JSD – ATR - Lusa
Cidade da Praia, 16
dez (Lusa) - A organização SOS Tartarugas indicou hoje que foram contabilizados
2.495 ninhos de desova nas praias da ilha cabo-verdiana do Sal no principal
período de nidificação, de junho a outubro deste ano, número que constitui um
recorde.
Numa nota, a
organização salienta que os dados são preliminares e refere que o número quase
quadruplica o total de 2011 e duplica o de 2009, tornando-se o ano com o maior
número de ninhos registados até ao momento em todo o Cabo Verde.
"Infelizmente,
este aumento não pode ser atribuído às boas ações da conservação mas sim devido
às flutuações naturais da própria espécie, um fenómeno que ainda não foi
totalmente compreendido", lamentou Jacquie Cozens, na nota da SOS
Tartarugas.
Em 2012, lê-se, a
taxa de mortalidade da espécie foi "muito baixa" nas praias que foram
protegidas pela SOS Tartarugas, Forças Armadas e Câmara Municipal do Sal,
embora o número de mortes tenha sido "bastante elevado", cerca de uma
centena, nas praias desprotegidas do norte.
A SOS Tartarugas
lembrou que, apesar de alguns empreendedores turísticos, como o Resort Group e
Paradise Beach, terem introduzido medidas de mitigação da luz - uso de filtros
vermelhos ou redirecionamento das luzes -, o risco de desorientação dos
filhotes exigiu a transferência do 73 por cento dos ninhos.
"Infelizmente,
muitos dos ninhos deixados «in situ» foram comidos por cães, um problema que
tem aumentado nos dois últimos anos", salientou Jacquie Cozens.
"Os ninhos
transferidos para a incubadora, em que se reproduzem as condições naturais,
tiveram uma média de êxito de eclosão de 75 por cento. Na natureza, apenas uma
em 1.000 tartarugas chega à idade adulta. Garantir o maior número possível de
tartarugas que, ao nascer, vai para o mar é fundamental", acrescentou.
A SOS Tartarugas
realçou que a distribuição dos ninhos em redor da ilha continuou a mostrar o
mesmo padrão dos anos anteriores, sendo a costa oeste a "menos
preferida" pelas tartarugas, devido ao efeito da grave perturbação causada
pelo desenvolvimento do turismo.
Outro motivo de
preocupação nesta temporada foi o grande número de turistas que, de noite,
foram levados para as praias por "guias sem formação adequada", o que
forçou o abandono do ninho por muitas tartarugas.
Jacquie Cozens
alertou tratar-se de uma situação "extremamente preocupante", porque
as luzes brilhantes e locais de construção, combinadas com a perturbação de
muitas pessoas nas praias, pode significar que as tartarugas estejam relutantes
em sair do mar.
"As tartarugas
precisam de praias escuras e silenciosas e, este ano, quando havia muitas
pessoas ou devido ao uso do «flash» das câmaras, vimos com frequência como elas
voltaram ao mar sem colocar os ovos", concluiu Jacquie Cozens.
Ainda não há dados
sobre as restantes ilhas em que a organização está envolvida na preservação dos
habitats naturais das tartarugas - Santo Antão, São Vicente, São Nicolau,
Boavista, Maio, Santiago e Fogo. A Brava é a única que não é abrangida.
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