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funcionários na inteligência norte-americana premiam Snowden em Moscou. Comitê
para Proteção de Jornalistas compara Obama a Nixon
Cauê Seignemartin
Ameni – Outras Palavras, em Blog da Redação
Sumido desde
agosto, após despistar o governo norte-americano e conseguir
asilo político na Rússia, o ex-analista de sistema da Agência Nacional de
Segurança (NSA), Edward Snowden reapareceu quarta-feira passada (09/10) em cerimônia
organizada por ex-agentes da inteligência norte-americana, críticos assíduos da
vigilância estatal.
Responsável por revelar
o maior esquema de espionagem em massa da história, Snowden recebeu o prêmio Sam Adams
Awards, oferecido pela associação Sam Adams Associates for Integrity in
Intelligence. A associação reúne agentes aposentados da segurança nacional
norte-americana e premia, anualmente, profissionais do serviço de inteligência
que tenham se distinguido pela integridade ética. Uma comissão composta por Ray
McGovern, ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA); Coleen Rowley,
ex-agente do FBI; Jesselyn Radack, ex-autoridade no Departamento de Justiça; e
Thomas Drake, ex-alto funcionário da NSA, se deslocou dos Estados Unidos à
Rússia para homenagear o mais novo inconfidente. Uma ironia: o país é presidido
pelo ex-espião do KGB, polícia secreta da antiga União Soviética, Vladimir
Putin.
Vídeos do encontro
foram postados no portal do Wikileaks, na madrugada do sábado
(12/10). Neles, o ex-analista foragido, acusado pela corte norte-americana de
violar a Lei de Espionagem, em vigor desde 1917, no final da
Primeira Guerra Mundial, voltou a apontar a hipocrisia do governo, que insiste
em perseguir “alguém que diz a verdade”, enquanto se “nega a processar altos
funcionários que mentiram ao Congresso e ao país”.
Com clareza
política, o jovem esmiuçou a falta de transparência do governo: “é uma
tendência que se verifica na relação entre governantes e governados, nos
Estados Unidos, e cada vez mais conflitante com o que espera um povo livre e
democrático. Se não podemos entender as políticas e programas do nosso governo,
não podemos dar consentimento para sua regulação”.
Snowden deixou
claras as diferenças entre a legalidade das instituições e a ilegalidade
praticada por elas: “existe um grande abismo entre os programas legais, a
espionagem legítima, a polícia legítima, e um tipo de vigilância em massa que,
sem necessidade, põe toda a população sob a vigilância de um grande olho que vê
tudo”.
O prêmio, que em
2010 foi dado ao Wikileaks e Julian Assange, leva o nome de Samuel A.
Adams, ex-analista da CIA reconhecido por acusar oficiais militares da
Guerra do Vietnã de subestimar, com fins políticos, a força do inimigo. A
ex-agente Collen
Rowley, presente na cerimônia, foi a primeira a ser premiada, em 2002, por
denunciar o descaso das agências de segurança na investigação de evidências sobre
o planejamento do ataque de 11/09/2001.
O ex-agente da NSA Thomas
Drake, quarto whisteblower na história dos EUA, conseguiu em 2011, após
intensa briga judicial, fazer com que o governo retirasse as principais
acusações contra ele. Ao depor semana retrasada no Comitê de Liberdades Civis,
Justiça e Assuntos Internos do Parlamento Europeu, acusou os Estados Unidos de
utilizar o manual da Stasi, antiga polícia secreta da Alemanha Oriental, como
modelo para seu próprio regime de vigilância patrocinado pelo Estado.
De mal a pior
Enquanto isso, no
outro lado do Pacífico, Obama continua recebendo duras criticas. O Comitê para
Proteção de Jornalistas (CPJ) apontou, em relatório apresentado na quinta-feira (10/10),
a crescente ameaça à liberdade de imprensa no país. Nele, o relator Leonard
Downie Jr, ex-diretor executivo do Washington Post, afirma que “a guerra do
governo aos vazamentos e outros esforços para controlar as informações são os
mais agressivos desde a administração Richard Nixon, quando eu era um dos
editores envolvidos na investigação do caso Watergate no Washington Post”. O
documento cita declarações de profissionais importantes do The New York Times
(NYT), maior jornal do país, como a do repórter de segurança nacional, Scott
Shane, quando afirma que as fontes estão “morrendo de medo.”
De acordo com o
relatório, houve apenas três processos desse tipo em todas as administrações
dos EUA anteriores a Obama. Sob o democrata, porém, seis funcionários do
governo e dois prestadores de serviços, incluindo Edward Snowden, já foram alvo
de processos criminais pela Lei de Espionagem, e ainda há investigações sobre
vazamentos em andamento. Para James Goodale, advogado geral do NYT durante as
lutas épicas contra a administração Nixon, “Obama vai passar Richard Nixon como
o pior presidente em questões de segurança nacional e liberdade de imprensa”.
O relatório observa
a ironia de Obama ter prometido, em campanha, inaugurar a administração mais transparente jamais vista. Pelo contrário, lembra Glenn Greenwald, repórter investigativo do The
Guardian. “Em 2006, quando eu estava escrevendo a respeito dos ataques do governo Bush à liberdade de imprensa, o foco
estava em meras ameaças, gerando revolta entre vozes progressistas. Com esse
relatório [do Comitê para Proteção de Jornalistas], passamos da esfera das
meras ameaças a uma realidade inegável – e o silêncio é tão ensurdecedor quanto
é claro o perigo”.
Nessa questão,
assim como nos infelizes ataques de drones no Oriente Médio, parece que, de
Bush a Obama, tudo mudou para continuar igual – ou ainda pior.
Na foto: Edward
Snowden ao lado ex-funcionários do governo dos EUA Coleen Rowley (ex-FBI),
Thomas Drake (ex-NSA), Jesselyn Raddack, Sarah Harrison do Wikileaks e Ray
McGovern (ex-CIA).
*Caue Seigne Ameni
é estudante de Ciências Sociais da PUC-SP, pesquisador do NEAMP, editor do Outras Palavras e operador da loja
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