Público – foto AFP
O Presidente vai
falar ao país. O Palácio Presidencial está protegido por tanques da Guarda
Republicana. Cinco pesssoas morreram durante a noite.
O Exército egípcio
apelou esta manhã aos que há cinco dias protestam contra o Presidente Mohamed
Morsi, que recolham às suas casas e ponham fim aos confrontos no Cairo.
De quarta para
quinta-feira, a violência entre as duas facções de manifestantes (anti e
pró-Morsi) matou cinco pessoas e feriu 350, levando a Guarda Presidencial a
cercar o Palácio Presidencial de tanques e veículos blindados.
"A guarda
começou a deslocar [veículos] para assegurar que a sede da presidência se
mantém em segurança e mantém a sua capacidade de ser o símbolo do Estado e o
quartel-general do Governo", explicaram estes militares num comunicado
citado pela Reuters. O mesmo comunicado assegura que se manterão apenas
vigilantes, e que não serão "instrumento de opressão dos
manifestantes".
Na rua estão dois
grupos adversários. Os que se manifestam contra o Presidente eleito. E os
convocados pela Irmandade Muçulmana (partido islamista a que Morsi pertence).
Na manhã desta quinta-feira, depois de algumas horas de calma na madrugada — de
acordo com o relato da BBC online — os confrontos recomeçaram, com pedras a
serem arremessadas de um lado e de outro das manifestações; foram também
lançadas pedras aos militares.
O jornalista da BBC
no Cairo referia que, apesar da presença da Guarda Presidencial na rua, o
ambiente é de grande tensão e que uma escalada na violência poderia acontecer
ao longo do dia. A presidência anunciou que Morsi vai falar aos egípcios ainda
hoje, não especificando a hora.
A Guarda
Presidenciaial e a Guarda Republicana são responsáveis pela protecção do
Presidente e dos palácios presidenciais. São seus os tanques e veículos
blindados nas ruas do Cairo. O Exército, que tomou parte na revolução que
derrubou o antigo Presidente, Hosni Mubarak, tem-se mantido à margem desta nova
vaga de protestos contra o Presidente eleito. Os seus opositores, e uma parte
da população, considera que Morsi está a percorrer, muito rapidamente, um
caminho semelhante ao de Mubarak, criando condições para ser um chefe de Estado
autocrata, validando ao mesmo tempo uma Constituição islamista.
Num decreto datado
de 22 de Novembro, Morsi (que foi eleito no Verão) atribuiu-se poderes quase
plenos. Esta circunstância, aliada à possibilidade de a maioria parlamentar ser
islamista depois das eleições do ano que vem, motivou a revolta da oposição e
da população. o Presidente justificou-se com a necessidade de refazer as
instituições do país (sobretudo o sistema judicial), ainda dominadas por
pessoas da era Mubarak.
"Este regime
perdeu toda a legitimidade", disse Mohamed ElBaradei, o prémio Nobel da
Paz e activista pró-democracia que dirigiu a Agência Internacional de Energia
Atómica das Nações Unidas. "Um regime que ostensivamente se apoia no seu
próprio séquito e na acção de delinquentes, é um regime sem qualquer
legitimidade, que está a conduzir o Egipto para um caminho de instabilidade e
violência", disse à Agência noticiosa Associated Press.
Um grupo de
opositores ergueu um acampamento junto ao Palácio Presidencial — a revolução
contra Mubarak começou assim, com um acampamento que foi crescendo na Praça
Tahrir —, parte das tendas foram destruídas por grupos de islamistas que se
concentraram no mesmo recinto. A hostilidade entre os dois grupos atingiu o
ponto de ruptura na quarta-feira, com a noite a ser sengrenta.
"Viemos aqui
para apoiar as decisões do Presidente Morsi. Ele é o Presidente eleito do
Egipto", disse à Reuetrs um manifestante, Emad Abou Salem, de 40. "Só
ele tem legitimidade".
Tentando arrefecer
o caldeirão, o vice-presidente, Mahmoud Mekky, disse numa conferência de
imprensa na quarta-feira que o Egípto precisa de "consenso político".
"Existe uma genuína vontade de ultrapassar esta fase e de responder às exigências
da população". Apelou à oposição liberal e secular para reconsiderar a sua
posição e regressar ao diálogo pois "os partidos políticos terão toda a
liberdade para apresentar emendas" ao polémico "rascunho" da
nova Constituição, depois da eleição do novo Parlamento. Porém, deixou bem
claro — o que voltou a fazer ferver os ânimos — que as duas grandes queixas da
oposição não serão mudadas: o adiamento do referendo popular para a aprovação
da Constituição e a revogação do decreto que isenta Morsi de qualquer processo
criminal (está, pois, acima da lei).
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