JSD – VM - Lusa
Cidade da Praia, 20
jan (Lusa) - O historiador cabo-verdiano Daniel Pereira apelou hoje aos
cabo-verdianos para uma "atitude de maior nacionalismo", ensinando
aos mais novos a história dos seus heróis por acreditar que há um défice de
conhecimento de Amílcar Cabral.
Daniel Pereira, ao
intervir no Fórum Amílcar Cabral, que decorre desde sexta-feira e hoje termina
na Cidade da Praia, referia-se ao facto de os currículos escolares "pouco
dizerem" sobre as várias facetas do líder nacionalista da Guiné-Bissau e Cabo
Verde.
Segundo o
historiador, discursando perante uma plateia de "notáveis" mas
também, e sobretudo, de estudantes universitários e do secundário, Cabral,
assassinado em Conacri em circunstâncias nunca apuradas faz hoje 40 anos, foi
um homem que escolheu um caminho "duro" para fazer a sua história,
distanciando-se do facilitismo.
"Há homens que
marcam a história pelo cunho, estilo e presença incomparável. Cabral foi um
desses homens raros, cuja vida e ação modificaram o curso da história,
considerando o período e as condições particulares nas quais interveio",
destacou.
Amílcar Cabral,
segundo Daniel Pereira, conseguiu condensar e sintetizar, numa determinada
época, os sentimentos de toda a sua comunidade e os transformar em convicções,
que acabaram por ser levadas à prática pela grande maioria da população.
Patriota e nacionalista
convicto, a ligação à sua pátria era, para o conferencista, um "sentimento
chave" que impediu que o herói nacional aceitasse a situação de degradação
dos povos, por que lutava, de desprezo da sua história e da sua cultura.
"Essa recusa
de submissão fê-lo lutar e vencer todas as adversidades. E porque estava
firmemente convencido da justiça da sua causa, conseguiu comunicar a muitos uma
dinâmica de coragem, certo de estar ao lado da justiça", frisou.
Para o historiador,
Amílcar Cabral preparou as populações para a batalha inevitável contra o
colonialismo português, despertou, nas consciências, a memória de séculos de
servidão, colocando os objetivos supremos da luta acima de tudo e bateu-se
pelas independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.
"Como
diplomata fino que foi, Cabral conseguiu, através da condução da política
externa, diversificar os seus contactos e alianças de maneira a gerir a sua
autonomia e independência face aos aliados naturais e tradicionais, procurando
ser coerente e perseverante no respeitante aos seus nobres interesses
políticos", sustentou.
Amílcar Cabral,
explicou, era conhecido como um homem de Estado de grande envergadura e como um
estratega político de ampla visão prospetiva.
O fórum,
subordinado ao tema "Por Cabral, Sempre", congrega conferencistas de
Portugal, Cabo Verde, Angola, Brasil, Canadá, Finlândia, Itália, Guiné-Bissau e
Senegal e termina hoje, dia dos Heróis Nacionais, data que assinala o dia do
assassínio do "pai" das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
O encerramento,
presidido pelo primeiro-ministro, José Maria Neves, realiza-se ao princípio da
noite, numa cerimónia marcada por uma homenagem a Cabral.
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