Ai aguenta aguenta! Sem banha nem vaselina... |
João Lemos Esteves –
Expresso, opinião
1. Fernando Ulrich
é, sem sombra de dúvidas, um banqueiro competente com um percurso muito
consistente. Ao contrário de muitos outros, sobre ele não recai a mais ténue
suspeita de comportamentos menos lícitos ou mais reprováveis do ponto de vista
ético. Por ser tão competente e tão sério, Fernando Ulrich não consegue
compreender por que razão não é a figura mais influente, mais ouvida em
Portugal! No fundo, o sonho de Fernando Ulrich é poder influenciar
determinantemente os destinos de Portugal. É ser capa de jornais durante
semanas consecutivas. Mas não tem conseguido: Fernando Ulrich é - há que
admiti-lo - uma figura de segundo plano, de segunda linha, a quem não é
reconhecida a importância que ele atribui a si próprio.
2. Com efeito,
Fernando Ulrich iniciou o seu percurso como jornalista na área de economia no
EXPRESSO, assinando artigos de grande densidade que reflectiam (já então) um
notável domínio das matérias económicas. Praticamente na mesma altura, Fernando
Ulrich aderiu ao PSD, com a determinação de concretizar a sua vocação política.
Em vão. Fernando Ulrich opta então pelo caminho empresarial, nomeadamente pela
carreira na banca. Qual era a sua ideia? Em Portugal, o centro de decisão não
se encontra nos meios formais, nas instituições políticas constitucionalmente
consagradas - mas sim na banca, quer nos detentores do capital, quer nos
dirigentes das principais instituições financeiras portuguesas. Ora, Fernando
Ulrich, para concretizar o seu sonho, adoptou uma estratégia curiosa: aliou à
gestão bancária competente e rigorosa, uma comunicação agressiva com emprego
das técnicas e segredos do discurso político. Fernando Ulrich é, pois, um banqueiro
político. A sua vocação é a política. A sua paixão é a política. O seu
maior sonho, neste momento, é ser referenciado como um potencial candidato
presidencial da direita para 2016. Daí a sua colagem ao Governo Passos Coelho
com frases bombásticas de defesa da política de austeridade deste Governo.
Fernando Ulrich é mais passista do que o próprio Passos Coelho: reparem até que
Fernando Ulrich convoca uma conferência do BPI para transmitir uma mensagem
política forte poucos dias antes de ir ao Parlamento. Achava que Passos Coelho
lhe iria mandar um cartão de agradecimento, a exaltar os actos e as suas
declarações patrióticas - enganou-se redondamente: tanto quanto sei, Passos
Coelho ainda não teve esse acto de generosidade.
3. Contudo, há que
reconhecer que, na sua dimensão de banqueiro político, Fernando Ulrich é um
verdadeiro trapalhão. As suas frases terrivelmente eloquentes (meu Deus!) são
longamente pensadas e trabalhadas para serem soundbytes, de forma a
dominar os noticiários televisivos e as páginas dos jornais. Como Fernando Ulrich
recorda-se, dos seus tempos de jornalista, da regra segundo a qual aquilo que
choca conquista sempre audiências, teve a brilhante ideia de afirmar " que
se os sem-abrigo resistem à crise, todos nós aguentamos". Ui, que frase
tão poética! Que lirismo tão brilhante! Enfim, é uma frase que só degrada o
debate político e tão intelectualmente indigente que só afecta e humilha quem a
profere. O homem é superiormente inteligente, é tecnicamente competente - mas
tem declarações que só humilham e envergonham quem as profere. Defender Passos
Coelho não permite tudo: há limites para a defesa da imposição aos portugueses
de uma política de austeridade fanática. Pelo menos, devem ser respeitados os
limites do bom senso! Fernando Ulrich vestiu a capa de um fanático político,
equiparando-se aos assessores do Primeiro-Ministro - vale a pena, Doutor? Você
só está a enfraquecer a sua imagem e a sua posição em defesa de uma política
que, mais tarde ou mais cedo, vai ter de ser profundamente retocada e alterada...
4. Em jeito de
conclusão, refira-se que a tendência para frases bombásticas e de mau gosto de
Fernando Ulrich é justificada pelo seu "trauma de menoridade". A
verdade é que Fernando Ulrich, que tem um ego enorme como já expliquei, sempre
foi uma figura de segunda ou terceira linha. Na banca e na política. Na
política, porque tem falhado os timings para assumir posições de
relevo. Na banca, porque a sua posição é sempre subalternizada face a outras
personalidades como Ricardo Salgado ou outros "dinossauros do
dinheiro". No fundo, Ulrich com as suas frases de mau gosto só está a
pedir a nossa atenção. Não levemos demasiado a sério...
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