Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
Não há praticamente
nada que João Proença não aceite. Não há acordo, por pior que seja, que
não esteja disponível para assinar. O secretário-geral da UGT
transformou-se num dos poucos aliados deste governo. Mas nem ele é respeitado
por Passos Coelho e Vítor Gaspar.
Depois de ter acordado que não haveria mais
alterações nas indeminizações por despedimento até entrar em vigor o novo fundo
pago pelos trabalhadores, o governo decidiu, às escondidas, reduzir as
indeminizações para 12 dias por ano. Tal proposta nunca foi apresentada em
concertação social. Até os patrões, que concordam com a medida, confirmam a
traição.
Não é defeito, é feitio. Passos
Coelho e Vítor Gaspar, incapazes de compreender os mecanismos democráticos
pelos quais nos regemos, dinamitam todas as possibilidades negociais para
qualquer medida sua. Estes fanático à solta conseguiram, finalmente, deixar o
governo irremediavelmente isolado: nem Cavaco, nem CDS, nem grande parte do
PSD, nem UGT.
Pode dar-se o caso
de estarmos, mais uma vez, a assistir à estratégia de avançar com a pior
proposta para recuar depois, tornando aceitável o que à partida nem deveria
merecer negociação. Mesmo que volte a resultar, ela vai minando a pouca
credibilidade que reste a este governo.
As indeminizações
por despedimento são a única forma que um trabalhador de 40 ou 50 anos com
muitos anos numa única empresa tem para reconstruir a sua vida. Para tentar
começar um negócio ou apenas sobreviver entre o fim do subsídio de desemprego e
a reforma. São o que permite que o despedimento seja uma tragédia um pouco
mais suportável e que evita o caos social. Uma redução tão drástica nos seus
montantes terá efeitos brutais no futuro.
Mas esta medida é
coerente com a estratégia do governo e da troika para o País: embaratecer
o despedimento é enfraquecer o poder negocial do trabalhador, enfraquecer o
poder negocial do trabalhador é criar as condições para reduzir o salário,
reduzir o salário é a estratégia que este governo tem tornar Portugal
competitivo. Uma estratégia sem qualquer futuro.
Há, em países de
média dimensão, duas estratégias possíveis perante o despedimento. Uma, usada
nos países que adoptaram a "flexisegurança": facilidade de
despedimento, barato e rápido, com prestações sociais fortes e apoio público ao
emprego. Há flexibilidade, mas a segurança está garantida. Há mobilidade no
emprego mas há apoio aos desempregados e empenhamento do Estado na criação de
emprego. A outra, mais tradicional: subsídios de desemprego moderados,
pouco investimento público na reconversão dos trabalhadores e leis laborais que
protegem o emprego criado. A primeira, que já foi vendida por aqui, só é
possível em países com muitos recursos. É cara para o Estado. A segunda, é a
que pode ser aplicada nos países com menos recursos.
O que o governo
quer é o pior dos dois mundos: despedimento fácil e barato e redução de
apoios públicos aos desempregados. É o que se pratica nos países subdesenvolvidos.
Aqueles que são competitivos no trabalho desqualificado. Compreende-se, assim,
que o governo despreze os parceiros sociais. Em países realmente pobres a
concertação social é irrelevante. Funciona apenas a lei do mais forte.
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