Ana Sá Lopes –
Jornal i, opinião
O grego Samaras
também era contra a austeridade antes de chegar ao governo
A remodelação a
conta-gotas que o governo está a fazer - um secretário de Estado novo no
sábado, outra no domingo - é típica dos tempos de decadência. O governo já é um
fantasma e a coligação está em vias de se extinguir. Já só falta contar os
dias, ou as semanas, ou os meses. Paulo Portas tem a faca e o queijo na mão -
pode rebentar com o governo na altura que lhe convier - e percebe-se que a sua
paciência já está em queda livre. António José Seguro nem precisa de falar em
eleições todos os dias: mais dia, menos dia, elas vão acontecer e ele vai
acabar primeiro-ministro. O congresso do fim-de-semana mostrará uma oposição
interna neutralizada - o documento dos “jovens turcos”, noticiado na página 4,
está longe de ser um manifesto contra o vencedor das eleições directas. É,
simplesmente, um elenco de propostas, a maioria com valor, e uma
institucionalização de uma “tendência” que já funcionava informalmente dentro
do partido.
É um facto que o PS
vai ganhar as próximas eleições - e sem maioria absoluta. E depois? O fundador
do PS, Mário Soares, defendeu recentemente que será possível ao PS fazer uma coligação
com o Bloco de Esquerda. Alguns dos jovens socialistas que se agruparam nos
últimos tempos em torno da falhada candidatura de António Costa à liderança
também defendem essa via. Nesta edição do i, o ex-presidente do governo
regional dos Açores, Carlos César - uma reserva da nação PS para o que der e
vier - vem subtilmente contrariar estas opiniões. O PS, segundo César, terá de
liderar a seguir às eleições “um governo de salvação nacional”: “Ir para o
governo depois de eleições, numa perspectiva de salvação nacional, poderá ser
uma obrigação cívica e a única possibilidade de acautelar que a dimensão de
protecção social não é destituída a pretexto da consolidação orçamental”. Mas,
defende Carlos César, “se formos chamados pelos portugueses para governar
teremos de o fazer com uma ampla base parlamentar e social de apoio (...) e,
sem dúvida, com um novo figurino formal e material das nossas relações com a troika”.
Mas César prevê como “sendo absolutamente provável que o tenhamos de fazer com
os partidos que compreendem a inevitabilidade da renovação desses
compromissos”.
Ora, isto vai
conduzir a um novo bloco central ou, eventualmente, a uma frente PS-PSD-CDS.
Esta é a discussão que o PS precisa de ter - se se quer samarizar (o grego
Samaras também era contra a austeridade antes de chegar ao governo) ou romper.
Samarizar é mais provável.
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