Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Não sei se já aqui
citei uma frase do Wall Street Journal segundo a qual países como Portugal (e
outros da Europa) tinham de "escolher entre um final horroroso ou um
horror sem fim". À força de tanto escrever perco-me, e é natural que me
esteja e repetir. Se é o caso peço desculpa, mas o relatório do FMI agora
divulgado veio retirar quaisquer dúvidas: o que vamos ter é, provavelmente, um
horror sem fim.
Além dos cortes -
cerca de 10% em salários e pensões do setor público, porque são, de facto, a
maior fatia da despesa - percebemos que para lá de 2014, altura em que a troika larga
o país, continuamos - por assim dizer - troikados. Mais, tendo o FMI
compreendido e alertado não só para a subida galopante da dívida (o que aqui já
dissera, pelo que a considero impagável) como para a degradação constante das
condições políticas no nosso país, no que têm absoluta razão, o nosso destino
torna-se ainda mais negro.
Sobretudo, quando
nas pequenas contrapartidas, como a baixa do preço da eletricidade e das
telecomunicações não se vê nada...
Que se pode fazer
para contrariar este destino (e não me refiro às frases grandiloquentes, mas
sem qualquer substância, tipo troika fora de Portugal, não pagamos,
ou que se lixe a troika)? Poderíamos fazer verdadeiras reformas. Mas para
isso seria necessário que PSD, CDS e PS se entendessem.
Porém, se isso já
era quase impossível, com as eleições autárquicas marcadas para 29 de setembro
isso vai ser cada vez mais difícil. O país fica em segundo plano e as lágrimas
pelo milhão de desempregados vão servir de tema da campanha. Mas não se vai dar
qualquer passo no sentido de uma reforma que ponha as contas nacionais nos
eixos, que coloque a dívida no seu caminho certo e que requalifique a estrutura
produtiva do país.
Vai falar-se de
crescimento como se fala da alma dos crentes: uma coisa que pode existir, mas
que ninguém vê. De resto, os partidos vão-se insultar e responsabilizar-se
mutuamente pela desgraça e o povo, em grande parte, vai abster-se. No fim, não
se chegará a nenhuma conclusão, salvo que o PSD está desgastado e que a
extrema-esquerda - PCP, sobretudo - se reforçou. É então altura de aprovar o
Orçamento e de voltarmos à conversa do dinheiro.
Confesso que já não
esperava elogiar o Presidente da República, mas a verdade é que ele tem razão.
Se os partidos não discutem o pós-troika e não chegam a um compromisso
mínimo sobre o modelo de Estado e de país que querem, as coisas vão correr mal.
Vai ser o horror sem fim.
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