Paulo Baldaia –
Diário de Notícias, opinião
O PS pode querer,
mas o que sabemos é que o Governo só cai se o CDS sair da coligação ou se o
Presidente dissolver a Assembleia. E sabemos também que Portas se mantém no
Governo por "patriotismo", enquanto Cavaco se reafirma avesso a
crises políticas.
Aqueles de quem
depende a sobrevivência deste Executivo já se afirmaram disponíveis para manter
o statu quo e isso significa que qualquer teoria sobre o fim
antecipado da coligação não precisa de perder tempo com o que pensa o PS.
Acontece que os socialistas acreditam que o Governo tem fortes probabilidades
de não chegar ao Natal. Olhemos para o que pode ser complicado de gerir:
1 - a rua pode
voltar a ficar complicada com a contestação ao plano para cortar 4 mil milhões
na despesa pública.
2 - a execução
orçamental na primeira metade do ano pode mostrar que o défice de 4,5% não será
conseguido sem medidas extraordinárias.
3 - o Tribunal
Constitucional pode declarar que há normas do orçamento que não estão de acordo
com a lei fundamental.
4 - em Outubro,
pode haver um desastre eleitoral da coligação que reduza a soma dos votos dos
dois partidos abaixo dos 30%, dando ao PS o que ele precisa (uma grande
vitória) para se mobilizar como alternativa de governo.
Com estas quatro
coisas a acontecer, já não será apenas a vontade de Portas ou de Cavaco a
determinar o futuro do Governo. Passos Coelho também ficará obrigado a pensar
no assunto. Aliás, perante a eventual concretização deste cenário, alguém no
seu perfeito juízo pode considerar que a convocação de eleições antecipadas é
criar uma crise política? Não, não é. É constatá-la e resolvê-la da forma
democraticamente mais lógica.
Mas, até porque
vivemos uma situação de emergência, a Democracia prevê uma outra solução. Um
governo de iniciativa presidencial, que junte o melhor dos partidos e da
sociedade civil, não pode ser visto como um capricho de Cavaco. Teria de ter o
apoio de uma larga maioria, é algo quase impossível de pôr de pé, mas, para
evitar que isto fique pior do que na Grécia, um governo destes não pode ser
excluído por preconceito político.
Mas nestas contas
também tem de entrar o que pode ser favorável ao Governo. O País pode conseguir
cumprir o principal objectivo do memorando e regressar aos mercados em boas
condições, mudando assim a percepção de uma parte significativa dos eleitores. Encontrar financiamento para a nossa economia será uma grande vitória da dupla
Passos/Gaspar e o desastre eleitoral das autárquicas pode não acontecer. Neste
cenário, o Governo reforçará as condições para cumprir a legislatura e quem
pode vir a ter de arrepiar caminho será o líder do PS, que aposta tudo na
antecipação das eleições.
Por decisão
pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
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