quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

FERNANDO ULRICH: O MENINO DE PASSOS COELHO NA BANCA


Ai aguenta aguenta! Sem banha nem vaselina...

João Lemos Esteves – Expresso, opinião

1. Fernando Ulrich é, sem sombra de dúvidas, um banqueiro competente com um percurso muito consistente. Ao contrário de muitos outros, sobre ele não recai a mais ténue suspeita de comportamentos menos lícitos ou mais reprováveis do ponto de vista ético. Por ser tão competente e tão sério, Fernando Ulrich não consegue compreender por que razão não é a figura mais influente, mais ouvida em Portugal! No fundo, o sonho de Fernando Ulrich é poder influenciar determinantemente os destinos de Portugal. É ser capa de jornais durante semanas consecutivas. Mas não tem conseguido: Fernando Ulrich é - há que admiti-lo - uma figura de segundo plano, de segunda linha, a quem não é reconhecida a importância que ele atribui a si próprio.

2. Com efeito, Fernando Ulrich iniciou o seu percurso como jornalista na área de economia no EXPRESSO, assinando artigos de grande densidade que reflectiam (já então) um notável domínio das matérias económicas. Praticamente na mesma altura, Fernando Ulrich aderiu ao PSD, com a determinação de concretizar a sua vocação política. Em vão. Fernando Ulrich opta então pelo caminho empresarial, nomeadamente pela carreira na banca. Qual era a sua ideia? Em Portugal, o centro de decisão não se encontra nos meios formais, nas instituições políticas constitucionalmente consagradas - mas sim na banca, quer nos detentores do capital, quer nos dirigentes das principais instituições financeiras portuguesas. Ora, Fernando Ulrich, para concretizar o seu sonho, adoptou uma estratégia curiosa: aliou à gestão bancária competente e rigorosa, uma comunicação agressiva com emprego das técnicas e segredos do discurso político. Fernando Ulrich é, pois, um banqueiro político. A sua vocação é a política. A sua paixão é a política. O seu maior sonho, neste momento, é ser referenciado como um potencial candidato presidencial da direita para 2016. Daí a sua colagem ao Governo Passos Coelho com frases bombásticas de defesa da política de austeridade deste Governo. Fernando Ulrich é mais passista do que o próprio Passos Coelho: reparem até que Fernando Ulrich convoca uma conferência do BPI para transmitir uma mensagem política forte poucos dias antes de ir ao Parlamento. Achava que Passos Coelho lhe iria mandar um cartão de agradecimento, a exaltar os actos e as suas declarações patrióticas - enganou-se redondamente: tanto quanto sei, Passos Coelho ainda não teve esse acto de generosidade.

3. Contudo, há que reconhecer que, na sua dimensão de banqueiro político, Fernando Ulrich é um verdadeiro trapalhão. As suas frases terrivelmente eloquentes (meu Deus!) são longamente pensadas e trabalhadas para serem soundbytes, de forma a dominar os noticiários televisivos e as páginas dos jornais. Como Fernando Ulrich recorda-se, dos seus tempos de jornalista, da regra segundo a qual aquilo que choca conquista sempre audiências, teve a brilhante ideia de afirmar " que se os sem-abrigo resistem à crise, todos nós aguentamos". Ui, que frase tão poética! Que lirismo tão brilhante! Enfim, é uma frase que só degrada o debate político e tão intelectualmente indigente que só afecta e humilha quem a profere. O homem é superiormente inteligente, é tecnicamente competente - mas tem declarações que só humilham e envergonham quem as profere. Defender Passos Coelho não permite tudo: há limites para a defesa da imposição aos portugueses de uma política de austeridade fanática. Pelo menos, devem ser respeitados os limites do bom senso! Fernando Ulrich vestiu a capa de um fanático político, equiparando-se aos assessores do Primeiro-Ministro - vale a pena, Doutor? Você só está a enfraquecer a sua imagem e a sua posição em defesa de uma política que, mais tarde ou mais cedo, vai ter de ser profundamente retocada e alterada...

4. Em jeito de conclusão, refira-se que a tendência para frases bombásticas e de mau gosto de Fernando Ulrich é justificada pelo seu "trauma de menoridade". A verdade é que Fernando Ulrich, que tem um ego enorme como já expliquei, sempre foi uma figura de segunda ou terceira linha. Na banca e na política. Na política, porque tem falhado os timings para assumir posições de relevo. Na banca, porque a sua posição é sempre subalternizada face a outras personalidades como Ricardo Salgado ou outros "dinossauros do dinheiro". No fundo, Ulrich com as suas frases de mau gosto só está a pedir a nossa atenção. Não levemos demasiado a sério...

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