Luís Reis Ribeiro –
Dinheiro Vivo
A recessão deste
ano vai ser de 2,3% e o desemprego vai subir até 18,2% da população ativa,
refere o Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu estudo semestral sobre as
perspetivas de crescimento global (World Economic Outlook). O fardo da dívida,
que já está nuns insustentáveis 123% do PIB, deve subir ainda mais, avisa a
instituição.
Os números hoje
divulgados não se desviam um milímetro do cenário avançado por Vítor Gaspar, a
15 de março, na apresentação de resultados da sétima avaliação da troika, isto
apesar de o FMI antecipar agora uma recessão ainda pior da economia da zona
euro, que deve contrair-se 0,3%, valor que fica assim em linha com a projeção
da Comissão Europeia, de fevereiro.
A degradação da
economia do euro tem sido o principal argumento das autoridades nacionais
(Governo, Banco de Portugal) para justificar as recentes revisões em baixa das
perspetivas para a atividade económica.
Sem nunca se
debruçar sobre a situação concreta de Portugal, o FMI, que é um dos elementos
da troika, diz que "no curto prazo, as condições na periferia [Portugal,
Grécia, Irlanda, Espanha] vão permanecer apertadas: os fardos da dívida deverão
aumentar mais; os bancos vão continuar a enfrentar pressões de desalavancagem,
custos de financiamento elevados, deterioração da qualidade dos ativos e lucros
fracos".
Assim, "em
virtude dos impostos elevados, condições apertadas de crédito e procura
doméstica fraca, o investimento deverá falhar a sua retoma e o crescimento
desapontar". Assim, a estratégia seguida, que toda a troika defende, pode
levar a uma nova derrota nas economias periféricas, embora o FMI não proponha
qualquer alternativa: Se o crescimento desiludir, "as receitas orçamentais
podem ficar aquém do esperado e poderá não ser possível aliviar a consolidação
orçamental como se projeta".
Por outro lado, o
FMI refere que os riscos descendentes para o crescimento da zona euro são
"predominantes" e que podem piorar "por causa da fadiga do
ajustamento ou de uma perda mais geral de energia nas reformas".
Relativamente à
balança corrente (balança comercial e de transferências correntes), em relação
à qual o Governo tem elogiado repetidas vezes o facto de esta estar a caminho
de um excedente pela primeira vez em muitas décadas, o FMI põe água na fervura.
Este ano pode
registar um saldo positivo de 0,1% do PIB, mas em 2014 voltará a ser negativa
(-0,1%), o que significa que a mudança de perfil de que se vangloria o Governo
pode nem ser sustentável. O Ministério das Finanças está à espera de um défice
de 0,3% este ano e um excedente de 0,4% no próximo.
Sem comentários:
Enviar um comentário