José Carlos de
Vasconcelos – Visão, opinião
É de todo
inadmissível que o Governo continue sem tomar nenhuma iniciativa para
renegociar a dívida e baixar o juro que Portugal paga
As más notícias, as
medidas que agravam sem cessar a situação dos portugueses - em particular a
classe média e os mais desprotegidos -, as faltas de visão, de preparo e de
rigor, mesmo as mentiras e pouca vergonhas, sucedem-se em acelerado ritmo.
Assim, sobrepondo-se umas às outras, as mais recentes, descontextualizadas, vão
apagando ou minimizando as anteriores. Isto é: veem-se as (novas) árvores mas
não a floresta; e nas árvores veem-se os (novos) ramos, mas não a copa, nem o
tronco e muito menos as raízes.
Não trato agora,
pois, das "mensagens" de Natal do primeiro-ministro, que estiveram à
sua altura, nem de outras recentes miudezas. Verifico e saliento que chegados
ao fim 2012, temos de concluir que foi um ano horribilis para Portugal. E
tem-se como certo que 2013 será ainda pior. Ora, o que tinha sido dito,
garantido, é que em 2012 começaria a viragem ou recuperação, que em 2013 se
consolidaria. Tudo, porém, ocorreu ao contrário e as perspetivas são muito más.
Ora, a principal
responsabilidade da situação em que estamos, e da falta de esperança para o
futuro próximo, é, claro, de quem hoje nos governa - sem esquecer
responsabilidades anteriores e a persistente crise europeia, que contribui para
a gravidade da situação e a dificuldade de a ultrapassar. De forma telegráfica,
alguns sublinhados sobre o que julgo estar na sua base.
O Governo, ou a
dupla Passos Coelho/Gaspar tem uma ideologia e uma política neoliberais, às
vezes ultra, que vai para além dos ditames da troika, em vez de os amenizar e
adaptar à realidade nacional. Mau grado os resultados que estão à vista, com o
sucessivo incumprimento das metas estabelecidas, até no défice, insiste no
mesmo caminho e nos mesmo erros. Contra tudo e contra todos (exceto os
mandantes, cúmplices ou dóceis apaniguados), "custe o que custar". E,
para mal de todos nós, tem custado e vai continuar a custar muito.
O único objetivo
parece ser "voltar aos mercados", como fim em si e não um meio
para... Mas - que projeto para um Portugal que volte a ser mais próspero e
sobretudo mais livre e mais justo? Nenhum projeto, nenhuma esperança para o
futuro, nenhuns "estadistas" ou sequer políticos dos que estão no
Poder em que os portugueses confiem para serem os rostos e os protagonistas
desse projeto e dessa esperança. Esta a triste realidade.
Triste realidade
para a qual contribui, e de que faz parte o impiedoso ataque, nas relações
sociais, ao fator trabalho, com um paralelo desmantelamento do Estado Social.
Desmantelamento, insisto, não a sua adequação, transitória ou duradoura, para o
preservar, a uma situação difícil. De tal forma que ainda há dias uma grande
figura conservadora, mas humanista, que ocupou dos mais altos cargos, me dizia
que o atual Poder quererá destruir o Estado Social porque se convenceu de que,
se assim não for, será o Estado Social que destruirá o modelo de sociedade que
defende.
E triste realidade de
que faz parte também a venda, por junto ou a retalho, de património que o País,
o Estado, nunca deveria alienar, muito menos (para já não falar em questões de
"transparência") nas atuais condições de mercado e com a "corda
na garganta". Este é, aliás, um dos domínios em que se compreende mal a
pouca combatividade, e uma certa falta de consistência, de um PS e de um
António José Seguro que penso estarem longe de, em geral, aparecer como uma
alternativa convincente, antes surgindo como um eventual mal menor.
Há muitos outros
aspetos a considerar e lamentar, até no plano ético, na minha ótica
fundamental. E questões importantes, até no plano simbólico, como a da
remodelação ministerial, com a substituição da Miguel Relvas: ou ocorre, e a
curto prazo, ou ainda mais se afundará a credibilidade de Passos Coelho. Por
último, a questão da renegociação da dívida, com descida da taxa de juro. É de
todo incompreensível e inadmissível que o Governo continue sem tomar nenhuma
iniciativa nesse sentido, quando se somam os argumentos e as circunstâncias
favoráveis à consecução do que tem de ser encarado como um objetivo nacional
prioritário. Voltarei ao tema.
Sem comentários:
Enviar um comentário