Massacre atesta o
lado mais brutal da experiência colonial portuguesa - historiador
LAS – HB - Lusa
Maputo, 15 dez
(Lusa) - O investigador português Pedro Aires Oliveira defende que o
"melindre" em torno de Wiriyamu resulta de o massacre ocorrido há 40
anos no centro de Moçambique "atestar o lado mais brutal da experiência
colonial" portuguesa.
"Obriga-nos a
pôr em perspetiva alguma da retórica que celebra o caráter 'singular' do
colonialismo português, alegadamente mais tolerante, e que ainda encontra eco
em certos setores da sociedade portuguesa", referiu, numa declaração
enviada à Lusa. Pedro Oliveira, co-autor, com Bruno Reis, da investigação
"Cutting Heads or Winning Hearts: Late Colonial Portuguese
Counterinsurgency and the Wiriyamu Massacre of 1972".
O massacre de
Wiriyamu, perpetrado no dia 16 de dezembro de 1972 por tropas especiais
portuguesas em três aldeias da província moçambicana de Tete, terá resultado na
morte de mais de 400 civis, suspeitos de pertencerem ou ajudarem a Frelimo.
Mas, ainda hoje, o
episódio, "dos mais terríveis da guerra colonial", continua pouco
conhecido dos portugueses, apesar do grande impacto internacional que teve na
época e de ser frequentemente comparado à "chacina de My Lay", que
envolveu militares norte-americanos no Vietname.
"Em Portugal,
nunca se realizou um apuramento dos factos e das responsabilidades equiparável
àquele que, apesar de tudo, foi feito nos EUA, embora conduzindo a apenas uma
condenação", recorda o investigador da Universidade Nova de Lisboa.
Para além de pôr em
causa o caráter alegadamente mais benigno do colonialismo português, os
acontecimentos de 16 de dezembro de 1972 terão, segundo diversas
interpretações, apressado a democratização de Portugal e o fim das guerras
coloniais em África.
Pedro Oliveira
considera que Wiriyamu consolidou "uma tendência de fundo que se estava a
desenhar" nas frentes de guerra: a dos militares temerem expiar por este
tipo de atrocidades, "que tinham tendência para se suceder", e a
denúncia internacional e de figuras ligadas à Igreja Católica.
"Era um
desenvolvimento muito preocupante para um regime com o perfil do Estado Novo e
seu historial de colaboração com a Igreja", considera o historiador.
"O facto de
Moçambique entre finais de 73 e inícios de 74 ter sido palco de uma série de
episódios que puseram a nu todas essas tensões (estado colonial/setores da
Igreja, Exército/população branca, etc.), ajuda a esclarecer a vontade dos
militares portugueses em porem fim à guerra - em última análise, era a sua
honra que estava em causa", acrescentou Pedro Oliveira.
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MASSACRE DE WIRIYAMU, com video
1 comentário:
Muita parra pouca uva, diriam os nossos antepassados. Os artigos publicados apresentam opiniões e narrativas não identificadas nem identificáveis. Nada de provas. Os números altamente desencontrados de mortos aduzidos são disso um exemplo. É facílimo pesquisar junto do Ministério da Defesa Nacional para saber quem foram as unidades militares supostamente intervenientes, o seu comando, o relatório da operação produzido, a identidade de todos os militares envolvidos, etc...etc...
Alguns militares ainda deverão estar vivos. O referido Carmo Vicente, na ausência da sua participação no episódio, deverá identificar quem lhe relatou os factos, a prova de que foram testemunhas, comparar o conteúdo das diversas narrativas, para concluir mais em abono da verdade do que simplesmente acusar, lançar labéus e opinar...certo?...
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