sexta-feira, 14 de junho de 2013

Portugal: O FMI E O “HORROR SEM FIM”




Henrique Monteiro – Expresso, opinião

Não sei se já aqui citei uma frase do Wall Street Journal segundo a qual países como Portugal (e outros da Europa) tinham de "escolher entre um final horroroso ou um horror sem fim". À força de tanto escrever perco-me, e é natural que me esteja e repetir. Se é o caso peço desculpa, mas o relatório do FMI agora divulgado veio retirar quaisquer dúvidas: o que vamos ter é, provavelmente, um horror sem fim.

Além dos cortes - cerca de 10% em salários e pensões do setor público, porque são, de facto, a maior fatia da despesa - percebemos que para lá de 2014, altura em que a troika larga o país, continuamos - por assim dizer - troikados. Mais, tendo o FMI compreendido e alertado não só para a subida galopante da dívida (o que aqui já dissera, pelo que a considero impagável) como para a degradação constante das condições políticas no nosso país, no que têm absoluta razão, o nosso destino torna-se ainda mais negro.

Sobretudo, quando nas pequenas contrapartidas, como a baixa do preço da eletricidade e das telecomunicações não se vê nada... 

Que se pode fazer para contrariar este destino (e não me refiro às frases grandiloquentes, mas sem qualquer substância, tipo troika fora de Portugal, não pagamos, ou que se lixe a troika)? Poderíamos fazer verdadeiras reformas. Mas para isso seria necessário que PSD, CDS e PS se entendessem.

Porém, se isso já era quase impossível, com as eleições autárquicas marcadas para 29 de setembro isso vai ser cada vez mais difícil. O país fica em segundo plano e as lágrimas pelo milhão de desempregados vão servir de tema da campanha. Mas não se vai dar qualquer passo no sentido de uma reforma que ponha as contas nacionais nos eixos, que coloque a dívida no seu caminho certo e que requalifique a estrutura produtiva do país.

Vai falar-se de crescimento como se fala da alma dos crentes: uma coisa que pode existir, mas que ninguém vê. De resto, os partidos vão-se insultar e responsabilizar-se mutuamente pela desgraça e o povo, em grande parte, vai abster-se. No fim, não se chegará a nenhuma conclusão, salvo que o PSD está desgastado e que a extrema-esquerda - PCP, sobretudo - se reforçou. É então altura de aprovar o Orçamento e de voltarmos à conversa do dinheiro.

Confesso que já não esperava elogiar o Presidente da República, mas a verdade é que ele tem razão. Se os partidos não discutem o pós-troika e não chegam a um compromisso mínimo sobre o modelo de Estado e de país que querem, as coisas vão correr mal. Vai ser o horror sem fim.

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