Deutsche Welle
O primeiro passo
para o regresso à normalidade constitucional foi dado com o anúncio do
escrutínio para o final do ano. O apoio técnico e financeiro para a realização
de eleições foi já garantido pela União Europeia.
Bruxelas irá
assegurar as condições técnicas e financeiras para a realização das eleições
gerais na Guiné-Bissau. Falando aos jornalistas após a tomada de posse da nova
equipa dirigente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), liderada pelo juiz do
Supremo Tribunal de Justiça (STJ) Augusto Mendes, o representante da União
Europeia (UE) na Guiné-Bissau, Joaquim Gonzalez Ducay,
assegurou que a UE "vai apoiar técnica e financeiramente as
eleições gerais" que devem realizar-se até ao final de 2013.
Gonzalez Ducay não é presença habitual nas cerimónias ou atos oficiais das
autoridades de transição, que não são reconhecidas por Bruxelas, todavia esta
quinta-feira (13.06) Gonzalez Ducay sentou-se na primeira fila de convidados no
ato de posse dos novos dirigentes da CNE.
O que terá
contribuido para desbloquear o impasse nas relações entre Bruxelas e Bissau foi
a constituição de um Governo inclusivo, mas também a percepção da necessidade
de um novo quadro de compromisso dos parceiros internacionais.
Eleições não são
panaceia
O desafio maior na
Guiné-Bissau, nunca foi o de organizar eleições, para as quais os doadores
internacionais sempre mostraram vontade política e agiram rapidamente, o
verdadeiro problema do país é a fragilidade do Estado, nomeadamente a
instabilidade política recorrente, o défice democrático, a incapacidade das
instituições públicas, a insubordinação das Forças Armadas, a impunidade,
factores a que se soma o impacto de fenómenos transnacionais como o tráfico de
droga e a criminalidade organizada. A permeabilidade dos militares da classe
política ao narcotráfico acrescenta um elemento de maior volatilidade à já
complexa constelação guineense.
A
história recente da Guiné-Bissau, desde a independência, é um somatório de
desafios constantes à normalidade constitucional e instabilidade política, em
particular desde a guerra civil de 1998-1999. Golpes de estado, contragolpes e
intentonas, assassínios políticos e um padrão de desrespeito pelos direitos
humanos deixaram de ser a excepção e passaram a ser a regra. Nos dez anos a
política guineense passou a ser feita de arma em punho.
Golpes,
contragolpes e intentonas
Enumeremos: entre
1998 a 2013, a Guiné-Bissau elegeu dez primeiros-ministros, sem nenhum deles
ter concluido o mandato, teve três presidentes interinos em virtude dos
levantamentos militares, quatro chefes de Estado-Maior, todos afastados, sem
nenhum completar o mandato, por motins militares (e dois foram assassinados, em
funções, pelos militares), e três Presidentes.
Com este pano de
fundo o desenvolvimento têm sido repetidamente adiado e a Guiné-Bissau, um dos
países mais pobres do mundo apesar dos seus abundantes recursos naturais,
encontra-se hoje na cauda do Índice de Desenvolvimento Humano, ocupando 176ª
posição entre 186 países no relatório do PNUD relativo a 2013.
Dos aproximadamente
1.5 milhões de habitantes do país, 69.3% vive em situação de pobreza absoluta
(ou seja com um rendimento inferior a 2 dólares por dia), comparado com
49% em 1991.
A Guiné-Bissau pode
desaparecer como país
Face aos actuais
desafios com que o país se depara José Ramos Horta, Representante Especial das
Nações para a Guiné-Bissau, alertou, precisamento no dia em que se completava o
primeiro aniversário do mais recente golpe militar (12.04.12) que o país
enfrenta "uma ameaça existencial enquanto Estado".
À Guiné-Bissau, que
perdeu inúmeras oportunidades de travar o crescendo de violência e insegurança
e inverter a espiral de fragilidade e pobreza, resta uma via de saída da crise
crónica muito estreita que não pode ser dissociada da reforma do sector de
segurança e defesa.
Soluções de longo
prazo para a Guiné passam pela reforma das Forças Armadas
Em Março, a Missão
Conjunta de Avaliação CEDEAO/UA/CPLP/UE/ONU na Guiné-Bissau, reconheceu a
necessidade imperiosa de soluções de longo prazo para "os problemas da
impunidade, das violações dos direitos humanos e da intrusão repetida do
exército na vida política do país que se colocam há muito tempo".
A Comunidade
Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) irá disponibilizar de
imeadiato para a Guiné-Bissau 9,2 milhões de dólares (6,9 milhões de euros)
para apoiar o programa de reforma do sector de defesa e segurança. A verba que
deve chegar a Bissau o mais tardar na próxima terça-feira (18.06) faz parte de
um envelope de 63 milhões de dólares (47,3 milhões de euros) que a CEDEAO
prometeu entregar às autoridades guineenses para a reforma do sector
militar.
Os analistas
reconhecem a necessidade de reduzir consideravelmente as Forças Armadas ( há
actualmente mais oficiais do que soldados), repensar o papel destas na
construção de um Estado democrático e dotar o Fundo de Pensões com a verba
prometida.
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