Diário de Notícias, editorial – 23 maio 2013
A conferência de
imprensa em Berlim, dada pelos ministros das Finanças da Alemanha e de
Portugal, ilustra na perfeição a marcha e o ponto de situação do programa de
ajustamento português.
Para Wolfgang Schäuble, os avanços quanto a ganhos de
credibilidade junto dos credores internacionais são inegáveis e evidentes -
medidos em redução continuada das rendibilidades em todas as maturidades de
dívida pública do Estado português; no fortalecimento dos capitais próprios dos
bancos em Portugal; na eliminação do défice externo; na redução esforçada do
endividamento das famílias e, em grau menor, das empresas; e, finalmente, na
redução do défice estrutural das contas públicas (aqui, Schäuble disse que sim,
vigorosamente, com a cabeça!), nem precisam de ser recordados numa conferência
de imprensa.
Ouvir Gaspar ou
Schäuble é escutar o mesmíssimo discurso. Nessa exata medida, a consigna do
Governo de Passos Coelho continuará a ser manter-se colado às posições de
Berlim, para poder beneficiar do respaldo político, do apoio técnico e,
porventura, do investimento direto alemão. Para que esta parceria perdure,
pouco importa que a grande preocupação quanto ao desemprego e a prioridade
concedida ao seu combate só comece a produzir confessadamente resultados daqui
a quatro anos...
E que, de permeio,
haja uma ameaça de rotura surda na coligação governamental, com data marcada
para explodir no próximo mês de setembro, quando da finalização do Orçamento do
Estado para 2014. Mas disto, considera-se em Belém, o melhor é que o povo nada
ouça, nada veja e, sobretudo, nada diga.
Aznar de regresso?
Entre as aulas em
universidade americanas, as palestras mundo fora e um lugar na administração da
News Corporation, o grupo de media de Rupert Murdoch, José María Aznar tem
estado muito ativo no sector privado desde que em 2004 deixou a chefia do
Governo espanhol. Mas agora, numa entrevista, deixa no ar a hipótese de
regressar à vida política. "Cumprirei com a minha responsabilidade, com a
minha consciência, com o meu partido e com o meu país com todas as
consequências", declarou o conservador que durante oito anos liderou a Espanha,
época marcada pelo crescimento económico e pela redução do desemprego.
Aznar aproveitou
para elogiar o primeiro-ministro Mariano Rajoy, seu delfim, para relembrar
também que a Espanha tem de recuperar a sua pujança e ainda para negar as
acusações de financiamento ilícito enquanto era líder partidário. Saiu
igualmente em defesa da Coroa.
Na democracia
espanhola não há memória de um primeiro-ministro que tentasse regressar ao
lugar. E, ao contrário de Portugal, não existe a presidência da república como
objetivo de uma segunda fase da carreira. Mas Aznar não saiu após derrota. Quem
perdeu em 2004 foi já Rajoy, que sofreria ainda um segundo desaire antes de
ganhar em 2011. Contudo, as sondagens mostram um PP em mínimos históricos, só à
frente dos socialistas porque estes também estão em perda. Só um Aznar
verdadeiramente convencido da sua aura vencedora arriscaria o regresso.
Sem comentários:
Enviar um comentário