A Nação (cv)
Cabo Verde e os
demais países africanos de expressão portuguesa (PALOP) estão, ao que tudo
indica, no centro de uma “guerra silenciosa” entre os Estados Unidos da América
e a China pelo controlo da África Ocidental. Tal disputa passa pela instalação
neste arquipélago de uma estação de monitoramento militar e o estabelecimento
de parcerias económicas, como sugere a agência de notícias Reuters.
Uma outra fonte,
com dados substanciais sobre o assunto, é o jornal americano Huffington Post,
que em artigo publicado na semana passada e assinado por Nicolas Kozloff (autor
do livro “Revolução! América do Sul e o nascer de uma nova esquerda”), revela
que depois de encerrar as guerras no Iraque e no Afeganistão, Washington
pretende agora conquistar África, antecipando-se a uma China em ascensão que
busca matéria-prima e jazidas de petróleo para explorar.
“Com o fim das
guerras no Iraque e no Afeganistão, Washington está a virar seu foco para outro
lugar. Silenciosamente, a administração Obama está a criar uma vasta gama de
recursos militares na África Ocidental e, especificamente, em países
lusófonos”, diz Kozloff.
COMBATE A RADICAIS
ISLÂMICOS
Segundo a mesma
fonte, o Pentágono pretende estabelecer uma “estação de monitoramento” em Cabo
Verde, enquanto mais ao sul, no Golfo da Guiné, navios e pessoal
norte-americanos estão a patrulhar as águas locais. “Preocupado para não chamar
muita atenção para si, o Pentágono tem evitado a construção de grandes
instalações militares, preferindo concentrar-se numa ‘almofada de lírio’
chamada estratégia de bases menores”, escreve ainda o Huffington Post, que cita
o caso de São Tomé e Príncipe (STP), onde os EUA contam instalar uma base
anti-radar, além de militares da Marinha estarem neste momento envolvidos em
obras no aeroporto local e não só.
Aparentemente,
ainda segundo o periódico norte-americano, Washington está a combater o aumento
de radicais islâmicos que operam no interior do continente africano e o
contrabando de droga na região, mas deixa a entender o jornal que, por detrás
disso, o objectivo principal dos EUA é controlar a África Ocidental. Como?
Através dos países de expressão portuguesa, a começar por Cabo Verde, onde já
investe de forma substancial através do MCA e financia através de empresas
particulares de segurança offshore o controlo do tráfego marítimo no Atlântico
Norte.
INTRIGA DE PETRÓLEO
Segundo o
Huffington Post, no seu esforço para aliviar a sua dependência do volátil Médio
Oriente, “os EUA estão a procurar outro lugar para comprar petróleo e é
provável que passe a importar 25 por cento do ouro negro da África em 2015”.
Nessa linha, o
vice-comandante do África Comando, Robert Moeller, declarou recentemente que
proteger “o livre fluxo dos recursos naturais da África para o mercado global é
muito importante, bem como prevenir a interrupção do petróleo”.
O problema,
constata Kozloff, é que os EUA têm de enfrentar uma China em ascensão, um país
também interessado na obtenção de jazidas de petróleo na África Ocidental. É
que, na tentativa de adquirir recursos naturais, Pequim tem vindo a prosseguir
os contratos de exploração de petróleo offshore em STP. Em 2009, a empresa
chinesa Sinopec adquiriu à suíça Addax quatro blocos de petróleo em São Tomé,
tornando-se líder do sector petrolífero nesse arquipélago.
Para a mesma fonte,
se STP descolar como um grande fornecedor de petróleo, à semelhança da Nigéria
e Guiné Equatorial, a China estará certamente melhor posicionada para colher a
recompensa máxima da bonança do petróleo. Só que nisso Pequim, deixa a entender
o mesmo jornal, terá que contar com um perfil militar crescente dos EUA sobre
as ilhas, de modo a evitar as ameaças no acesso ao crude.
Mas se da sua parte
os EUA têm a vantagem de possuir um perfil militar em crescendo na África
Ocidental, os chineses, por seu turno, têm procurado neutralizar tal influência
através de joint-ventures com empresas africanas, sobretudo em Angola, STP e
Cabo Verde, utilizando os laços linguísticos que têm com Macau.
“Para combater os
EUA nos países lusófonos africanos, Pequim apelou à sua própria comunidade de
negócios em Macau. A ex-colónia portuguesa é vista como bastante útil para a
China devido inclusive ao facto de ser também uma região com bastante
influência da Igreja Católica”, diz Huffington Post.
Entretanto,
ficheiros secretos da diplomacia americana, divulgados pela Associated Press,
confirmam a notícia do Huffington Post, ao referir que Pequim espera tirar
proveito dos laços culturais e linguísticos que Macau possui com os PALOP, para
"expandir os objectivos económicos e comerciais com as comunidades
chinesas no exterior e criar uma plataforma estável para a China nesses países
lusófonos como São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau”.
ENTRAR NO BRASIL
Neste jogo pelo
domínio planetário – e no caso concreto da África Ocidental – todas as peças
são trunfos. Para os EUA, o plano B para sobrepor-se aos yuans chineses é
colar-se ao Brasil, país emergente e com fortes ligações linguístico-culturais
com a África lusófona. “Estabelecer laços cordiais com Brasília pode ser um
movimento astuto para Washington”, observa Nicoals Kosloff, para quem o governo
de Dilma Roussef tem um importante papel a desempenhar neste domínio.
Seja como for, o
facto é que, diante da nova ordem mundial, Cabo Verde volta a ser visto como
país geo-estrategicamente bem posicionado, podendo daí tirar proveito e assumir
uma função central no equilíbrio de forças nas relações Norte/Sul. O tema em si
não é novo, mas o que está por advir sim.
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