via do capitalismo secular, neutralizando pouco a pouco o poder dos fantoches, até reduzi-los à sua cada vez mais manifesta impotência.
 
A contra-cultura de paz socialista e popular, leva o exercício da política para um terreno em relação ao qual as culturas elitistas das oligarquias e dos seus partidos tradicionais, as culturas que se alimentam de ingerências, desequilíbrios, tensões, conflitos e guerras, só têm a perder por que se vão reduzindo à única legitimidade que os assiste: a insignificância, por via do contínuo repúdio popular!
 
Muitos dos oligarcas escolhem agora permanecer meio escondidos, meio exilados, na sua verdadeira pátria, aquela que engendrou o dólar e a corrupção, que engendrou o carácter de suas próprias trajectórias, comportamentos e atitudes: os Estados Unidos e de preferência a Florida.
 
A cultura da paz experimentada desse modo, está efectivamente a sobrepor-se às ingerências, sejam elas da natureza que forem, aos conflitos e às guerras, a única resposta viável que a aristocracia financeira escolheu para se sustentar e sustentar o império ao sabor da sua hegemonia!
 
10 – Essa é a razão fundamental que explica o facto de, apesar de ter realizado 15 actos eleitorais em 14 anos, mais do que qualquer outro país considerado democrático, Hugo Chavez ter sido tantas vezes considerado pelos interesses do império de “ditador”, coisa que só o último candidato opositor rejeitou por se ter tornado efectivamente um “slogan” eleitoralmente impraticável.
 
O “slogan” é de facto de tal maneira impraticável ao ponto das tecnologias e métodos usados na Venezuela nos actos eleitorais, terem sido já dos mais modernos, dos mais eficazes e os que garantem conferir toda a legitimidade e coerência, tudo isso por acção do estado de que “o ditador” tem sido líder!
 
Cada vez há mais observadores que se rendem a essas tecnologias e métodos e os apontam como exemplares para todo o mundo, a começar pelos próprios Estados Unidos, “promotores” duma “democracia representativa” inquinada pelo poder e influência dos “lobbies” de que se serve a aristocracia financeira mundial, uma “democracia” que encobre uma verdadeira ditadura financeira que agora com as crises sucessivas da lógica capitalista, está cada vez mais a cru e a nu na América, como na Europa, como em África e Ásia!
 
Julgo que a vitória do PSUV e de Hugo Chavez é desse modo uma substantiva e exemplar vitória para toda a humanidade e um repto à “ementa” da hegemonia, incluindo um repto à sua dilecta e quão subtilmente elitista e neo conservadora “democracia representativa”!
 
Nos Estados Unidos a alienação corrente que atinge as próximas eleições Presidenciais foi recentemente sintetizada num artigo de Noam Chomsky, “Alienação à moda dos EUA”:
 
“Nossos políticos mostram uma extraordinária vontade de sacrificar as vidas de nossos filhos e netos por ganhos a curto prazo. No momento em que as eleições para a Presidência chegam ao momento decisivo, é útil indagar como as campanhas políticas estão lidando com os temas mais cruciais que enfrentamos. A resposta é: ou muito mal, ou simplesmente não tratam destes assuntos. Sendo assim, surgem algumas questões importantes: por que? E o que podemos fazer em relação a isso?”…
 
Que contraste com as eleições na Venezuela!
 
As eleições refletem a dialética entre aqueles que advogam o socialismo e a paz e os que advogam o capitalismo selvagem que põe em causa os destinos da vida conforme ela é conhecida na Terra, a dialética entre os que respeitam a humanidade e o planeta e os que, por que isso dá muito lucro, promovem de fato a morte enquanto estratégia desde a IIª Guerra Mundial, aos nossos dias e para o futuro!
 
Ao analisarmos a evolução da situação na Venezuela com Hugo Chávez, o “Grande Pólo Patriótico” e o PSUV, não se pode deixar de recordar entre os muitos heróis da América, o que se propunha nos mesmos termos de aprofundamento da democracia e participação popular, nos mesmos termos de socialismo e paz, o Governo eleito de Salvador Allende e o banho de sangue que por via do golpe e da ditadura de Pinochet “inaugurou” a lógica capitalista exacerbada pelo neo liberalismo dos “Chicago Boys” e de acordo com as filosofias de Milton Friedman que o “substituiu”!
 
É necessário recordá-lo por que também na Venezuela a luta é entre aqueles que aprofundam a democracia e os que, como Pinochet, embora por via das eleições, procuram instalar uma “democracia representativa” que dê cobertura à ditadura financeira a que conduz o capitalismo neo liberal!
 
Desembocando sempre nas políticas de “democracia representativa” da conveniência da ditadura financeira prodigalizada pela a aristocracia financeira mundial, suas oligarquias e elites afins, o processo elitista e conservador na América só tem sido conseguido alcançar os seus objetivos por via do golpe e cada vez menos por via do voto; na Venezuela o voto impede de há 14 anos a esta parte, que os progressos em direção ao socialismo, sejam contrariados pelos que querem o voto na direção da “democracia representativa” e, através dela, conduzir os destinos do país na direção da ditadura financeira neo liberal!
 
Lembre-se as últimas palavras de Salvador Allende a 11 de Setembro de 1973, ao povo chileno e aos povos de todo o mundo:
 
"Talvez esta seja a última oportunidade em que possa falar com vocês.
 
A Força Aérea bombardeou as torres de Rádio Portales e Rádio Corporación.
 
Minhas palavras não têm amargura, mas decepção, e elas serão a punição moral para os que traíram o juramento que fizeram (... )
 
Perante estes fatos só posso dizer aos trabalhadores: Eu não vou renunciar.
 
Colocado num trânsito histórico, vou pagar com minha vida a lealdade ao povo (... )
 
Têm a força, poderão avassalar-nos, mas os processos sociais não param, nem com o crime, nem com a força.
 
A história é nossa e é feita pelos povos".
 
11 – Se a Venezuela é uma lição para o império e seus bárbaros expedientes uni-polares e hegemónicos, para os Estados Unidos e para a Europa em crise, para os mentores duma NATO que se estende até ao AfPaq (Afeganistão e Paquistão), por maioria de razão o é em relação a África e a todos os países do mundo, em particular os Não Alinhados!
 
Em razão da propaganda indexada ao império em África há deliberadamente pouco estudo e pouco interesse em relação aos processos progressistas em curso na América e em particular os processos que se erguem nos componentes da ALBA!
 
Por exemplo, as elites africanas são capazes de produzir Constituições indo buscar à Europa os constitucionalistas mais conservadores e nem sequer se lembram de estudar, ao menos estudar, a Constituição dos países progressistas da América!
 
Por exemplo ainda, em África abrem-se as portas por via do neo liberalismo, em socorro das teses da macroeconomia capitalista!... mas há imensas dificuldades em encaminhar o estado para o papel crucial de promotor da justiça social, dum maior equilíbrio social, do combate ao analfabetismo, do esforço no sentido de diminuir drasticamente a mortalidade materno-infantil, de alcançar rapidamente os Objetivos do Milénio!…
 
A verdadeira independência da América está a ocorrer agora, 200 anos após o içar das bandeiras e em África, 50 anos após o içar das bandeiras, o neo colonialismo é aplicado pelos mesmos critérios e métodos, pelo mesmo tipo de vínculos, provavelmente por que são as próprias elites africanas que estão a procurar esvaziar o sentido do movimento de libertação a se aprestam a assumir o mesmo papel das oligarquias agenciadas pelo império no outro lado do Atlântico!
 
As elites africanas estão meio atordoadas, quando não meio deslumbradas pela lógica capitalista que chegou ao neo liberalismo rampante da hegemonia na globalização e intoxicadas pelas ingerências, interesses e conveniências dos que dão corpo ao império e ao neo colonialismo, demonstrando seus apetites e temores, demonstrando cada vez mais sua incapacidade para melhor decidirem e conduzirem os destinos dos seus povos!
 
Há regiões inteiras em África que estão a sofrer, sem praticamente resistir, os impactos do capitalismo neo liberal por via da globalização da conveniência do império, como por exemplo o caso do espaço CEDEAO!...
 
12 – A Venezuela possui assim no Movimento dos Não Alinhados um papel cada vez mais importante, por aquilo que ela contraria à hegemonia, favorece ao multi-polarismo, mas sobretudo pela lógica com sentido de vida que obriga a outro tipo de relacionamentos internacionais, procurando alterar o caráter das instituições internacionais mais decisivas.
 
O respeito pela humanidade e pelo planeta são questões éticas que fazem parte das preocupações essenciais desses relacionamentos, pelo que a 16ª Reunião dos Não Alinhados realizada em Teerão, procurou ser uma afirmação de paz e de unidade, que se pretende fazer sentir nas prementes alterações por que a ONU deve enveredar, principalmente ao nível do seu obsoleto e injusto Conselho de Segurança.
 
A Venezuela organizará a XVIIª Cimeira do Movimento dos Não Alinhados em 2015 que marcará a ênfase da independência em relação ao que se prende ao sistema do império neo-colonial e possibilita o multi-polarismo.
 
As últimas eleições na Venezuela consolidam também a posição dum fulcro de estados Não Alinhados que se identificam com as alternativas de vanguarda em relação à humanidade e ao planeta!
 
Foto: Imagem do último comício de Hugo Chavez antes das eleições a 7 de Outubro: enquanto em Espanha, Portugal, Itália e Grécia as grandes manifestações são contra a ditadura financeira imposta pelo capitalismo neo liberal que dilacera o tecido social das grandes periferias europeias, na Venezuela as grandes manifestações ocorreram numa época de construção duma democracia aprofundada pela participação e cidadania, de socialismo, de trabalho, de melhor distribuição de rendimentos, de mais justiça social, de mais equilíbrio e sobretudo de paz! Que contraste!
 
A consultar:
- “Allende abriu para sempre as grandes alamedas” – http://www.granma.cu/portugues/nossa-america/13sept-Allende.html
- “É pecado imperdoável o uso de armas de destruição maciça” – http://resistir.info/irao/mna_disc_abertura.html
- “Le Sommet du MNA s’achève sur un appel à la paix dans lo Monde” – http://www2.irna.ir/fr/news/view/line-98/1209016338103818.htm
- “As eleições venezuelanas e o debate económico na América do Sul” – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21070&boletim_id=1410&componente_id=23602
 
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