segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

JORNALISTAS CHINESES EM GREVE CONTRA A CENSURA




António Carneiro, RTP – foto em Lusa

Mais de 100 jornalistas de um dos mais respeitados semanários da China entraram em greve para protestar contra a censura. Na origem desta paralisação rara está o editorial de Ano Novo do Nanfang Zhoumo (Semanário do Sul) que foi alterada pelos responsáveis da propaganda oficial. Também o controlo sobre o microblog do jornal é alvo da contestação dos jornalistas, que exigem a demissão do responsável pela propaganda da província de Guangdong. O jornal de Cantão é conhecido pela qualidade do seu jornalismo de investigação e por muitas vezes testar os limites da liberdade de expressão impostos pelas autoridades comunistas.

“É a primeira vez em duas décadas que o departamento oficial de um grande jornal da China promove abertamente uma greve contra a censura governamental”, escreve o jornal de Hong Kong South China Morning Post, referindo-se aos acontecimentos de Cantão.

Editorial crítico transformou-se em mensagem de louvor 

A mensagem original de Ano Novo do Nanfang Zhoumo apelava a reformas políticas e à garantia dos direitos constitucionais, mas foi modificada pelos censores de modo a tornar-se num artigo de louvor ao Partido Comunista Chinês. 

A contestação subiu de tom, depois de o microblog oficial do jornal ter desmentido, domingo à noite, que o editorial de ano Novo tenha sido alterado por causa da censura. Os autores do comentário afirmaram que “os rumores que circulam online são falsos”. 

Os comentários do microblog, alegadamente, postados por alguns editores séniores, acabaram por ser a última gota que desencadeou a greve dos membros da equipa editorial contrários a esta posição.

Conflito inédito ganha amplitude

Julga-se que está será a primeira vez que o quadro editorial de um jornal entra em conflito direto com funcionários do partido comunista chinês. 

Os jornalistas acusam o chefe do departamento de propaganda da província de Guangdong, Tuo Zhen, de ter pessoalmente alterado o editorial de Ano Novo, na véspera do dia em que este devia seria publicado. Em resposta, exigem a demissão deste responsável, acusando-o de ser “ditatorial” numa era de “crescente abertura “.

Em duas cartas abertas, 35 destacados ex-colaboradores e cinquenta estagiários do jornal também apelaram à demissão de Tuo Zhen, classificando o sucedido de “interferência grosseira”. 

O movimento de contestação está a ganhar amplitude nacional e circula neste momento uma petição contra a censura, que já foi assinada por centenas de intelectuais, jornalistas e internautas. 

Vinte e sete académicos do continente, Hong Kong e Taiwan, nos quais se incluem destacados juristas e economistas, também apelaram publicamente à demissão do chefe da propaganda de Guangdong. 

Ativistas pró-democracia manifestam-se em apoio dos jornalistas

Apoiantes do Nanfang Zhoumo concentraram-se entretanto em frente das instalações do jornal, para apoiar a luta dos jornalistas. Alguns dos manifestantes exibiam cartazes onde se lia “queremos liberdade de imprensa, constitucionalismo e democracia”. 

A província de Cantão situa-se na costa sul da China e confina com Macau e Hong Kong sendo considerada uma das mais prósperas do país.

Os jornais chineses estão sob supervisão dos denominados “departamentos de propaganda” que, frequentemente mudam o conteúdo das notícias de forma a alinhá-lo com a filosofia do partido. 

De acordo com a Constituição chinesa, "os cidadãos da República Popular da China têm direito à liberdade de expressão, de imprensa, reunião, associação e manifestação", mas o "papel dirigente" do Partido Comunista Chinês (PCC) é, considerado "um princípio cardial", sobrepondo-se à Constituição. 

A crise no Nanfang Zhoumo ocorre menos de dois meses após o 18. Congresso do PCC, que elegeu uma nova "liderança central", encabeçada pelo futuro Presidente, Xi Jinping. 

Na sexta-feira passada, as autoridades chinesas encerraram o site “Anais do Imperador Amarelo”, uma publicação associada aos setores mais liberais do Partido Comunista Chinês, depois de este ter publicado um apelo à nova liderança do partido para "garantir os direitos constitucionais dos cidadãos". 

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