Maputo, 15 out
(Lusa) - Um ano após ter regressado ao antigo quartel da guerrilha da Renamo,
na Gorongosa, centro de Moçambique, o líder do ex-movimento rebelde e agora
principal partido da oposição moçambicana mantém as ameaças e a pressão sobre o
Governo de Maputo.
Há um ano, Afonso
Dhlakama trocou a sua moradia, construída no templo colonial, na rua Filipe S.
Magaia, em Nampula, por uma casa de tipo maticada - barro, cimento e palha - em
Santundjira, uma antiga base perto da Vila da Gorongosa, sem água nem energia e
com grandes dificuldades na receção de sinal de telemóvel.
E não tardou muito
para que o drama político também se mudasse para aquela zona.
Ao regressar ao
mato onde funcionou a antiga base da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo),
movimento que dirige desde 1979, Dhlakama disse dar "um sinal que pretende
estar ao lado daqueles que lutam" pela democracia multipartidária,
"ameaçada pelas atitudes" da Frente de Libertação de Moçambique
(Frelimo), o partido no poder.
A Renamo contesta a
lei eleitoral e a "crescente partidarização" do Estado e das Forças
Armadas pela Frelimo, entre outras queixas.
Poucos meses
depois, os primeiros ataques, que causaram diversos mortos, alteraram a
fisionomia do pacificado centro de Moçambique, que passou a estar vigiado por
polícias de elite e colunas militares e rondado por patrulhas de "homens
armados", o habitual eufemismo que designa os ex-guerrilheiros da Renamo.
A principal estrada
do país está, desde março, cortada num troço de 200 km, com o tráfego sujeito a
escolta militar.
De então para cá, o
entusiasmo com uma economia que cresce a uma média de 7,5% ao ano, e com
recursos minerais que parecem inesgotáveis passou a ser refreado com o
"fator Renamo", e os investidores, dos pequenos vendedores
portugueses de vinho, às multinacionais do carvão, habituaram-se à pergunta dos
jornalistas: "Como é que a tensão política está a afetar o seu
negócio?".
O regresso à guerra
é um espetro que se serve em doses diárias nos jornais e rádios do país, na
maioria dos casos, com o dedo apontado à Renamo e ao seu líder.
Num artigo
publicado esta semana pela Chatham House, a investigadora portuguesa Elisabete
Azevedo-Harman desvaloriza a possibilidade de guerra, uma vez que "a
Renamo não desfruta do mesmo apoio externo" de antigamente, mas divide as
culpas pelos dois principais partidos moçambicanos.
"A Renamo não
é a única causadora desta crise. A Frelimo tem que reconhecer algumas das
queixas levantadas pela Renamo. Há um crescente descontentamento com a
hegemonia do partido e suspeitas de ligações lucrativas entre membros do
partido e esferas na economia", escreveu a investigadora.
Na quinta-feira, a
pouco mais de um mês das eleições autárquicas, às quais a Renamo não só não
concorre como ameaçou boicotar e não reconhecer os novos dirigentes nelas
eleitos, Dhlakama fará uma aguardada comunicação ao país.
Na próxima semana,
o chefe de Estado, Armando Guebuza, inicia uma presidência aberta em Sofala,
visitando locais nas cercanias da base da Gorongosa.
Um encontro entre
os dois, Guebuza e Dhlakama, parece ser o acontecimento mais desejado nos dias
que correm em Moçambique.
LAS // VM - Lusa
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