As eleições gerais de 31 de Agosto marcaram o corolário de um processo de
reinvenção do país que em boa verdade começou nos finais dos anos 80. Foi com a
aprovação e início de implementação em 1987 do Programa de Saneamento Económico
e Financeiro, "SEF", que arrancou o processo das reformas
macroeconómicas. Na realidade, foi o primeiro passo de abertura para a economia
de mercado e que conduziu posteriormente o país ao multipartidarismo político,
em 1991. A UNITA foi chamada a participar no processo e novos partidos surgiram
no espectro político angolano. O universo da media em Angola viu surgir novos
títulos de imprensa e novas rádios. O pluralismo de ideias fez morada e o país
ficou convencido que tinha ganho o oxigénio necessário para encetar outras transformações.
Os angolanos acreditaram que estava dado um passo importante para a unificação
do país, para a preservação da integridade territorial e da soberania nacional.
As mudanças empreendidas foram impulsionadas pelo Presidente José Eduardo dos
Santos e pelo MPLA. Mas a UNITA pôs em causa todo o processo ao recorrer de
novo às armas depois de perder as eleições de 1992. Faz sentido voltar sempre a
recordar este facto para se perceber a dimensão histórica do que está em causa.
Diante da recusa de solução pacífica do conflito militar – vale a pena lembrar
que várias rondas de negociações com esse objectivo foram feitas -, o país teve
de se desdobrar em esforços colossais para pôr ponto final à guerra. Foram a
sagacidade e inteligência do Presidente José Eduardo dos Santos que permitiram
manter intacta a integridade territorial e o reconhecimento pela comunidade
internacional da justeza dos princípios defendidos.
Apesar do percalço da guerra, que ceifou a vida a milhares de angolanos, a
refundação do país não parou. Assenta em processos que correm paralelos: da
consolidação da paz, da reconstrução da economia destruída pela guerra, do
reforço da democracia, do reforço das instituições do Estado, da formação da
riqueza humana e material indispensável à conquista do desenvolvimento
económico e social para o país.
Quem olha para a História Universal e saiba tirar as devidas ilações sobre os
processos de unificação dos Estados europeus e sua evolução até aos dias de
hoje, saberá certamente entender o devido valor e dimensão da figura de José
Eduardo dos Santos. É uma lenda viva que já conquistou o seu lugar na História
de Angola e no coração dos angolanos.
Se a Agostinho Neto se deve o mérito de ter conduzido com êxito a luta de
guerrilha e proclamado a independência nacional, a 11 de Novembro de 1975, a
José Eduardo dos Santos cabe o feito de ter impedido o desmembramento do país,
de tê-lo lançado na via da reconstrução e da modernização e, em particular, da
instauração da democracia multipartidária.
A democracia e a reconciliação nacional não se fazem com ódio e José Eduardo
dos Santos foi o primeiro a dar o exemplo. Quando a guerra atingiu o ponto de
viragem ordenou que fossem salvaguardadas as vidas de todos os efectivos das
forças militares da UNITA sobrantes e se assinasse o acordo de paz.
Só uma pessoa com dimensão de estadista é capaz de, com elevação e sentido de
responsabilidade histórica, tomar uma decisão de tamanha grandeza política.
Porque sabe que a democracia não se faz com rancor. É com valores nobres que
ela cresce. Da mesma seiva se alimenta a reconciliação nacional. Quer uma quer
outra exigem provas diárias de entrega. Recusam gestos episódicos e em momentos
cruciais, em momentos em que os gestos ficam gravados para a História, a sua
avaliação assume dimensão ímpar.
A democracia não se esgota nas eleições e quem não consegue nas urnas a maioria
dos votos para governar deve saber respeitar a vontade popular e ter fair play.
Não apenas para aceitar os resultados, mas acima de tudo ter uma conduta ética
que o dignifique enquanto pessoa comprometida com os valores democráticos.
Os angolanos querem um país novo e a conquista da paz veio renovar as energias
de todos os seus filhos que estão empenhados na sua construção. Os angolanos
querem um país novo e não o querem apenas com construções modernas, com
infra-estruturas modernas. Querem também que haja novas mentalidades a condizer
com as mais nobres virtudes da democracia, de contraponto de ideias sem se
resvalar para comportamentos moralmente condenáveis.
Em democracia não há inimigos. Há sim adversários políticos que se devem o
respeito mútuo. Não é por não se partilhar das mesmas ideias que se deve
dispensar a cortesia, que ao contrário do que se pode pensar também tem, na
política, o seu devido valor e lugar.
Por isso, quando alguns políticos dizem que não felicitaram o cabeça de lista
do MPLA pela vitória nas eleições gerais porque a lei a isso não os obriga;
quando nem sequer se fizeram representar na cerimónia de investidura do
primeiro Presidente da República eleito em sufrágio universal, directo e
secreto, colocam-se de novo na contramão da História e dos próprios valores da
democracia que dizem defender.
1 comentário:
MANAÇAS, MANAÇAS, DEIXA LÁ DE MANIPULAR:
Enquanto Neto indicava o caminho - "o MPLA é o Povo, o Povo é o MPLA", agora quem indica o caminho na verdade garante que o MPLA é apenas os 100 novos ricos e o Povo é o que se reduz ao "público" (aquele ente bajulador pronto a aplaudir até à exaustão e incapaz de se olhar ao espelho)!
MANAÇAS, MANAÇAS: TU FAZES PARTE DESSE "PÚBLICO" E NÃO TE PODES REVER, POR QUE O ESPELHO JÁ HÁ MUITO QUE FOI PARTIDO!
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