sábado, 15 de junho de 2013

EUA e China “brigam” por Cabo Verde: Casa Branca quer estação de monitoramento militar



A Nação (cv)

Cabo Verde e os demais países africanos de expressão portuguesa (PALOP) estão, ao que tudo indica, no centro de uma “guerra silenciosa” entre os Estados Unidos da América e a China pelo controlo da África Ocidental. Tal disputa passa pela instalação neste arquipélago de uma estação de monitoramento militar e o estabelecimento de parcerias económicas, como sugere a agência de notícias Reuters.

Uma outra fonte, com dados substanciais sobre o assunto, é o jornal americano Huffington Post, que em artigo publicado na semana passada e assinado por Nicolas Kozloff (autor do livro “Revolução! América do Sul e o nascer de uma nova esquerda”), revela que depois de encerrar as guerras no Iraque e no Afeganistão, Washington pretende agora conquistar África, antecipando-se a uma China em ascensão que busca matéria-prima e jazidas de petróleo para explorar.

“Com o fim das guerras no Iraque e no Afeganistão, Washington está a virar seu foco para outro lugar. Silenciosamente, a administração Obama está a criar uma vasta gama de recursos militares na África Ocidental e, especificamente, em países lusófonos”, diz Kozloff.

COMBATE A RADICAIS ISLÂMICOS

Segundo a mesma fonte, o Pentágono pretende estabelecer uma “estação de monitoramento” em Cabo Verde, enquanto mais ao sul, no Golfo da Guiné, navios e pessoal norte-americanos estão a patrulhar as águas locais. “Preocupado para não chamar muita atenção para si, o Pentágono tem evitado a construção de grandes instalações militares, preferindo concentrar-se numa ‘almofada de lírio’ chamada estratégia de bases menores”, escreve ainda o Huffington Post, que cita o caso de São Tomé e Príncipe (STP), onde os EUA contam instalar uma base anti-radar, além de militares da Marinha estarem neste momento envolvidos em obras no aeroporto local e não só.

Aparentemente, ainda segundo o periódico norte-americano, Washington está a combater o aumento de radicais islâmicos que operam no interior do continente africano e o contrabando de droga na região, mas deixa a entender o jornal que, por detrás disso, o objectivo principal dos EUA é controlar a África Ocidental. Como? Através dos países de expressão portuguesa, a começar por Cabo Verde, onde já investe de forma substancial através do MCA e financia através de empresas particulares de segurança offshore o controlo do tráfego marítimo no Atlântico Norte.

INTRIGA DE PETRÓLEO

Segundo o Huffington Post, no seu esforço para aliviar a sua dependência do volátil Médio Oriente, “os EUA estão a procurar outro lugar para comprar petróleo e é provável que passe a importar 25 por cento do ouro negro da África em 2015”.

Nessa linha, o vice-comandante do África Comando, Robert Moeller, declarou recentemente que proteger “o livre fluxo dos recursos naturais da África para o mercado global é muito importante, bem como prevenir a interrupção do petróleo”.

O problema, constata Kozloff, é que os EUA têm de enfrentar uma China em ascensão, um país também interessado na obtenção de jazidas de petróleo na África Ocidental. É que, na tentativa de adquirir recursos naturais, Pequim tem vindo a prosseguir os contratos de exploração de petróleo offshore em STP. Em 2009, a empresa chinesa Sinopec adquiriu à suíça Addax quatro blocos de petróleo em São Tomé, tornando-se líder do sector petrolífero nesse arquipélago.

Para a mesma fonte, se STP descolar como um grande fornecedor de petróleo, à semelhança da Nigéria e Guiné Equatorial, a China estará certamente melhor posicionada para colher a recompensa máxima da bonança do petróleo. Só que nisso Pequim, deixa a entender o mesmo jornal, terá que contar com um perfil militar crescente dos EUA sobre as ilhas, de modo a evitar as ameaças no acesso ao crude.

Mas se da sua parte os EUA têm a vantagem de possuir um perfil militar em crescendo na África Ocidental, os chineses, por seu turno, têm procurado neutralizar tal influência através de joint-ventures com empresas africanas, sobretudo em Angola, STP e Cabo Verde, utilizando os laços linguísticos que têm com Macau.

“Para combater os EUA nos países lusófonos africanos, Pequim apelou à sua própria comunidade de negócios em Macau. A ex-colónia portuguesa é vista como bastante útil para a China devido inclusive ao facto de ser também uma região com bastante influência da Igreja Católica”, diz Huffington Post.

Entretanto, ficheiros secretos da diplomacia americana, divulgados pela Associated Press, confirmam a notícia do Huffington Post, ao referir que Pequim espera tirar proveito dos laços culturais e linguísticos que Macau possui com os PALOP, para "expandir os objectivos económicos e comerciais com as comunidades chinesas no exterior e criar uma plataforma estável para a China nesses países lusófonos como São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau”.

ENTRAR NO BRASIL

Neste jogo pelo domínio planetário – e no caso concreto da África Ocidental – todas as peças são trunfos. Para os EUA, o plano B para sobrepor-se aos yuans chineses é colar-se ao Brasil, país emergente e com fortes ligações linguístico-culturais com a África lusófona. “Estabelecer laços cordiais com Brasília pode ser um movimento astuto para Washington”, observa Nicoals Kosloff, para quem o governo de Dilma Roussef tem um importante papel a desempenhar neste domínio.

Seja como for, o facto é que, diante da nova ordem mundial, Cabo Verde volta a ser visto como país geo-estrategicamente bem posicionado, podendo daí tirar proveito e assumir uma função central no equilíbrio de forças nas relações Norte/Sul. O tema em si não é novo, mas o que está por advir sim.

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