Evenimentul, Zilei
Bucareste – Presseurop – imagem AFP
A 9 de dezembro, os
romenos elegem os seus deputados e senadores, na sequência de um ano marcado
por uma longa crise entre o Presidente Traian Băsescu e o primeiro-ministro
Victor Ponta. Nesta situação, é difícil levar a cabo um debate sobre o estado
real da sociedade.
Penso que o que
está em jogo nestas eleições foi perfeitamente resumido pelo primeiro-ministro
Victor Ponta [membro da União Social Liberal, centro-esquerda], quando, durante
uma visita à Roménia profunda, disse que, se nos tivessem dito que teríamos de lidar
com a DNA [Direção Nacional Anticorrupção] e com a ANI [Agência Nacional de
Integridade] e que não ficaríamos apenas com dinheiro nos bolsos, talvez
tivéssemos pensado duas vezes antes de aderir à UE.
Isto faz-me
recordar uma mulher que vi um dia, no telejornal de uma cadeia belga: tinha
tido um filho que sofria da síndrome de Down [ou trissomia 21] e dizia que, se
tivesse sabido, teria tratado de interromper a gravidez a tempo, porque – dizia
– "a saúde da criança está acima de tudo".
Adesão à UE fez bem
à Roménia
Pondo de lado o
absurdo da situação, penso que o primeiro-ministro tem razão, do ponto de vista
político: a adesão à UE fez um bem enorme à Roménia e a todos os romenos, antes
mesmo de se tornar efetiva. As pessoas habituaram-se aos seus benefícios, que
consideram como dados adquiridos, aos quais já nem sequer prestam atenção. Já
só reparam no que lhes acontece de mal.
Analisemos mais de
perto os dois temas principais, que, diz-se, ocupam os pensamentos dos
eleitores, nesta campanha mole e adulterada. Em 2012, os rendimentos mensais
das famílias, calculados em lei (moeda nacional), foram 73% superiores aos de
2006, o último ano de crescimento económico máximo antes da adesão (e da
crise). Por outras palavras, os romenos vivem incomparavelmente melhor do que
então. Mas quem quer saber disso?
Os eleitores não
raciocinam contra a corrente dos factos, perguntando-se como viveriam se não
tivéssemos entrado na UE, e também não fazem cálculos objetivos a longo prazo.
Não: quando votam, as pessoas vão buscar as expectativas subjetivas que
projetavam, de maneira um tanto utópica, por alturas de 2006-2007, quando
parecia que tudo – os salários, os preços dos terrenos, os empregos – ia
aumentar 30% por ano, indefinidamente.
É esta carência
subjetiva que modela o comportamento eleitoral, e não apenas na Roménia. Pedir
à população que leia as excelentes análises da Comissão Europeia sobre os
"custos da não adesão" seria inútil, do mesmo modo que mandá-la numa
viagem iniciática à República da Moldávia não serviria de nada.
Danos colaterais
O outro tema caro
às pessoas, pelo menos em teoria, é a corrupção, ou seja, a maneira como
"eles" nos roubam, sejam quem forem os "eles", tanto faz,
são todos iguais. Tanto quanto se pode avaliar, não é de esperar que sejam recompensados
aqueles que, depois de 2005-2006, tornaram possível que, pela primeira vez em
150 anos de Estado romeno moderno, altos funcionários possam ser julgados e
considerados culpados de corrupção. Esta novidade concretizou-se na sequência
de pressões diretas da UE e seria de pensar que a população a inscrevesse na
coluna dos "benefícios".
O combate à
corrupção não podia realizar-se sem choques, o que nos reconduz diretamente ao
que está em jogo nestas eleições: aqueles que são ameaçados pelo reforço do Estado
de direito apoiado pela Europa são numerosos e não deixarão que lhes arranquem,
sem luta, as rédeas do país.
Na verdade,
representam uma maioria na classe política, embora estejam divididos entre mais
moderados e mais radicais. Nos últimos meses, temos tido a sensação de que o
primeiro-ministro Ponta, por exemplo, pouco controlo tem da situação, instalado
como está numa posição desconfortável de grande distância entre os dois campos,
tentando dizer a cada interlocutor aquilo que este quer ouvir. Daí todas essas
contorções verbais oficiais que divertem a galeria.
Por outras
palavras, enquanto para os eleitos o que está em causa nas eleições é o
regresso ou não à impunidade perante a lei, o povo votará inevitavelmente de
acordo com uma lógica paralela, movido pelos ventos antiBăsescu [o Presidente
Traian Băsescu, do Partido Democrata Liberal] que começaram a soprar há dois
anos. Porque foi o Presidente quem [a pedido do FMI] reduziu os seus salários e
as suas reformas. Com o tempo, esses ventos abrandarão – mas é ainda demasiado
cedo. A ideia da Europa parece estar sofrer os danos colaterais de tais ventos.
Prognóstico
Caminho quase livre
para o USL
Apesar de as
eleições serem só a 9 de dezembro, tudo está decidido, escreve o România liberă. O
diário afirma que dentro da União Social-liberal, o partido do
primeiro-ministro cessante Victor Ponta, já se distribuem
lugares no futuro Governo, prepara-se o tratamento a dar ao Presidente [Traian
Băsescu], elaboram-se as listas de futuros eurodeputados. […] Todos os
argumentos que indicam uma vitória da União Social-liberal (USL) com um
resultado superior a 50% são irritantes, tal como a campanha eleitoral no seu
conjunto. O resultado eleitoral não pode ser contraditado pela USL. E o partido
tudo faz para que assim seja.
A arrogância assim
descrita pelo diário poderá levar os eleitores a absterem-se ou a desmentirem
as sondagens votando no ARD, Aliança Romena Direita, apoiada por Traian
Băsescu. É uma das razões pelas quais o Jurnalul Național, que apoia
Victor Ponta, apela ao voto dos cidadãos:
O que devemos
fazer? Devemos vencer a apatia e a preguiça. Devemos votar, é tudo o que nos
resta. Votem, como se esta fosse a última vez. Falem com os vossos amigos e com
os vossos parentes e digam-lhes que esta é a última oportunidade para se
pronunciarem contra a ocupação, porque a Roménia vive sob ocupação. Vão votar
como se quisessem parar o fim do mundo. […] Deem um primeiro tratamento,
através do voto, pelo boca a boca, à nossa democracia moribunda, enquanto ainda
estamos a tempo.
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