Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Passos Coelho
fechou a célebre conferência sobre a reforma do Estado (agora já com os
jornalistas todos presentes) com uma frase deveras interessante de analisar:
"O país não pode parar só por não haver consensos". Aparentemente, a
frase faz sentido e revela um homem determinado; porém, se pensarmos segunda
vez é uma frase profundamente errada.
As reformas que o
país tem de fazer não podem ser feitas 'apesar do país'. O mandato que o
Governo tem não pode ser 'contra o país'. As reformas que constitucionalmente
precisam de consenso têm de ser obtidas com o consenso necessário. A frase de
Passos é, por isso, totalmente desprovida de sentido, a menos que
implicitamente haja a ameaça de um golpe palaciano ou pior.
À arte de transformar
uma sociedade nos limites do que é possível chama-se governar. Talvez se o
primeiro-ministro pensasse mais nisto, e menos em voluntarismos sem sentido,
fosse capaz de arranjar soluções e reformas de que, verdadeiramente,
necessitamos. E em vez de seguir, isolado, não se sabe para onde,
conseguisse alguns aliados. Mas a escolha está feita, e com ela mais uma
oportunidade perdida.
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